Opinião

Ary Avellar Diniz: O adeus a um dileto amigo

Ary Avellar Diniz é diretor do Colégio Boa Viagem e da Faculdade Pernambucana de Saúde

Publicado em: 19/01/2018 07:34

Geralmente, o ser humano de boa índole admira pessoas de bom caráter, podendo ser incluído nesse rol um parente, um líder político ou religioso e, até mesmo, um desportista de renome.

No início década de 50, quando se atingia a idade de 16 anos, poucas opções profissionais de curso superior se apresentavam. O rol de faculdades resumia-se a Medicina, Engenharia e Direito, todas elas de difícil acesso, em razão da escassez de ensino superior ofertado nos menores estados da Federação. Outras alternativas viabilizadas aos jovens da época: o ingresso no Banco do Brasil ou na Escola Militar, cujos concursos ensejavam rigorosa seleção.

Fui aconselhado pelo meu primo Tarciso Avellar a ingressar na Escola Preparatória de Cadetes, em Fortaleza (pré-AMAN), equivalente, hoje, ao ensino médio. Tarciso já cursava essa instituição desde 1950.

No ano de 1954, estávamos Tarciso e eu matriculados na Academia Militar das Agulhar Negras, RJ, respectivamente no 3.º e 1.º anos, mantendo-se a antiguidade de dois anos.

Durante os licenciamentos de fim de semana, hospedávamo-nos algumas vezes na casa de uma tia (Dulcelina), situada num bairro central do Rio de Janeiro.

Tarciso mantinha sempre a autoestima e a persistência nas conquistas dos seus objetivos. Em determinada disputa olímpica no âmbito da AMAN, quando se defrontavam as armas da Infantaria, Artilharia, Cavalaria, Intendência e Engenharia (esta última era a arma de Tarciso), destacava-se um cadete de nome Mário Gonzales, gaúcho da arma de Cavalaria considerado o terror das pistas de atletismo, pois nunca houvera perdido para outro companheiro nas provas de 100m, 200m e 4 x 100m.

Naquela competição, Tarciso venceu Mário Gonzales. — Muito espanto e muitos aplausos para o vencedor!

Dando continuidade à sua trajetória de vida, obteve Tarciso aprovação no IME (Instituto Militar de Engenharia), especializando-se em Engenharia de Comunicações. No início da década de 60, foi convocado para servir em Suez, em missão internacional levada a efeito pela ONU. Anos depois nos encontramos no Recife, ambos no posto de capitão; e, decorridos 12 anos de carreira (ele) e 10 anos (eu), pedimos baixa do Exército, cada um seguindo seu destino profissional na vida civil.

No ano de 1970, estivemos juntos, acompanhados de outros técnicos, na tentativa de formar um grupo que se propunha a desenvolver um projeto de integração de municípios, uma integração que iria da cidade de Camarajibe à de Surubim, formando uma possível microrregião. Posteriormente, apresentaríamos tais estudos às autoridades políticas competentes.

Na posição de diretor-presidente da Embratel, Tarciso tencionava transformar o meio de comunicação na época, o telefone, que funcionava mediante uma arcaica e pequena manivela acoplada a seu lado direito, num aparelho com DDI, falando diretamente para o mundo.

O planejamento integrado não foi adiante, pelo fato de o entendimento dos políticos locais não alcançar, infelizmente, a magnitude do projeto, que congraçaria doze municípios numa microrregião, promovendo economia de escala; vale dizer: qualquer obra, nesse espaço, só poderia ser executada se estivesse prevista no referido planejamento.

Isto se deu há meio século!

Aceitamos o desfecho final por entender que a vida é cheia de alegrias e tristezas, altos e baixos.

Abalou-me deveras os sentimentos o acontecido no dia fatídico de 10 de julho de 2017. Tarciso partiu para a eternidade e, nas minhas preces durante o velório, momentos antes da cremação do corpo, pude despedir-me do primo dileto amigo, na certeza de que ele já está na presença do Senhor, em companhia dos seus (genitores, irmãos e tios, e dos padrinhos de batismo (meus pais).

Lembrei-me ainda que aos domingos, na AMAN, assistíamos às missas dominicais, logo relacionadas, em minha memória, com aquele último ato de piedade cristã de corpo presente, sendo que Tarciso, naquele ambiente, não tinha mais condições de proferir uma única palavra…
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