7 de Setembro: tempo moldou comemorações do Dia da Independência no Recife
Festejos estavam atrelados às celebrações dos imperadores, com forte presença dos militares
Publicado: 06/09/2025 às 07:00

Desfile de 7 de Setembro no Recife (Foto: Divulgação/Casa Militar)
Os desfiles de 7 de setembro no Recife foram, por quase um século, espetáculos cívicos de larga escala que misturavam demonstração militar, rito escolar e festa popular, uma coreografia pensada para mostrar ordem, educação e pertença à nação.
No Império, a data foi incorporada ao calendário cívico com rituais religiosos, salvas militares, iluminações e desfiles que buscavam afirmar a autoridade do novo Estado. Estas cerimônias eram centradas no Rio de Janeiro, com orações na catedral, cortejos e paradas.
“O 7 de Setembro nem sempre foi essa festa que nós temos hoje. Ou seja, nos primeiros anos do Brasil Império, no primeiro reinado principalmente, o 7 de Setembro passou de maneira um tanto morna, porque a grande data a ser comemorada era justamente o 12 de outubro, que era o dia do nascimento do imperador Dom Pedro I e também o dia de sua aclamação. Essa era uma data festiva muito grande em todo o Brasil, porque os calendários festivos da época basicamente se dividiam em dois: as festas cívicas e as festas religiosas”, explica o professor de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Wellington Barbosa.
No Recife, no começo do século XX, as comemorações locais ganharam corpo com exposições, cerimônias públicas e ampla cobertura da imprensa, que transformava o feriado em evento urbano central. A abertura das celebrações do centenário, por exemplo, em 7 de Setembro de 1922, esteve ligada à Exposição Internacional do Centenário.
A partir dos anos 1930 a comemoração no Recife incorporou os procedimentos que se tornariam padrão nacional durante o Estado Novo, como a “Semana da Pátria” (1.º a 7 de setembro), juramentos à bandeira, desfiles escolares e massificação do canto coral (o chamado canto orfeônico) nas cerimônias públicas.
Nesse período, a hierarquização do cortejo (bandas marciais, fanfarras escolares, colunas de associações e, por fim, a tropa) passou a ser instrumento pedagógico e de formação cívica, com o Estado articulando currículo escolar e rituais cívicos para promover um sentimento de unidade nacional.
No Recife urbano do meio do século XX, o desfile assumiu uma forma bem reconhecível, com concentração de escolas e bandas pela manhã, palanque para autoridades, revista às tropas e passagem ordenada pelos pelotões. A Avenida Conde da Boa Vista foi, por décadas, o eixo mais associado a essa parada cívica, comemorada com arquibancadas improvisadas, arcos e faixas.
A avenida e outras vias centrais eram ocupadas por estudantes, corporações civis e contingentes militares nas décadas de 1960 e 1970, quando o cortejo ainda era uma das principais manifestações públicas do calendário recifense.
Os elementos visuais e sonoros dos antigos desfiles eram decisivos para o efeito público, com bandeiras nacionais e municipais, coreografias de fanfarras, orquestras escolares e coros que entoavam hinos e marchas transformavam a rua em palco de representação cívica.
Havia também uma presença simbólica que incluía juramento coletivo da bandeira pelas crianças, entrega de condecorações em palanques e, em ocasiões especiais, demonstrações de meios navais ou aéreos organizadas por forças militares com atuação local.
A logística e o local dos desfiles mudaram com o tempo. Por um longo período realizados no centro da cidade (na Av. Conde da Boa Vista e áreas adjacentes), os desfiles passaram por relocação em função de critérios operacionais, de segurança e de capacidade de público. Houve mudança para avenidas como a Cruz Cabugá em certos anos e, mais recentemente, transferência em 2013 para a Avenida Mascarenhas de Moraes, na Imbiribeira.
“Hoje há um desfile cívico-militar, mas muito mais o desfile militar, porque essa festa sempre esteve, de certa forma, sob a tutela das forças armadas, ainda que abra-se um espaço para a sociedade civil também demonstrar o seu regozijo pela data. Mas, anteriormente, no Brasil Império, era uma festa muito mais rebuscada, com criação de arquiteturas efêmeras, que funcionavam somente durante a festa”, pontua o professor Wellington.
Apesar disso, o historiador destaca que os desfiles sempre abrangeram manifestações culturais. “Havia a participação de manifestações culturais locais, de irmandades, de associações leigas, que acabavam sendo de certa forma incorporadas às celebrações. Era uma forma de dizer que a festa era de todos, e não apenas dos militares.”
Escolas marcam presença
A participação escolar sempre foi o coração desses desfiles antigos, que participam com bandas marciais, fanfarras, pelotões de escoteiros e grupos culturais das escolas ocupavam a primeira parte do cortejo, articulando educação, disciplina e espetáculo.
Nos anos do regime autoritário e até depois da redemocratização, as escolas mantiveram papel central no formato do desfile, sendo responsáveis por grande parte da coreografia e do repertório musical que compunha a cerimônia.
Com o passar das décadas, a natureza do 7 de Setembro no Recife foi se abrindo, pois a presença estrita do poder e do aparato militar passou a conviver com manifestações civis.
O historiador Wellington Barbosa comenta que as comemorações desta data perderam a força com o passar do tempo.
“Em geral, era uma festa da monarquia, para a monarquia se mostrar. E a partir daí, tentar construir uma identidade nacional para todo o Brasil. Essas comemorações de 7 de Setembro tiveram um rápido declínio a partir da década de 1960, pelo menos que se refere a esse apelo nacionalista”, conclui.

