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Política
ELEIÇÕES 2026

Lula usa "polarização social" para mobilizar população e barrar avanço da direita no Congresso em 2026

Ao Diario, cientistas políticos avaliam os impactos eleitorais dos embates entre Legislativo e Executivo sobre veto ao decreto do IOF e aumento no número de deputados

Guilherme Anjos

Publicado: 07/07/2025 às 06:00

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva/Ricardo Stuckert / PR

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (Ricardo Stuckert / PR)

Diante da oposição incapacitante que o Executivo vem sofrendo no Congresso Nacional, cientistas políticos avaliam que o presidente Lula (PT) tem utilizado de seu momento de fragilidade para aderir a pautas mais sociais visando recuperar popularidade e impedir o avanço da direita no Legislativo nas próximas eleições.

Recentemente, desde o veto ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o petista e seu grupo político tem movimentado as ruas e as redes sociais com discursos de “pobres x super ricos”, e “nós contra eles”, se apropriando da desigualdade de tributação entre a classe alta e as demais camadas da população brasileira.

Na avaliação do cientista político Alex Ribeiro, mais do que antecipar o pleito, Lula ainda tenta preservar sua governabilidade no atual mandato, enfrentando um Congresso assumindo uma postura cada vez mais adversária. A falta de uma liderança governista convincente pode ser a raiz do problema.

“Uma base aliada formal não é o bastante. Sem uma articulação estratégica e uma liderança eficaz na Câmara, a agenda presidencial corre o risco de estagnar, e sucessivas derrotas legislativas podem desgastar não só o governo, mas também sua capacidade de governar”, afirmou o especialista.

Com a crise entre os poderes, resta ao presidente recorrer ao povo. “A volta do discurso ‘nós contra eles’ do PT é uma tentativa de preservar um protagonismo político, movimentar sua base e expandir seu discurso para outros nichos eleitorais. Antes de afirmar que é uma antecipação do conflito político visando as eleições de 2026, Lula tenta ter como principal objetivo garantir estabilidade até o fim do seu mandato”, analisou.

 

Um "ano perdido" para Lula

Já para o cientista político Paulo Ramirez, o restante do mandato de Lula é um “ano perdido”, e o foco da movimentação popular é melhorar a popularidade da gestão e barrar a formação de um Congresso ainda mais conservador.

“O que o Lula está fazendo é visando as eleições do próximo ano. A ingovernabilidade já está no ar, o que a gente chama de paralisia decisória. Temos oito ou nove meses até o período em que os políticos tendem a sair dos seus cargos para as eleições. O tempo político se esgotou. A única alternativa de Lula é promover mais críticas a este grupo, tentar aumentar o número de congressistas e buscar a reeleição”, disse.

Ramirez compara a atual estratégia de Lula a do presidente da Colômbia, Gustavo Petro. “A partir de uma minoria no Congresso, grandes críticas eram feitas a Petro dentro dos meios de comunicação e nas redes sociais. Petro fez a mobilização nas ruas, da população junto às redes sociais, já que o Congresso é tomado principalmente por conservadores. E com essa pressão popular ele conseguiu fazer aprovar uma reforma fiscal e a reforma trabalhista”, declarou Ramirez.

“Lula tenta seguir mais ou menos esse padrão, esse molde, colocando a mobilização das ruas, fazendo críticas à oposição, porque quanto mais pressionado fica o Congresso, obviamente que acabam aderindo a certas pressões populares”, complementou.

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