Cinema Cineasta brasileiro diz que não foi fácil trabalhar com Anthony Hopkins Afonso Poyart dirigiu Presságios de um Crime, que também tem Colin Farrell no elenco e está em cartaz no UCI Kinoplex DeLux e no Shopping Guararapes

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 27/02/2016 15:02 Atualizado em: 26/02/2016 17:46

Diretor (à esquerda) achou Colin Farrel mais tranquilo do que Anthony Hopkins (Fotos: Facebook/ Reprodução e Diamond Films/ Divulgação)
Diretor (à esquerda) achou Colin Farrel mais tranquilo do que Anthony Hopkins
 
Anthony Hopkins e Colin Farrell foram dirigidos pelo brasileiro Afonso Poyart em Presságios de um crime, que está em cartaz os cinemas. Em entrevista cedida ao Viver, o diretor paulista (nascido em Santos) expõe as dificuldades que encontrou para trabalhar com os dois astros de Hollywood. O cineasta foi contratado para conduzir o suspense policial depois de demonstrar segurança na direção de 2 Coelhos, seu primeiro longa-metragem. Ainda este ano, ele lançará Mais forte que o mundo, cinebiografia do lutador José Aldo cheia de cenas de ação. Em presságios de um crime, um vidente (Hopkins) ajuda a polícia a encontrar um assassino (Farrell). Anthony Hopkins também já trabalhou com o cineasta brasileiro Fernando Meirelles no filme 360, lançado em 2011.

ENTREVISTA /// AFONSO POYART

Anthony Hopkins e Colin Farrell te deram liberdade para trabalhar ou fizeram exigências que limitaram algo?

Eles são bem tranquilos, bem simples. Não agem como estrelas. Nas horas em que estão disponíveis, eles estão ali para trabalhar. Mas eu acho que é complexo. Existe essa coisa da confiança. Eu entrei no projeto como diretor contratado e nunca havia dirigido um filme nos Estados Unidos. Existe um "pé atrás" natural e inicial, mas devagar eles foram entendendo e acreditando. Foi algo que foi sendo melhorado com a evolução das filmagens. Não é fácil, cara. Essa parte não é fácil. Você precisa ter bastante segurança e bastante força pra tentar algumas ideias. Os caras, às vezes, são cabeça-dura pra aceitar algumas coisas e fazer do seu jeito. Sofri um pouco com isso. Nos filmes que fiz no Brasil, recebi muito mais colaboração do elenco. Colin é mais tranquilo, mas o Hopkins às vezes queria fazer do jeito dele e tinha um ponto de vista bem forte sobre o que ele achava do personagem, mas não em todas as cenas. Ele tinha um xodó especial com algumas cenas e ficava irredutível com o que ele tinha na mente, mas, no geral, ele foi bastante amigo. O ator precisa estar acreditando naquilo... a não ser que a ideia seja deixar ele desconfortável de propósito e aproveitar isso nas filmagens.

Nos seus filmes, você alterna bastante efeitos de câmera lenta e de aceleração das imagens. Porque você gosta tanto dessa possibilidade de dilatação do tempo em relação à realidade?
É uma das ferramentas que o cinema tem para passar sensações e ideias. No Presságios, isso está ligado à temática do filme, pois o vidente tem o poder de ver o futuro e o passado. Ele está destacado das linhas de tempo normais. Essa brincadeira de tempo paralisado, tempo mais lento e tempo mais rápido, pra mim, funcionou muito bem na narrativa do filme. Eu gosto também por causa do impacto visual, mas tento usar apenas quando é relevante para a narrativa.

Você também usa efeitos visuais que ampliam a percepção da realidade e mostram detalhes que o olho humano não enxergaria naturalmente.
A percepção do personagem sobre os ambientes é diferente. É um cara que tem uma percepção mais aguçada, então trabalhei com esses close-ups no olho, pra mostrar como ele percebe sensorialmente o ambiente e os sons ao redor dele.

Você assume que é influenciado por videogames?
Sim. Falo isso em todas as minhas entrevistas. Eu não sou um cineasta que viu muitos filmes, apesar de ver filmes o tempo inteiro, mais do que a média das pessoas. Não sou um cinéfilo radical. No lugar de ver vários filmes, eu costumo ver os filmes que eu gosto várias vezes. Gosto de analisar as obras que são mais relevantes pra mim. As minhas influências vêm de todos os lugares, seja do videogame, do YouTube ou de comerciais. Há comerciais que inovaram na linguagem visual e na narrativa. Foi na publicidade que eu desenvolvi meu estilo e aprendi mesmo a filmar.

Quais foram os filmes que você reviu mais vezes na sua vida?
Os bons companheiros, Star wars, Contatos imediatos do terceiro grau, Tubarão, Clube da Luta, A origem... E vários outros.

O título original do filme é Solace a o título brasileiro é Presságios de um crime. Você participou da escolha do nome para o Brasil?
Não. Fui apenas informado. Ficou mais popular. Eu não amo muito, mas nem sei se posso falar isso.

Você acha que os efeitos visuais digitais ainda têm muito o que evoluir ou o estágio atual já está suficientemente satisfatório? Você fica incomodado, por exemplo, quando um objeto ou uma criatura fica parecido com uma animação em um filme com atores?

Cara, é perigoso. Isso é ruim pra caramba e acontece. O nível está ótimo, mas custa dinheiro. Às vezes, o tempo e o dinheiro não são suficientes pra você fazer bem feito. O que pode e deve evoluir é tornar mais barato. A tendência é que as ferramentas fiquem mais baratas. Minha formação é autodidata, aprendi na prática. Comecei fazendo computação gráfica e animação. Fiz muitos comerciais e videoclipes que são inteiros em animação e pós-produção. Essa é minha formação. Depois comecei a filmar com câmeras. Acho que o importante é contar histórias, seja com um bonequinho ou com um ator.

Você acredita na paranormalidade e em fenômenos sobrenaturais?

Existe uma coisa além e a física quântica prova isso. Existem mistérios e coisas improváveis que depois são comprovadas. Eu acredito que existe alguma coisa, existe a dúvida. Sou um questionador, mas não sou um cético. Algumas pessoas têm uma capacidade de intuição maior do que outras. São mistérios do cérebro humano, do espaço e do tempo.

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Quando será lançado o filme Mais forte que o mundo?
Provavelmente em junho, talvez logo antes da próxima luta do José Aldo. Obviamente, a distribuidora vai procurar o ambiente mais favorável para fazer o lançamento. Se estiverem falando mais dele, melhor para o filme e para ele também. Tem que ser uma coisa que funcione pra todo mundo, talvez casado com o UFC. O filme ainda não está pronto. A gente está finalizando.

Quais são seus próximos projetos nos Estados Unidos?

Tô mais interessado em dar uma descansada agora depois desses filmes aí, mas já comecei a ler roteiros para escolher. Devo entrar em alguma coisa em breve.



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