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'Faremos uma oposição diferenciada em Brasília', diz Túlio Gadelha

Em entrevista ao Diario, o deputado federal eleito se posicionou sobre Reforma da Previdência, Escola sem Partido e avaliou prisão de Lula como "política"

Publicado em: 10/12/2018 11:13 | Atualizado em: 10/12/2018 11:35

Deputado eleito pelo PDT, Tulio Gadelha visitou sede do Diario de Pernambuco. Foto: Camila Pifano/Esp.DP


Um dos 243 novatos na Câmara, o deputado federal eleito Tulio Gadelha (PDT) encara os próximos 4 anos como um período “desafiador”. Gadelha faz parte dos 47,3% de renovação do quadro na Casa Legislativa a partir de 2019 e destaca que, além de uma reforma “consistente” no sistema político brasileiro, é necessária uma reflexão dentro dos partidos.

O jurista e professor de 31 anos afirma que estará na oposição ao governo Bolsonaro, mas de maneira “diferente”. “Faremos uma oposição diferenciada em relação ao que vem sendo feita há anos pelo PT e partidos que representam a centro-esquerda. Será uma oposição mais coerente e pontual. A forma como o PT vem fazendo oposição é de ‘nós contra eles’”.

Durante a visita que fez à direção do Diario, onde foi recebido pelo vice-presidente Maurício Ramos, Tulio Gadelha também falou sobre o projeto Escola sem Partido, Reforma da Previdência e avaliou a proposta do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) em enquadrar o MTST como “terrorismo” em projeto de lei a ser enviado ao Poder Legislativo. Tulio já exerceu o cargo de presidente do Iterpe (Instituto de Terras de Pernambuco) no governo Paulo Câmara e tem relação próxima com o campo. Mesmo tendo integrado a gestão socialista, o integrante do PDT diz que o atual governador “cometeu erros” e diz que, se depender dele, o seu partido estará na oposição ao segundo mandato do socialista em Pernambuco.

Governo Bolsonaro
“O PDT fará oposição, pois temos um projeto distinto em relação ao governo Bolsonaro, que, aliás, foi eleito sem projeto claro para o Brasil, inclusive ele não sabia nem o que queria para o Brasil. Faremos uma oposição diferente dessa que vem sendo feita há anos, pelo PT e partidos que representam a centro-esquerda. Será mais coerente, pontual, a forma como o PT vem fazendo oposição é de ‘nós contra eles’”.

Movimentos sociais
“Minha passagem pelo Iterpe (Instituto de Terras de Pernambuco) se deu muito por conta da relação com os movimentos sociais, o MST, MTST, a Fetape, pois a gente precisa discutir a vida do homem no campo, mas é essencial articular as políticas públicas. Por exemplo, chega um crédito para o agricultor, mas não chega moradia, nem irrigação. As políticas do governo estadual e federal não estão articuladas. Também vejo como um retrocesso a proposta do presidente eleito Bolsonaro de enquadrar os movimentos sociais como terrorismo, pois toda sociedade, na história da humanidade, evolui através de conflitos. São momentos difíceis de uma sociedade, mas que são fundamentais para aumentar direitos. Infelizmente, ele tem visto dessa forma porque tem um discurso populista e raso. Teremos no Congresso uma bancada forte e progressista para defender o povo sem-terra, indígenas e quilombolas. “

Mandato
“A educação será uma prioridade. Tive a felicidade de trabalhar no mandato do ex-deputado Paulo Rubem Santiago, que tem trabalho voltado para a educação, e agora ele estará no nosso mandato. Ele aceitou o convite. Aprendi muito com Paulo, no setor da educação. Também é importante, na nossa democracia, uma reforma política profunda. A maioria dos jovens entram na politica para fazer cargo ou eleger e reeleger os filhos daqueles que estão no poder. Precisamos dar espaço para essas pessoas novas.”

PDT
“O PDT tem mudado bastante. A gente não pode viver com uma eterna comissão provisória, por exemplo, que deve ter vigência de 6 meses e já foi renovada várias vezes. O partido reconheceu que, às vezes, há relações pessoais acima das políticas. O presidente do partido, Carlos Lupi, já está ciente e pretende fazer ajustes, com a inclusão das pessoas que contribuíram para a campanha de Ciro Gomes.”

Eleições
“Tanto Ciro como eu não pedimos voto para Haddad no 2º turno. Não tínhamos condições, porque o PT já vinha errando há muitos anos, e,quando teve a oportunidade de reconhecer os erros, não o fez. Eu votei em Haddad, mas não tive condições de fazer campanha porque defendia um projeto diferente de desenvolvimento para o país. Se depender de mim, Ciro é candidato em 2022.”

Pretensões para 2020
“Precisamos mostrar muito serviço e com capacidade para fazer um bom mandato. Quem decide o futuro é o povo. Mas não descarto. Tudo está em aberto e quem define é o povo.”

Reforma da Previdência
“A bancada do PDT é bem unida e vai atuar de forma conjunta. Em algumas pautas, vamos discutir internamente para tomar posição. Porém, defendo a necessidade de se fazer uma reforma previdenciária”.

Escola sem Partido
“A escola sem Partido na verdade é a escola com partido de direita. Não permite a visão holística dos estudantes em relação aos conteúdos colocados em salas de aula. Os estudantes e alunos devem comparar o conteúdo à vida real e o que acontece. Esse projeto tenta calar os professores e precisamos formar consciência crítica nos estudantes”.

Paulo Câmara
“Paulo cometeu muitos erros. Estive no Iterpe a pedido de Ciro Gomes. É tanto que Marília Arraes seria candidata ao governo se não fosse esse acordo de cúpulas dos partidos. O PSB saiu da base do PDT para ser um partido neutro. Existiam falhas no Iterpe. Em um ano, por exemplo, foram emitidos mais de mil títulos de posse, mas só 500 foram entregues. Os demais não foram concedidos porque não permitiam os servidores de entregarem, pois não havia agenda livre do governador com deputados aliados. As pessoas ficaram sem financiamento e sem crédito no banco para desenvolver e sobreviver naquelas áreas. Passamos menos de três meses no governo por conta disso, não admitíamos esse tipo de politica. Reconhecemos alguns acertos, visto que Pernambuco conseguiu segurar as contas diante da crise do Brasil, mas ele errou em outros pontos. Vamos discutir a posição do PDT em relação ao governo Paulo Câmara, mas se depender de mim a gente fica na oposição”.

Polarização na sociedade brasileira
A gente precisa dividir o que está sendo discutido tanto no Congresso Nacional quanto no Senado e debater cada posição do presidente Jair Bolsonaro com a sociedade. Ao longo dos anos, a oposição do PT não fez uma discussão profunda sobre temas importantes da agenda nacional. A gente precisa discutir tema a tema. Não precisamos colocar um contra o outro porque o campo de oposição ao longo dos anos tem dividido. A discussão mais profunda dos temas pode fazer com que possamos unir o Brasil. 

Sérgio Moro e Lula

Avalio a prisão do ex-presidente Lula como política, pois houve uma fuga de trâmite, desde a condenação sem provas concretas e materiais houve um processo acelerado. Em uma comparação com 136 processos semelhantes, a condenação do ex-presidente Lula foi justamente por conta do calendário eleitoral para enfraquecer o campo político do PT. Não só pela falta de provas, mas pelo trâmite. Isso é grave, mas ainda mais quando um juiz se coloca em favor de um projeto político de oposição aquele que o ex-presidente Lula participava. 

Túlio Gadelha
Sou uma pessoa comum, persistente, carnavalesco, ativista político, professor, jurista e um eterno sonhador. 
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