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Mesmo após atritos, Bolsonaro exalta americanos ao ser premiado em Dallas

Por: FolhaPress

Publicado em: 16/05/2019 21:14

Foto: AFP (Foto: AFP)
Foto: AFP (Foto: AFP)
Ao receber o prêmio de Pessoa do Ano da Câmara de Comércio Brasil-EUA, nesta quinta-feira (16), em Dallas, o presidente Jair Bolsonaro disse lamentar o cancelamento da viagem a Nova York para receber a homenagem. "Não posso ir à casa de uma pessoa onde alguém de sua família não me queira bem."

Mas completou que, apesar disso, continuará respeitando os nova-iorquinos e que receber o prêmio era "um momento de felicidade ímpar".

Em discurso de pouco mais de dez minutos a uma plateia de empresários e investidores, Bolsonaro manteve sua postura de alinhamento ideológico com os EUA e a retórica de adoração ao país comandado por Donald Trump, mesmo após ter sido alvo de protestos nas últimas semanas.

Inicialmente, a homenagem a Bolsonaro seria entregue durante um jantar de gala no Museu de História Natural de Nova York. No entanto, ativistas e políticos fizeram campanha contra a presença de Bolsonaro na cidade, devido a declarações consideradas homofóbicas e críticas à política ambiental de seu governo.

A pressão, feita inclusive pelo prefeito Bill de Blasio, levou o governo a articular às pressas a mudança de destino, para que o prêmio fosse então entregue em Dallas. O Itamaraty trabalhou por pelo menos duas semanas para montar uma agenda para Bolsonaro no Texas, mas não conseguiu compromissos que levassem a resultados concretos.

Além do prêmio nesta quinta, o presidente jantou com investidores e fez uma visita de cortesia ao ex-presidente dos EUA George W. Bush, na quarta (15).

Em seu discurso em Dallas, Bolsonaro repetiu que "o Brasil de hoje é amigo dos EUA" e que quer "o povo e os empresários americanos ao nosso lado". Segundo ele, o país vivia até pouco tempo "uma política de antagonismo" aos americanos, que eram "tratados como inimigos". Ele não citou nomes nem definiu quais políticas eram essas.

O presidente afirmou ainda que quem ocupava o governo antes dele "teve suas mãos manchadas de sangue na luta armada", em referência ao capitão americano Charles Chandler, assassinado em São Paulo em 1968 por guerrilheiros de esquerda. Suspeitava-se que ele fosse da CIA, a agência de inteligência do país.
"Quem até há pouco ocupava o governo teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão - como eu sou capitão - naqueles anos tristes que tivemos lá no passado. Rendo a homenagem aqui ao capitão Charles Chandler, também um herói americano, talvez um pouco esquecido na história, mas que fez sua passagem, escreveu sua história também passando pelo Brasil."

Bolsonaro voltou a criticar a imprensa brasileira. Afirmou que, se a mídia fosse isenta, seria sinal de que "o Brasil poderia romper obstáculos e ocupar um local de destaque no mundo". Para o presidente, os veículos de imprensa do país estão tomados "pela esquerda", que também ocuparia as universidades e as escolas de ensino médio e fundamental.

Disse esperar que a Argentina não siga o mesmo caminho da Venezuela e que o presidente Mauricio Macri enfrenta dificuldades com a possibilidade de Cristina Kirchner ("amiga do PT") voltar ao poder.

Bolsonaro fechou o discurso aparentemente errando o próprio bordão: "Brasil e Estados Unidos acima de tudo, Brasil acima de todos." O que costuma dizer é "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

Pouco antes do início do evento, que começou com um almoço promovido pelo World Affairs Council, cerca de 30 pessoas protestavam contra Bolsonaro. Eram grupos, principalmente, ligados às causas LGBT. Do outro lado da rua, aproximadamente 15 pessoas, parte delas vestida com camisetas da seleção brasileira de futebol, gritavam palavras de ordem a favor do presidente. Ambos os grupos deixaram o local antes do término da cerimônia.

A mudança do local da premiação frustrou empresários e líderes que pretendiam se encontrar com Bolsonaro em Nova York, o que levou a um esvaziamento de sua agenda na visita a Dallas.
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