2018

Pré-candidatos em Pernambuco vão sofrer críticas sem saber de que lado vêm

Para o cientista político Ernani Carvalho, movimentos nas redes sociais, sem líderes claros, são difíceis responder. A horizontalidade nos movimentos é uma novidade para a classe política

Publicado em: 02/06/2018 10:00

A horizontalidade da greve dos caminhoneiros provocou análises precipitadas e gerou “confusão” entre os políticos e os pré-candidatos, que vão enfrentar pressões, na disputa eleitoral, sem saber quem é o líder específico daquele movimento. O impacto da paralisação foi tão grande, na avaliação de Ernani Carvalho, que vários setores tentaram tirar proveito da situação e, depois, precisaram recuar. O terreno estava movediço. “Vários segmentos tentarem surfar na greve dos caminhoneiros e depois foram tirando apoio. O setor agropecuário apoiou, depois foi retirando; os partidos de esquerda ficaram apoiando e depois criticando, houve uma certa confusão”, destacou Ernani, ressaltando que o próprio Jair Bolsonaro (PSL) deu apoio aos grevistas e depois recuou. “A paralisação precisa acabar, não interessa a mim, ao Brasil, o caos”, disse o presidenciável.

Segundo Ernani, a classe política ainda não encontrou saída para dialogar com manifestações que ganham força na internet, sem um cabeça, o que será um desafio nas eleições de 1998. “Esse é um processo novo e também tem a ver com a judicialização na política. Como nos tornamos uma sociedade altamente judicializada, a liderança de um movimento passa a responder judicialmente pelos atos de uma categoria”, declarou, explicando que, agora, sem líder, as autoridades não podem nem mesmo responsabilizar alguém por um movimento.


Segundo o cientista social Elton Gomes, que tem doutorado em ciência política pela Universidade Federal de Pernambuco, outros presidentes já enfrentaram uma greve de caminhoneiros, mas não na mesma dimensão da realizada agora, de 11 dias. Ele lembrou que José Sarney (MDB) precisou lidar com uma grande crise de rodoviários e transportadores de carga em 1987, às vésperas do Plano Bresser; Itamar Franco passou por uma greve de caminhoneiros com uma configuração de locaute e, em 1998, o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) vivenciou algo semelhante após implantar a desoneração do câmbio e a crise dos países emergentes.


Elton Gomes destacou que a então presidente Dilma Rousseff, em 2015, veio a público dizer que os caminhoneiros cometiam “crime” ao bloquear as estadas. “Hoje em dia, com as novas tecnologias e as modernas ferramentas de comunicação, como o WhatsApp, é possível realizar um movimento descentralizado, num espaço curto de tempo (…) Essa greve foi a mais importante do ponto de vista da abrangência e da duração, foi a mais longa que se teve notícia na história do Brasil”. (Aline Moura)

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