Vídeo Sucesso no YouTube, Amigo Gringo mostra o interior de Pernambuco para o mundo Cidades do estado são as primeiras do programa de ex-colunista do The New York Times

Por: Tiago Barbosa

Publicado em: 05/06/2016 15:06 Atualizado em: 05/06/2016 14:05

Programa de Seth Kugel é assinado por mais de 250 mil pessoas no canal de vídeos. Foto: Seth Kugel/Divulgação
Programa de Seth Kugel é assinado por mais de 250 mil pessoas no canal de vídeos. Foto: Seth Kugel/Divulgação

Relatos de viagens de estrangeiros em expedição pelo Brasil marcam a história do país desde as descrições exóticas feitas por navegadores do século 16 sobre uma terra sem lei habitada por selvagens canibais e propensos à libertinagem.

O olhar forasteiro - em parte sonegado pela pátria-mãe Portugal por anos sob receio de fomentar cobiça pela então colônia - ajudou a erigir as bases da identidade do brasileiro enquanto povo e nação. A produção de diários de rota, embora ainda explore particularidades dos lugares percorridos, ganhou novas funções e formatos na era das redes sociais e passou a engordar o filão bem-sucedido de canais de vídeo e programas de tevê destinados a descobrir, documentar e estimular o conhecimento sobre cidades e estados - daqui ou do exterior.

Dos nacionais O mundo segundo os brasileiros (disponível na Netflix) e Expresso Brasil (exibido na TV Cultura) ao inglês One Brazil with Michael Palin (Um Brasil com Michael Palin, da BBC), as produções se esmeram para mostrar os modos de vida e as características sociais, paisagísticas e econômicas locais a partir de experiências vivenciadas pelos apresentadores e do ponto de vista dos moradores.

Criador em 2014 do Amigo Gringo, espaço de dicas para brasileiros interessados em conhecer Nova York e um dos canais de viagem em língua portuguesa com maior número de assinantes (mais de 250 mil) no YouTube, o ex-colunista do The New York Times Seth Kugel montou uma nova vitrine para exibir a cultura brasileira.

O Amigo Gringo no Interior pretende passar por cidades do Brasil profundo, distantes dos principais centros urbanos do país, escolhidas através de convites feitos pelos espectadores dos vídeos. Os primeiros municípios na rota, pinçados entre mais de 300 pedidos recebidos, são todos do Sertão pernambucano: Salgueiro, Flores, Triunfo e Petrolina. (Veja vídeos no fim da matéria)

"Escolhemos essas cidades porque lá moram nossos fãs, e eles as descreveram de forma atrativa. As melhores viagens são para onde uma pessoa tem amigos, não necessariamente os lugares chiques que todo mundo quer conhecer. Qualquer lugar tem cultura interessante quando se sabe onde procurar. E o Nordeste tem demais”, diz Seth.

Produtores do programa conheceram artigos da cultura nordestina. Foto: Seth Kugel/divulgação
Produtores do programa conheceram artigos da cultura nordestina. Foto: Seth Kugel/divulgação

A predileção por localidades menos assíduas nos roteiros turísticos tradicionais é um traço comum à safra de canais de vídeo e programas televisivos de viagens mais afeitos a rotas alternativas, em muitos casos definidas com base em experimentos pessoais detalhados em blogs. Em paralelo ao próprio YouTube, os relatos online são um dos principais balizadores na hora de os turistas decidirem qual destino pretendem conhecer. "A gente faz online o que custaria mil vezes para fazer na tevê, e com mais flexibilidade. A internet facilita a troca de ideias, não só entre pessoas 'normais', mas entre quem produz e consome", diz Seth, ex-morador do país.

A passagem por solo pernambucano fora do circuito turístico tradicional propiciou ao estrangeiro desfazer uma imagem formada a partir de informações associadas à região. "Não parecia um Nordeste dos filmes velhos, ou o Nordeste que imaginam os paulistas ou cariocas. Claro que sabemos que existem pobreza e problemas sociais, mas, na nossa visão, não parecia tão diferente do que vimos em São Paulo e no Rio de Janeiro", frisou.

Os vídeos seguem a linha das postagens sobre viagens - tanto em redes sociais quanto em canais semelhantes - e têm linguagem e condução informal, descontraída, com direito a conversas em casa e brincadeiras com os anfitriões. Seth e o diretor do programa, o também norte-americano Eric Hinojosa, abordam gastronomia, religiosiodidade, natureza, música, costumes, linguajar dos moradores. As filmagens foram feitas em abril e são disponibilizadas às terças e sextas-feiras (o último se torna público em 10 de junho), em youtube.com/amigogringo.

As viagens são custeadas pelos próprios produtores, com a ajuda financeira do patrocinador, o aplicativo de viagem Storyo. O destino seguinte é Santa Catarina, na região Sul, onde eles prosseguem a missão de desbravar e oferecer novas narrativas sobre o interior do país. Ou, como diz Seth no vídeo: "Nada como visitar amigos e o local para conhecer o lugar de verdade".

ENTREVISTA >> Seth Kugel, jornalista e apresentador do Amigo Gringo

Com qual impressão você ficou das cidades pernambucanas? O que achou mais interessante delas para repassar aos espectadores?
As cidades eram todas diferentes. Em Salgueiro, vimos muita cultura dentro da cidade e na região. Visitamos a Casa de Cultura e recebemos um tour histórico da cidade, além de conhecer as bonecas de carnaval do Mestre Jaime, que tem 95 anos e ainda trabalha. Fomos à oficina de Irineu do Mestre, que confecciona roupa de vaqueiro como fizeram o pai e o avô. Escutamos o Coral Aboios e conhecemos vaqueiros na cidadezinha de Serrita. Ou seja, lá aprendemos o que é caatinga, vaqueiro e vida sertaneja. Em Petrolina, a maior cidade, o mais notável foi o passeio Vapor de Vinho, para conhecer o rio, as represas e a vinícola Terranova. Conseguimos conhecer muitos aspectos de Pernambuco e do Nordeste em só quatro dias.

Quais as principais características dos interiores brasileiros visitados? Qual retrato é possível traçar?
A paisagem foi muito impressionante, bem mais verde que imaginamos (porque havia chovido nos últimos meses), mas ainda bem severa. Dava para ver por que o Sertão tem uma fama de produzir pessoas determinadas e fortes. Não fizemos uma análise econômica, exatamente, mas as cidades eram modernas. Não parecia um Nordeste dos filmes velhos, ou o Nordeste que imaginam os paulistanos ou cariocas. Claro que sabemos que existem pobreza e problemas sociais, mas, na nossa visão, não parecia tão diferente do que já vimos em São Paulo e Rio de Janeiro.

Por que fazer um quadro dedicado unicamente a registrar o interior do Brasil?
Primeiro, adoro viajar pelo interior do Brasil. E nossos fãs (segundo os comentários que recebemos) são na maioria das capitais. O mais interessante do Brasil é o interior, com variedade de paisagens e culturas, nem tão tocadas pela influência internacional que existe em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte. Já viajei muito pela Amazônia, pelo Cerrado, e achei que os brasileiros que moram nas capitais poderiam se interessar pela ideia de gringos valorizarem as partes do país que eles mesmos não conhecem.

TOQUE NA IMAGEM e assista a dois vídeos do programa em Pernambuco:



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