Recife Moradores da Zona Norte sem alternativas para fugir do trânsito Com o entupimento da Av. Norte e somente com ônibus para o transporte público, Zona Norte vive caos no trânsito

Publicado em: 18/03/2015 08:35 Atualizado em: 18/03/2015 16:07

Trânsito na Avenida Rui Barbosa fica congestionado quase todas as manhãs. Para a CTTU a alternativa é a Rua do Futuro, também engarrafada. Foto: Allan Torres/DP/D.A Press
Trânsito na Avenida Rui Barbosa fica congestionado quase todas as manhãs. Para a CTTU a alternativa é a Rua do Futuro, também engarrafada. Foto: Allan Torres/DP/D.A Press

Colaborou Mike Torres

Na Zona Norte do Recife a cena se repete todos os dias: milhares de carros disputam espaço nas ruas apertadas e um trajeto de menos de três quilômetros pode exigir até 40 minutos dos motoristas. Diferentemente da Zona Sul, que dispõe de metrô e no último ano recebeu faixa exclusiva para transporte coletivo e uma passagem expressa - a Via Mangue - a região Norte da cidade é carente de alternativas e continua fora do roteiro dos principais projetos de mobilidade urbana. Na semana passada o Diario realizou o caminho feito por milhares de recifenses e fez o percurso de ida e volta entre o Mercado de Casa Amarela e o Parque Treze de Maio, no Centro, em pleno horário de pico. Levamos até 1h22 para completar o trajeto, que pode ser conferido detalhadamente no infográfico ao final desta página.


Em uma manhã típica no Recife, que ostenta o título de pior trânsito do país, se gasta entre 20 e 40 minutos para percorrer toda a Avenida Rui Barbosa. A alternativa para escapar da via onde circulam 24 mil carros todos os dias é a Rua do Futuro, que, no entanto, também sofre com a lentidão. Na Avenida Norte, onde 53,5 mil carros passam todos os dias, não é diferente. Sem planos governamentais para desafogar o tráfego na área a curto e médio prazo, o morador da Zona Norte fica preso a esses percursos. Segundo o site Numbeo, o recifense leva, em média, 55,6 minutos para se deslocar entre um ponto e outro, se posicionando como a 10ª metrópole do mundo onde se gasta mais tempo no trânsito. Na prática, no entanto, o tempo pode ser ainda maior.

Os filhos de Melissa Carvalho estudam em uma escola na Rui Barbosa. Todos os dias ela leva 40 minutos para percorrer a avenida e acredita que a precariedade do transporte público influencia na quantidade de carros. “Há a necessidade dos pais levarem seus filhos ao colégio, por causa da insegurança do transporte coletivo, o que aumenta ainda mais o fluxo de carros”, percebe. Para os usuários de ônibus, o único tipo de transporte coletivo disponível na região, o cenário não é diferente.


Para o urbanista César Barros o problema do trânsito na Zona Norte – e no Recife – se sustenta em quatro pilares: lacuna histórica de planejamento, gestão falha, não priorização do transporte público e negação dos modais não motorizados. “O que acontece quando você junta esses fatos é o caos total”, comenta. Para ele, só uma mudança de perspectiva na atuação da gestão pública mudaria o trânsito.

“Os veículos motorizados deveriam funcionar com uma bitola permanente, que garantisse o fluxo a partir da capacidade da via”, explica, defendendo uma padronização das ruas. “A Rui Barbosa, por exemplo, tem larguras diferentes dependendo do trecho, o que deixa o trânsito confuso”, analisa. “Você tem giros à esquerda onde não deveria ter, como no cruzamento da Avenida Norte com o canal do Arruda. A gestão precisa estar atuante a cada momento porque situações como essa devem ser evitadas radicalmente”, avalia.


Outra questão identificada pelo especialista é a não priorização do transporte coletivo, que ele defende como alternativa viável para melhorar o tráfego. “Faixas exclusivas de ônibus é o mínimo que se pode fazer em vias como Rosa e Silva e Avenida Norte.” Para ele, a gestão também deve voltar-se para os veículos não motorizados, sobretudo a bicicleta. “Você poderia interligar toda a Região Metropolitana com apenas sete ciclovias. E elas devem estar nos corredores principais da cidade. Isso significa que um estudante poderia sair, por exemplo, de Apipucos e seguir até o seu colégio, na Rui Barbosa, de bicicleta. Hoje ele não vai porque é perigoso”, explica. “Se isso tudo não for levado em consideração, qualquer opção vai ser caótica”, opina.

Nas principais vias da Zona Norte circulam mais de 143 mil carros diariamente. São 53 mil na Avenida Norte , 33 mil na Rui Barbosa e 24 mil na Rui Barbosa. A Dezessete de Agosto recebe os 33 mil restantes. Foto: Allan Torres/DP/D.A Press
Nas principais vias da Zona Norte circulam mais de 143 mil carros diariamente. São 53 mil na Avenida Norte , 33 mil na Rui Barbosa e 24 mil na Rui Barbosa. A Dezessete de Agosto recebe os 33 mil restantes. Foto: Allan Torres/DP/D.A Press

Sem projetos à vista
Através da assessoria de imprensa, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) confirmou que nenhum grande projeto está previsto para a área, a não ser um possível VLT (metrô de superfície) que pode ser implantado na Avenida Norte, mas que estaria ainda em fase “embrionária”. Ainda de acordo com a companhia, nos últimos dois anos foram feitas 19 alterações na circulação de veículos nas vias da Zona Norte, que vão desde binários, proibições e eliminações de giros. A CTTU disse ainda que 80 orientadores auxiliam o trânsito e atuam nos principais cruzamentos da área, como nas avenidas Rosa e Silva, Norte, Rui Barbosa e Parnamirim.

A CTTU informou também informou que outras medidas estão sendo analisadas e devem ser implementadas ainda no segundo semestre de 2015, mas não entrou em detalhes sobre os projetos.

Confira no infográfico abaixo o trajeto entre a Zona Norte e o centro e vídeos de moradores da área que precisam fazer esse deslocamento: (Navegue pelas setas)



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