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Faltam máquinas de radioterapia no estado

No país, seis em cada dez pacientes com câncer precisam do tratamento. No estado, a rede pública dispõe de quatro máquinas e quer ampliar atendimento

Publicado em: 17/10/2018 09:22 | Atualizado em: 17/10/2018 09:30

Ana Cristina, 67 anos, se submeteu à radioterapia para curar um tumor na amígdala e perdeu parte do paladar. Foto: Leo Malafaia/Esp. DP.

Em todo o Brasil, ocorrerão neste ano 600 mil novos casos de câncer. Principal causa de morte em 10% dos municípios brasileiros, a doença é hoje a segunda que mais mata no país e, até 2030, estima-se que ocupará o primeiro lugar desse ranking. Nos últimos 15 anos, os óbitos por câncer aumentaram em 31%, mas só em 2016 cinco mil mortes por esse motivo poderiam ter sido evitadas. Isso porque seis em cada 10 pacientes diagnosticados com neoplasias necessitam do tratamento da radioterapia, mas o sistema público de saúde não possui equipamentos para atender à demanda.

Na rede pública de Saúde em Pernambuco, existem quatro estabelecimentos que realizam a radioterapia. O credenciamento dos centros de oncologia em todo o país é feito, exclusivamente, pelo Ministério da Saúde. No ano de 2017, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), o estado executou um total de 381.313 campos de radioterapia, 10,3 mil a mais que 2016. Entre 2015 e 2017, foram realizados um total de 1.162.751 campos de radioterapia.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Radioterapia, o SUS tem uma quantidade de aceleradores lineares, máquinas responsáveis por fazer o tratamento, 40% inferior ao que seria necessário para toda a população que necessita. Hoje o Sistema Único de Saúde (SUS) tem 270 aparelhos disponíveis, quando o recomendado seria 600. Outro problema é a distribuição dos equipamentos, uma vez que 55% deles estão na região Sudeste, 19% na região Sul, 13% no Nordeste, 7% no Centro-Oeste e 6% no Norte. 

Se unidos os equipamentos existentes no sistema privado, a quantidade de aceleradores lineares em funcionamento em todo o país não passa de 400, quando o necessário seriam entre 600 e 800, estima a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). O Ministério da Saúde tem um plano de expansão da radioterapia no SUS, que inclui a compra de 80 máquinas novas e um investimento de R$ 545 milhões. Um contrato foi firmado em dezembro de 2013, mas até então apenas oito máquinas foram entregues e 26 obras estão em execução. Uma delas no Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP).

A radioterapia é uma das aplicações da energia nuclear da medicina e consiste na utilização de radiação ionizante para o tratamento de tumores. “Na imensa maioria das vezes, a radioterapia é usada para tratar tumores malignos e pode ser usada em conjunto com a quimioterapia, a cirurgia, a imunoterapia ou hormonoterapia”, explicou o radio-oncologista do Grupo Oncoclínicas Radioterapia, Felipe Coelho Leite. 

Segundo ele, os tratamentos que mais utilizam a radioterapia são os de tumores de mama, próstata, ginecológicos e do trato digestivo. A radioterapia também pode ser utilizada para tratar tumores benignos. “A radiação interage com o DNA das células malignas debilitando-as e levando-as à morte.” Os trabalhos mostram que há um ganho na sobrevida e no controle local da doença para os pacientes que fazem esse tipo de tratamento. A radioterapia também pode ser usada em cuidados paliativos, aliviando as dores.    

Apesar da tensão que sempre envolve a palavra radiação, Felipe Coelho Leite afirma que o tratamento radioterapêutico é extremamente seguro e cada vez mais moderno, o que diminui os efeitos colaterais. “A radiação foi descoberta em 1895, mas só em 1950 começou a se disseminar e haver uma padronização do tratamento. Há normas seguidas no mundo inteiro, em que são respeitadas as doses de tolerância e radiossensibilidade intrínseca de cada tumor”, explica.

Diagnosticada com um tumor de amígdala no ano passado, a professora aposentada Ana Cristina Wanderley, 67 anos, precisou se submeter à radioterapia. Foram 39 sessões, que geralmente são realizadas de forma contínua todos os dias úteis da semana, e no caso dela foi combinada com a quimioterapia. “Eu sentia como um pigarro na garganta e quando foi dado o diagnóstico o câncer já estava em um estágio avançado. Pensava que o tratamento da radio ia ser doloroso, mas não foi. Me preparei para perder peso, precisar ficar sem comer, mas não tive nenhuma reação”, conta ela. 

Em função da localização do tumor e da necessidade de atacá-lo com a radiação, Ana Wanderley ficou com duas sequelas. Não salivar mais, ela precisa usar uma saliva artificial, e ficar com dificuldades para sentir os sabores. Nada que interfira na felicidade de estar curada, garante. 

Foto: Arte/DP

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