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TARIFAÇO

Mauro Vieira cita 'conluio ultrajante' e diz que Brasil não vai ceder a Trump

Mauro Vieira denuncia articulação internacional contra democracia e rejeita interferência dos EUA nos processos contra Bolsonaro

Estadão Conteúdo

Publicado: 04/08/2025 às 15:51

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fala sobre a execução do cidadão brasileiro Marco Archer na Indonésia. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fala sobre a execução do cidadão brasileiro Marco Archer na Indonésia. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta segunda-feira, dia 4, que o governo brasileiro não vai ceder a pressões do governo Donald Trump, pelo fim de processos do golpe contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, às quais qualificou como "exigências inaceitáveis". Ele afirmou que os "ataques" vindos dos Estados Unidos foram orquestrados por um "conluio ultrajante" formado por brasileiros e forças estrangeiras.

O ministro falou em tom acima do usual para suas declarações em geral protocolares e mirou na campanha promovida por opositores nos EUA, sobretudo o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, e o comentarista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente João Batista Figueiredo, último general a comandar a ditadura no País.

"Saudosistas declarados do arbítrio e amantes confessos da intervenção estrangeira não terão êxito em sua tentativa de subverter a ordem democrática e constitucional da República Federativa do Brasil", disse o embaixador Vieira.

O chanceler discursou no Palácio Itamaraty, durante cerimônia de celebração dos 80 anos do Instituto Rio Branco, ao lado dos ministros Camilo Santana (Educação) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), além do assessor especial da Presidência da República Celso Amorim. O discurso marca uma clara escalada de tom por parte do ministro das Relações Exteriores.

Vieira afirmou que era preciso agir com "firmeza e inteligência" na defesa dos interesses nacionais e que o fazia "em memória da geração de brasileiros que derrotaram o arbítrio". Ele citou Ulisses Guimarães, Renato Archer, Celso Amorim e Lula.

"Tenho enorme orgulho e sentido de responsabilidade na atual tarefa de liderar o Itamaraty na defesa da soberania brasileira de ataques orquestrados por brasileiros em conluio com forças estrangeiras. Nesse ultrajante conluio que tem como alvo nossa democracia, os fatos e a realidade brasileira não importam para os que se erijam de um veículo antipatriótico de intervenções estrangeiras", disse o ministro. "A Constituição cidadã não está e nunca estará em qualquer mesa de negociação. Nossa soberania não é moeda de troca diante de exigências inaceitáveis."

O embaixador que chefia o Itamaraty também rebateu a ideia de perseguição ou "caça às bruxas" como Trump se referiu ao processo contra o ex-presidente Bolsonaro, o que motivou também sanções a ministros da Suprema Corte, em especial com base na lei Magnitsky, um cero financeiro ao relator da ação penal, Alexandre de Moraes.

"Sejamos claros, nossa sociedade democrática e suas instituições derrotaram uma tentativa de golpe militar cujos responsáveis estão hoje no banco dos réus em processos transparentes transmitidos pela TV em tempo real com direito a ampla defesa e com pleno respeito ao devido processo legal", rebateu o chanceler.

Mauro Vieira não quis responder se tinha agendadas novas interlocuções com o governo dos EUA. "Estou mudo", disse o ministro, que na semana passada reuniu-se em Washington pela primeira vez com o secretário de Estado, Marco Rubio.

O ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Presidência, desconversou sobre a possibilidade de um telefonema entre Trump e Lula. "Não sei", respondeu a jornalistas.

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