História de vida

Em Pernambuco, o bombeiro Givanildo Rosa é referência em salvamento

Prestes a se aposentar, ele é um dos nomes mais lembrados dentro do Corpo de Bombeiros de Pernambuco quando se fala em operações de salvamento

Publicado em: 02/02/2019 10:23 | Atualizado em: 02/02/2019 10:31

Givanildo Rosa completou 51 anos e atualmente mora em Gameleira, na Mata Sul pernambucana.  Foto: CBMPE/Divulgação

Givanildo tinha 15 anos quando viu o pai fechar os olhos pela última vez, vítima de um infarto. Naquele dia, aquietou o corpo do homem de 45 anos nos braços, incomodado com sua impotência diante da morte de um ente querido. Se Givanildo precisava de metas tão cedo na vida, uma delas seria salvar outras pessoas. Por três décadas, perseguiu seu plano. Prestes a se aposentar, é um dos nomes mais lembrados dentro do Corpo de Bombeiros de Pernambuco quando se fala em operações de salvamento.

Givanildo Rosa completou 51 anos e atualmente mora em Gameleira, na Mata Sul pernambucana. Está afastado da corporação onde começou a atuar desde os 18 porque deu entrada em sua aposentadoria. Nunca calculou quantos salvamentos fez ao longo da carreira. Prefere lembrar dos mais marcantes, daqueles que, de alguma forma, provocaram nele sentimentos de gratidão ou mesmo de tristeza. Nem tudo termina bem quando a meta na vida é salvar outras pessoas.

Em 1999, Givanildo passou dias sem dormir, tomado mais uma vez pelo incômodo da impotência. O Edifício Enseada de Serrambi, em Jardim Atlântico, Olinda, desabou e levou junto a vida de seis pessoas. Uma delas era Gabriela, 4 anos. Por dois dias ela permaneceu viva entre os escombros até ser descoberta pela equipe dos bombeiros. Givanildo soube do acidente enquanto estava de folga e se ofereceu para ajudar nos resgates. Foi um dos que entraram no buraco formado pelo desmoronamento para resgatar a menina. Além dele, somente outros dois bombeiros assumiram o mesmo risco.

Gabriela foi retirada com vida depois de um longo trabalho dos bombeiros para soltar um dos pés da menina. Horas depois, a criança morreu. "Na época, a gente não tinha muito material. O trabalho foi braçal. Fiquei muito impressionado com tudo aquilo. Passei três dias me acordando no meio da madrugada e pensando o que poderia ter feito para salvar aquela menina. Devia ter quebrado a perna dela".

Fevereiro de 2015 chegou como luz para o bombeiro Givanildo. E ele transformou uma forte possibilidade de morte em vida. Ganhou até a atenção da imprensa naquele dia. Era dia 16 e ele estava em sua rotina normal, sem ocorrências, em Goiana. Repentinamente, foi chamado para resgatar uma criança de seis anos de dentro de uma cacimba. Eram 45 metros de profundidade até a vítima. E o tempo já havia passado o suficiente para um desfecho triste.

Cinco homens do Corpo de Bombeiros foram ao local. Praticamente, toda a corporação do município, que contava com seis homens. Givanildo fez o plano de ação e desceu com uma corda até onde estava a menina. Voltou com ela ferida, carregada em um braço só. Na saída, ergueu as mãos para o céu e agradeceu enquanto chorava. Givanildo precisava daquela redenção. Ainda mais em uma época na qual andava desestimulado com a profissão. Daquele dia ele não esquece. Até hoje, encontra a menina e sua família. Viraram amigos. Porque Givanildo trouxe a vida de volta para a garota.

O bombeiro sargento está prestes a se aposentar da corporação. Mas nunca do salvamento. Em sua última ação, viu um homem baleado na cabeça e parou para fazer a reanimação. Tempos depois, descobriu ser alguém envolvido com crimes. Não se arrependeu. "O bombeiro não olha sexo, idade. Se depara com a situação e salva. Todo ser humano tem direito à vida. Não sabia que era um marginal. Mas se soubesse, faria a mesma coisa", garantiu.

Pernambuco tem hoje 2.735 bombeiros. O salário inicial de um soldado é R$ 3.066. O nome da corporação ocupou os noticiários do mundo todo nos últimos dias após a tragédia ocorrida em Brumadinho, Minas Gerais, com o estouro de uma barragem da Vale. Os bombeiros de Brumadinho ressurgiram como heróis em um país desgastado. Arriscaram as vidas por supostos estranhos. Assim como fez Givanildo, por trinta anos. Assim como faz toda uma geração de heróis anônimos. Até que a próxima tragédia lhes lance holofotes de reconhecimento.
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