Pedro e o lobo é uma das atrações previstas na programação da companhia. Foto: Hugo Honorato/Divulgação

O artista que manipula bonecos tem em suas mãos uma ferramenta poderosa para criar e transcender a realidade a seu modo, levando momentos mágicos ao público. Um dos herdeiros brasileiros desta manifestação cultural milenar é o Giramundo, de Belo Horizonte, um dos bastiões da valorização desta vertente do teatro no Brasil desde a fundação, em 1970, por Álvaro Apocalypse, Terezinha Veloso e Madu Vivacqua. O Recife vai receber uma visão panorâmica das atividades do grupo com exposição, apresentações e palestra na Caixa Cultural, em uma programação aberta ao público a partir desta quarta-feira.

Confira o roteiro de exposições em cartaz no Divirta-se

O Recife e a Zona da Mata se tornam campo ainda mais fértil para a realização da mostra por abrigarem um interesse natural da região no trabalho com bonecos, a partir da atuação de grupos como o Mamulengo Só-Riso, o Mão Molenga e a longa tradição popular do mamulengo e seus mestres. O Giramundo, por sua vez, troca informações com essa herança local ao apresentar seus 46 anos de história por meio de uma exposição, em cartaz de hoje a 26 de junho.

Cerca de 150 bonecos foram selecionados do acervo do Museu Giramundo e vários deles são exibidos junto a croquis e projetos técnicos, ou seja, com ideia e execução lado a lado. Haverá, por exemplo, uma mesa chamada de "anatomia do boneco", que mostra como as mãos, os pés e as articulações são confeccionados. "Fazemos o desenho, os croquis, depois ampliamos esse boneco para fazer o projeto técnico. De lá, o material é passado para a oficina do Giramundo. Depois, o ateliê faz a modelagem, o acabamento, o figurino e, a partir daí, o boneco está pronto", detalha Beatriz Apocalypse, diretora artística da mostra e filha de dois dos fundadores, Álvaro e Terezinha.

Um baú de fundo fundo foi o primeiro espetáculo a ir para o exterior. Foto: Giramundo/Divulgação

A itinerância do grupo pelo Recife também inclui a palestra Caleidoscópio Giramundo, na sexta-feira (20), e três espetáculos, em cartaz nas próximas semanas: Um baú de fundo fundo (1973), Pedro e o lobo (1993) e Orixás (2001). As peças foram escolhidas de um universo de 34 espetáculos, 19 deles ainda em exibição. "Eles foram escolhidos porque são diferentes e mostram nosso trabalho de décadas. O Baú foi o primeiro a ir para o exterior e os bonecos dele foram os primeiros a terem movimentos de boca. Pedro e o lobo é o nosso espetáculo infantil mais apresentado e Os orixás têm tecnica mais elaborada".

O reconhecimento do Giramundo pela história do mamulengo é antigo, e Beatriz Apocalypse ilustra isso com uma história vivida com o pai. "A melhor manipulação de boneco de luva é do Recife. Há quase 20 anos, vi um espetáculo de mamulengos em um festival de teatro de bonecos e Álvaro me falou: 'olha a manipulação, o preciosismo'. Eles trabalham com o improviso e isso também nos atrai. Em um de nossos espetáculos, chamado Circo teatro maravilha, convidamos o pernambucano Fernando Limoeiro para os ensaios e essa experiência foi riquíssima".

PROGRAMAÇÃO

MAMULENGOS EM OLINDA
O Museu do Mamulengo - Espaço Tiridá (Rua de São Bento, 344, Varadouro, Olinda) vai receber, a partir das 17h de hoje, a exposição Olinda: território da alegoria. As 50 obras, de grandes dimensões, são fruto da Escola de Alegorias Mamulengo Só-Riso, com peças feitas nos últimos dez anos. O museu, com mais de 1200 peças feitas por mestres mamulengueiros, funciona de segunda a sexta, das 8h30 às 13h.

UM BAÚ DE FUNDO FUNDO
As histórias populares do Brasil e a cultura foram matéria-prima para um dos primeiros espetáculos do Giramundo, cuja estreia ocorreu em 1973. Desta vez, são quatro apresentações: uma no dia 3 de junho, às 16h, duas no dia 4 de junho, às 16h e às 19h, e 05 de junho, às 10h30. Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia), com venda a partir das 10h da quinta, 02 de junho.

PEDRO E O LOBO
O espetáculo, cuja estreia aconteceu em 1993, é uma versão da montagem criada pelo russo Serguei Prokofiev em 1933, com marionetistas que ensinam às crianças a estrutura elementar de uma orquestra. As informações sobre os instrumentos musicais são feitas a partir de uma experiência com desenhos e vozes, com o objetivo de fazer uma grande brincadeira. As apresentações acontecem nos dias 21 de maio, às 16h, e 22 de maio, às 10h30. Ingresso: R$ 10 e R$ 5 (meia), com venda a partir das 10h da sexta (20).

ORIXÁS
Os mitos fundadores dos deuses africanos e suas aventuras estão nesta montagem, montada pela primeira vez em 2001. A criação, os conflitos entre deuses, suas paixões e o humor de Deus também estão presentes. O espetáculo também tem uma característica diferente: os corpos dos marionetistas acompanham a música. São duas sessões: 28 de maio, às 16h e 29 de maio, às 10h30. Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia), com venda a partir das 10h da sexta (27).

PALESTRA
Na próxima sexta-feira (20), às 19h, a Caixa Cultural vai sediar o Caleidoscópio Giramundo, palestra ilustrada sobre a história do grupo, traz cenas clássicas em performances ao vivo. Quem está à frente do evento, que tem 50 minutos de duração, é Ulisses Tavares, empresário, professor e diretor do grupo. A entrada é gratuita, com distribuição de senhas a partir das 18h.