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CRIME Suspeito de envenenar família está preso Nove pessoas foram hospitalizadas após a intoxicação por chumbinho.

Publicado em: 17/05/2017 16:38 Atualizado em: 17/05/2017 23:25

Para a polícia, não há mais dúvidas quanto à autoria do crime. Foto: Eduarda França/Esp. DP (Para a polícia, não há mais dúvidas quanto à autoria do crime. Foto: Eduarda França/Esp. DP)
Para a polícia, não há mais dúvidas quanto à autoria do crime. Foto: Eduarda França/Esp. DP
A Polícia não tem dúvida de que ocorreu um envenenamento coletivo de nove pessoas de uma mesma família, em Jardim Primavera, Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, e que a autoria foi de Jesemiel Hidalgo da Silva, o “Kiko”, 27 anos, que teve a prisão temporária concedida, por trinta dias. Essa conclusão foi enfatizada na coletiva realizada no final da tarde pela delegada Euricélia Nogueira responsável pela investigação do caso. Na noite dessa terça-feira, o suspeito se apresentou espontaneamente à Polícia. Jesemiel Hidalgo era ex-namorado de Débora Regina Belo Soares, 22, que havia encerrado o relacionamento, o que ele não aceitava.

Na coletiva desta tarde, foi confirmado que o envenenamento ocorreu com uso do agrotóxico conhecido como “Chumbinho”, erroneamente utilizado para matar ratos, de comercialização proibida. Segundo as perícias realizadas, o veneno teria sido adicionado ao colorau utilizado na preparação de alimentos para a comemoração do Dia das Mães. Segundo foi apurado pela Polícia, com a coleta de depoimento de 16 pessoas, no dia anterior, o sábado passado, Jesemiel Hidalgo foi à casa de Débora Regina, a pretexto de tentar reatar o namoro, e acabou pedindo que ela colocasse crédito no celular dele. Teria sido esse o momento em que conseguiu acesso à cozinha para adicionar o veneno ao colorau.

Na noite da visita do ex-namorado, Débora preparava os alimentos e passou mal. Quando chegou no Hospital Miguel Arraes, médicos que fizeram o atendimento levantaram a suspeita de envenenamento. Mas a família não associou o fato à comida. No domingo, Dia das Mães, a refeição foi servida. Um gato da família morreu envenenado. Mais oito pessoas passaram mal. Vilma Maria Soares, 48; José Edson Soares da Silva, 21, e Gleice Kelly Soares, 16, foram encaminhadas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Torrões, passaram a noite em observação e foram liberadas no dia seguinte. Outras cinco foram levadas à UPA da Caxangá, sendo que três delas foram transferidas para o Hospital da Restauração (HR), no Derby, Região Centro do Recife.

Três vítimas ainda têm estado de saúde preocupantes: Débora Regina, internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HR, em estado grave, entubada; o pai dela, Regivaldo Francisco Soares; e o irmão, Talisson Soares, esses internados na UTI do Hospital Nossa Senhora do Ó, no Janga, em Paulista. Outros familiares envenenados internados no HR são: Valquilene Maria Soares, 34, em observação na emergência da clínica médica, com quadro estável; além de Nilva Maria da Silva Soares, 74, e Augusto Francisco Soares, 78 (avô de Débora, cego e deficiente mental), ambos com quadro estável, em observação na emergência clínica.

Perícias realizadas no resto dos alimentos e no vômito das vítimas indicaram um forte odor no feijão e na galinha preparada para o Dia das Mães. "Encontramos a galinha bastante condimentada. O feijão estava em uma panela de seis litros e foi consumido cerca de um quilo. O ambiente (da cozinha) estava insustentável”. disse a perita Vanja Coelho. Segundo Carlos Fernando Monteiro, que também é perito criminal, o envenenamento foi feito por terbufos, substância utilizada como raticida também encontrada em amostras de "chumbinho".

Segundo a delegada Euricélia Nogueira, todas as vítimas foram atendidas com vômitos e fortes dores. "Até então, nós tínhamos o indicativo da autoria, mas não a materialidade. Porque também havia comida estragada. As autópsias foram feitas e ouvimos os familiares. Todos apontaram o ex-namorado como autor do envenenamento", afirmou a delegada. "Eles disseram que o suspeito estava extremamente inconformado com o final da relação e fez ameaças à vítima na presença dos familiares, na sexta. Uma testemunha próxima ao suspeito disse que ele chegou a falar sobre o envenenamento", acrescentou.

“Não tenho a menor dúvida (de que houve o envenenamento coletivo)”, disse a perita Vanja Coelho, que também participou da coletiva. A coleta de material na residência identificou vestígios de um material preto no colorau. Para desvendar o caso, a Polícia montou uma força tarefa envolvendo a polícia científica em busca de provas materiais, identificando a presença de vestígios de “chumbinho” também nos alimentos e nos resíduos de vômitos de animais e integrantes da família. “A Polícia Civil já pode afirmar que ele (Jesemiel Hidalgo da Silva) foi o autor do crime e tem trinta dias para materializar isso no inquérito", detalhou a diretora da Polícia Científica, Sandra Santos.

Segundo a Polícia, os depoimentos coletados denunciaram o comportamento agressivo do suspeito e, com o resultado das perícias, foi solicitada sua prisão temporária. "Ele está tentando criar álibi e culpar o ex(-marido) dela, mas há fundamentos suficientes para a decretação da prisão. “Ele (Jesemiel Hidalgo) já está preso, longe do distrito, mas não podemos dizer em que local”, disse a delegada Euricélia Nogueira. “Houve o envenenamento coletivo e ele cai por dolo eventual. Por mais que o alvo fosse ela (Débora Regina), ele responde pela tentativa de homicídio contra a família inteira. Nove pessoas foram atingidas e três estão em estado grave", avalia.

Ao se apresentar à Polícia, Jesemiel Hidalgo o suspeito teria afirmado ser motorista de caminhão e, por isso, poderia se esconder em qualquer lugar, o que reforçou a ideia do pedido de prisão temporária, por trinta dias. O suspeito prestou depoimento na manhã de hoje, quando, segundo a Polícia, tentou incriminar o ex-marido de Débora, identificado apenas como Nivaldo.

Participaram da coletiva de imprensa sobre o caso o chefe de polícia Joselito Kerhle do Amaral, a gerente da Polícia Científica, Sandra Santos, a delegada Euricélia Nogueira, e os peritos Carlos Fernando Monteiro e Vanja Coelho.

Com informações da repórter Eduarda França

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