Acervo
VALDEMAR DE OLIVEIRA
Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP) pede impugnação do processo de tombamento
Proprietários do equipamento negam rumores de venda para outras finalidades e reafirmam esforço em recuperar o teatro
Publicado: 30/05/2024 às 17:05

/Foto: Rômulo Chico
O Teatro Valdemar de Oliveira está passando por mais uma etapa complexa de seu processo de reestruturação, que já segue desde que foi fechado em 2020. O grupo Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP) entrou na justiça pela impugnação do processo de tombamento, iniciado em dezembro de 2022 pelo grupo cultural Jão Teimoso, com a assinatura do coordenador Oséas Borba, também diretor do Movimento Guerrilha Cultural.
De acordo com o TAP, tentativas de negociação estão sendo feitas com mais de uma empresa para poder trazer o teatro de volta à ativa e os trâmites burocráticos do tombamento não interessariam nesse processo de revitalização. Uma das representantes do grupo, Yeda Bezerra de Mello, neta de Valdemar de Oliveira, afirmou em entrevista ao Viver que todos os esforços estão sendo feitos por parte dos proprietários e integrantes do Teatro de Amadores e negou todos os rumores a respeito de venda para outras finalidades. "Não fazem nem sentido essas histórias de que iríamos vender o teatro, são mentiras que só fazem atrapalhar a situação. Eu tenho 61 anos e toda uma história no teatro desde pequena. Estamos fazendo o possível com negociações para que o Valdemar volte a ser esse espaço de celebração da cultura, de formação, de educação", enfatizou.
Yeda relembra ainda todo o processo de luta para reerguer o teatro após a interdição feita pelo Ministério Público em 2015. "Quando fomos interditados por questões de acessibilidade, fizemos todo um esforço, após a volta, para intensificar a segurança do teatro e preservar o espaço. Fizemos várias parcerias e estávamos retomando as atividades de maneira muito produtiva, mas quando veio a pandemia em 2020, tivemos que fechar, como todo mundo. E aí foi quando os saques violentos e a depredação começaram, e sem ninguém lá, não teve como proteger de toda essa destruição", afirmou. "O que queremos agora e vamos conseguir, se Deus quiser, é firmar parcerias para trazer de volta o Valdemar e devolver para Pernambuco e para o nosso público", concluiu.
Além de Yeda, estão ativos à frente do TAP a sua irmã, Patrícia, seu primo Pedro Oliveira, diretor geral, Carlos Alberto, Marcela Simões, Giulia Lobo e Valdemar de Oliveira Neto.
Oséas segue defendendo o tombamento como a melhor opção pela preservação do Valdemar de Oliveira. "Eles citam que o teatro não existe mais e falam de toda a destruição no argumento pela impugnação, mas o nosso pedido de tombo vai além da questão do espaço físico, já que ele nem teria o tempo necessário para isso, mas é principalmente pelo seu valor cultural para Pernambuco e para o Brasil. A casa de Clarice [Lispector], por exemplo, foi tombada quando só existiam as paredes e mal havia teto", ressaltou. "Esperamos que a polícia continue investigando todos esses roubos e depredações, mas nós seguimos acreditando na memória do teatro pernambucano e no Valdemar como símbolo dessa nossa história. Queremos que o estado ou a prefeitura adquira esse equipamento e o torne público para que toda a classe se beneficie", completou o coordenador do grupo João Teimoso.
INCÊNDIO
No dia 7 de fevereiro de 2024, o Valdemar de Oliveira foi acometido de um incêndio que devastou ainda mais a já abandonada estrutura do prédio. O corpo de bombeiros foi acionado por volta das 5 horas da manhã, enquanto moradores vizinhos faziam registros da intensa fumaça que tomou conta do local, fechado desde 2020 devido à pandemia e abandonado desde 2023, passando por invasões, furtos e depredações. A sala de espetáculos, já com seu teto destruído há vários meses, foi o principal foco do incêndio, que não deixou vítimas.
Além da sala de espetáculos, foi atingida também pelo incêndio a biblioteca Samuel Campelo (nome de um dos principais artistas do teatro pernambucano e fundador do grupo Gente Nossa, precursor do TAP), que continha textos e livros sobre o teatro, revistas estrangeiras, coleções, correspondências e enciclopédias e documentos da época do Nosso Teatro.
RELEMBRE A HISTÓRIA
Localizado na Praça Oswaldo Cruz, a casa foi inaugurada com o nome de Nosso Teatro, em 1971, fundada pelo grupo Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). O coletivo que deu à luz ao espaço e de importância inestimável para a cultura do estado através das décadas foi criado em 1941 pelo médico, escritor, ator e músico recifense Valdemar de Oliveira. Com o seu falecimento, em abril de 1977, o nome do equipamento cultural foi alterado para Teatro Valdemar de Oliveira no dia 23 do mês seguinte.
O TAP foi durante anos referendado por todo o Brasil pelo seu trabalho de profissionalização de atores e diálogo com múltiplas experimentações e inovações na cena teatral da época, mantendo as atividades da sua sede durante todas as últimas décadas desde a inauguração, mesmo enfrentando grandes desafios pelo caminho. Um deles foi um primeiro incêndio ocorrido em outubro de 1980, provocado por um curto-circuito na luz negra do palco e que começou pelas cortinas, se alastrando pela sala principal.
O espaço estava sendo mantido por seus 22 associados que, de acordo com a neta de Valdemar, Thiana Santos, não recebem verbas públicas.