Estreia
Pedro Almodóvar esbanja elegância no filme Julieta, que está em cartaz nos cinemas
Cineasta volta ao estilo de obras como Volver (2006) e Tudo Sobre Minha Mãe (1999). Julieta está em cartaz no UCI Recife, Cinema do Museu e Moviemax Rosa e Silva
Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco
Publicado em: 07/07/2016 09:05 Atualizado em: 07/07/2016 14:25
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| Adriana Ugarte interpreta Julieta na fase mais jovem. Fotos: Universal/ Divulgação |
Depois de escrachar no humor com Os amantes passageiros (2013) e de dialogar com o horror em A pele que habito (2011), Pedro Almodóvar volta a buscar um equilíbrio mais delicado com Julieta, em cartaz a partir de hoje em três cinemas do Recife. No novo filme, o querido cineasta espanhol exercita a elegância ao reaproximar-se do estilo de Tudo sobre minha mãe (1999), Fale com ela (2002) e Volver (2006), obras de uma fase menos escandalosa, mais feminina e de maior sucesso.
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Retratada em quatro fases distintas entre a década de 1980 e os dias atuais, a personagem do título é interpretada pelas atrizes Emma Suárez e Adriana Ugarte (mais jovem). A mãe e a filha da protagonista também são essenciais para a trama, o que proporciona um olhar sobre as relações afetivas de três gerações de mulheres de uma mesma família.
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| Emma Suarez vive Julieta nos tempos atuais |
Um tom de mistério atravessa toda a história. A recorrente influência de Alfred Hitchcock sobre Almodóvar está mais uma vez bastante presente, apesar de não ficar claro se há algum crime a ser desvendado (Patricia Highsmith, autora do livro O talentoso Ripley, também é uma referência explícita). O que existe é um clima de desconfiança no ar, já que os personagens, motivados por sentimentos de culpa, parecem sempre esconder segredos. As revelações bombásticas surgem aos poucos ao longo dos capítulos, de forma que seja mais recomendável assistir ao filme sem saber nenhum detalhe (o próprio trailer é bastante cuidadoso nesse aspecto).
Julieta é uma professora de mitologia grega que apaixona-se por um pescador durante uma viagem de trem. O sensual encontro entre os dois amantes é narrado três décadas depois em forma de flashback após as cenas iniciais em que ela escreve uma carta para uma filha com quem não se encontra há anos. Morte, doenças e separações costuram a vida dos personagens, que percebem-se ligados ou desligados entre si a partir dessas experiências traumáticas.
A relação entre os segredos e os sentimentos de culpa é um dos principais pontos de tensão de Julieta. O medo de que o outro descubra algo escondido é retratado como um compreensível comportamento humano. Todos podem ter o direito ou razões para ocultar uma verdade, mas as consequências desse gesto serão sempre um perigoso risco a ser assumido. A atriz Rossy de Palma (presente em outros seis filmes de Almodóvar) personifica o tema ao interpretar uma senhora fofoqueira, uma espécie de bruxa hitchcockiana que terá uma inconveniente interferência determinante para os desdobramentos das intrigas. No papel de uma artista plástica, Inma Cuesta também tem uma participação pontual e essencial, seja por representar o poder construtivo da cumplicidade entre as mulheres ou por construir simbólicas esculturinhas de homens com o pênis cortado.
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| Rossy de Palma volta a trabalhar com Almodóvar |
Um vermelho profundo explode já na cena inicial. A utilização das cores por Almodóvar já foi do exagero à harmonia ao longo da filmografia do diretor. Desta vez, ele pode praticar as duas coisas, já que as cenas ambientadas na década de 1980 permitem um retorno mais assumido ao kitsch, enquanto os dias mais recentes são mais marcados pela classe. É algo presente na cultura espanhola que o diretor sempre soube amplificar e aproveitar dramaticamente.
Julieta é baseado em três contos da escritora canadense Alice Munro, que venceu o Prêmio Nobel de Literatura em 2003.
Veja o trailer do filme:
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