Cinema Pela primeira vez na direção, Camila Pitanga relembra a carreira do pai no documentário Pitanga Delicado e divertido, filme sobre Antonio Pitanga é uma viagem afetuosa pela vida do ator

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 24/04/2017 11:37 Atualizado em: 26/04/2017 13:12

Sempre em cena, Antonio Pitanga conversa e brinca com os entrevistados. Foto: Matheus Brant/Divulgação
Sempre em cena, Antonio Pitanga conversa e brinca com os entrevistados. Foto: Matheus Brant/Divulgação

Certas obras exigem distanciamento dos realizadores em relação aos objetos de análise ou personagens abordados, sob o risco pender para o tendencioso ou parcialismo. Pitanga, documentário sobre o ator Antonio Pitanga, idealizado pela filha, Camila, por outro lado, tem como grande trunfo a proximidade entre as duas partes. O filme, em cartaz no Cinema da Fundação/Museu (Av. Dezessete de Agosto, 2187, Casa Forte), é destaque em uma semana morna de estreias no cinema.

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Apesar de ter uma exibição restrita essencialmente ao circuito alternativo, o longa-metragem tem potencial de sobra para agradar o grande público, com um personagem cativante, de trajetória surpreendente, e uma narrativa bastante afetiva. Não por acaso, o documentário saiu vencedor do júri popular na Mostra de Cinema de Tiradentes 2017.

Estreante na direção, Camila Pitanga divide a tarefa com o experiente Beto Brant (O invasor), entregando um documentário que não se propõe a narrar profunda ou linearmente a história de Antonio Pitanga. A extensa carreira, iniciada nos anos 1960, e com passagens pelo cinema, teatro e televisão, não poderia ser sintetizada ao longo de cerca de duas horas de projeção. Mais interessante, a escolha foi colocar o próprio Pitanga em cena com várias das pessoas participaram (e participam) da sua longa jornada como ator.

O clima do filme é o de uma conversa animada. Sempre falante e divertido, Pitanga consegue arrancar risos dos entrevistados enquanto rememora passagens marcantes da carreira. Tudo em tela parece espontâneo e orgânico, não há formalismo e, sim, intimidade, como quando a cantora Maria Bethânia, ex-namorada dele, entre gargalhadas, diz "nunca vi mais namorador do que esse rapaz". Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, José Celso Martinez Corrêa, Hugo Carvana e Tonico Pereira são outros dos colegas que participam do filme. Ao todo, dos diretores registraram mais de 90 horas de conversas.

O clima ameno e descontraído não desvia a atenção sobre a importância de Antonio Pitanga para o audiovisual brasileiro, desde a estreia nos cinemas em Bahia de todos os santos (1960), de Trigueirinho Neto. "Revisitar essa cinematografia, foi muito importante para mim, inclusive como atriz. Saiu da esfera da filha, me tocou e me atravessou como ser humano, como artista e cidadã brasileira", diz Camila Pitanga.

A filha e diretora destaca a relevância e atualidade vista nas falas de vários papéis de Antonio Pitanga, um dos atores favoritos de Glauber Rocha. "Ele mistura o homem e os personagens", diz Camila Pitanga. "São discursos que seriam ditos marginais, do oprimido, de quem está criticando a sua realidade", afirma. Engajado no movimento negro, o ator levou para muitas obras o caráter de resistência, como na montagem da peça Memórias de um sargento de milícias (1966) apenas com atores negros.

Camila aponta "sincronicidade entre os personagens que ele fez e as suas noções de política". "Essa trajetória artística é intimamente ligada a esse homem, ao negro em movimento, à afetividade, a esse cinema que dialogava com o desbunde, com a liberdade", define a atriz e diretora.

*Filme visto na Mostra de Cinema de Tiradentes


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