ELEIÇÕES 2018

A 'barbaridade' de Mourão, aos olhos de José Dirceu

Preso por um ano e nove meses, Dirceu veio ao Recife para lançar um livro autobiográfico e fazer a defesa do próprio nome

Publicado em: 19/09/2018 07:41

Segundo Dirceu, as próprias mulheres vão dar resposta ao machismo que, para ele, está presente no discurso dos bolsonaristas. Foto: Nando Chiappetta/DP
Poucas vezes o ex-ministro José Dirceu (PT) – homem mais poderoso do primeiro governo Lula - alterou a voz numa entrevista que durou cerca de uma hora, ontem, no Sindicato dos Servidores Federais de Pernambuco, em visita ao Recife. Ao responder perguntas dos jornalistas presentes, contudo, ele mudou o tom ao falar de Jair Bolsonaro (PSL), presidenciável que lidera as pesquisas de opinião. Indagado como o candidato adversário debateria com o presidenciável Fernando Haddad (PT), estando num hospital, ele respondeu: “Alguém vai falar por ele. O Brasil é conhecido como um país onde as mulheres são cabeças de família e as avós criam os netos. E ele (o general Mourão, vice de Bolsonaro) disse que o problema do Brasil é o avô e o pai que não estão criando? Você sabe que a maioria das mães se matou para criar os filhos, aí ele (Mourão) pega o problema da criminalidade e fala uma barbaridade dessas”, reagiu, elevando o discurso. 

Segundo Dirceu, as próprias mulheres vão dar resposta ao machismo que, para ele, está presente no discurso dos bolsonaristas. “Elas são os sustentáculos das famílias do Brasil porque os maridos, ó, muitos se mandaram. Eu estou falando uma mentira? Vamos juntar 50 jovens e ver o que a mãe fez por eles... Elas que são culpadas porque os meninos estão pegando os fuzis? Já têm dois milhões de mulheres que assinaram (participando de um grupo contra Bolsonaro), daqui a pouco vai ter dez. A resposta que ele está tendo é das mulheres”. 

Dirceu veio à capital pernambucana para participar, hoje, às 19h, do lançamento do livro Zé Dirceu – Memórias Volume 1, que escreveu durante um ano e um mês, na prisão (no Complexo Médico- Penal). Autobiográfica, a obra será apresentada no Sindicato dos Bancários, na Rua Manoel Borba, Centro do Recife, e já vendeu cerca de 30 mil cópias. Dirceu pretende passar por mais 20 cidades, durante 40 dias, para participar de debates e sessões de autógrafos. Ele ficou quase dois anos preso, condenado pelo Mensalão, e disse ter cumprido sua pena diante da justiça, mesmo sendo inocente. 
“Estou percorrendo o país para lançar as minhas memórias que escrevi durante minha prisão. Digo, na dedicatória para minha filha, que tinha três anos quando eu fui preso no Mensalão, para que ela soubesse por mim a minha história e também para o futuro para as futuras gerações”, declarou. “Não é só a minha história, é do Brasil. Eu participei dos principais eventos da vida política do país desde 1965 até hoje. Portanto,  uma posição privilegiada, sou um sobrevivente da ditadura, da luta armada, do exílio, da clandestinidade, acumulei uma experiência grande”.

Dirceu contou que o exemplar conta sobre sua relação com Lula, não é uma “chapa branca”, descreve algumas decepções e divergências, mas ressaltou não ser um texto no qual prevalece críticas ao PT, porque, diz ele, seria usado nas eleições. Na entrevista, ainda, Dirceu demonstrou ter admiração por Ciro Gomes (PDT), usou o pronome “nós” quando mencionou propostas do pedetista para o país, mas frisou que Haddad está preparado para assumir o país.  

“Vocês todos viveram os anos do Lula. Tem presidente com mais diálogo do que o Lula? De mais concessão para chegar a acordos do que Lula? A nossa marca de governar é assim, com o Haddad não vai ser diferente”, declarou, dizendo, contudo, estar preocupado com o discurso dos bolsonaristas. “A verdade é que eles já começaram a falar que o PT não pode ganha, não pode ganhar o Haddad e que a eleição é uma fraude, que vai ter fraude nas urnas... Ele está com medo de perder ou está querendo voto útil para ele. Se você ameaça o país de dar um golpe, você pode levar 5% dos eleitores a votarem, dizendo eu prefiro Bolsonaro do que ter um golpe no país”.

Dirceu defendeu a necessidade de uma reforma tributária e respondeu sobre as declarações dos militares da reserva que o acusaram de comandar o PT. “A última coisa que eu comandei foi a biblioteca do CMP (Complexo Médico-Penal). Então, isso é gravíssimo. Os oficiais da reserva podem falar o que eles querem. Os oficiais da ativa não podem não devem, tem que ser enquadrados na própria regulamentação que existe no exército e na Constituição, Eles não podem, porque eles têm armas”, declarou, dizendo ser antidemocrático alguém, com posse de arma, debater política com quem não tem.
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