Diario Editorial: O Brasil em segundo plano

Publicado em: 19/08/2017 08:27 Atualizado em:

Campanhas políticas antecipadas podem trazer danos para os seus protagonistas — podem ferir a legislação eleitoral, que as proíbe, e também ferir a sensibilidade do eleitor, que diante de tantos problemas no dia a dia vê (pré)candidatos tratando de algo que só vai acontecer dali a um ano. Mas nada disso impede que elas aconteçam. Para escapar de possíveis punições, eles dizem que não estão infringindo a lei, apenas participando de atos para os quais foram convidados. E quanto à sensiblidade do eleitor, que — no caso do gestor — talvez preferisse que ele estivesse cuidando dos assuntos da sua gestão, o argumento é que a ausência para participar dos atos não atrapalha a administração.

O raciocínio exposto vem a propósito do fato de que estamos neste momento com uma clara campanha antecipada. Só aqui no Nordeste, por exemplo, tivemos esta semana a visita de dois nomes sob medida para ilustrar o que estamos dizendo: Lula, do PT, e João Doria (PSDB).  Não são os únicos, porém os mais proeminentes. O petista não ocupa cargo público,  e por isso tem mais liberdade de ação, em que pese a ameaça de não poder ser candidato em caso de condenação em segunda instância em algum dos processos nos quais é réu. Já o tucano é prefeito de São Paulo, cargo no qual está há pouco mais de sete meses. Aos que lhe questionam sobre as viagens, Doria afirma que seu governo tem uma equipe apta a gerir a cidade com eficiência enquanto ele está fora. Lula será candidato se quiser, desde que não seja impedido por eventuais condenações. Doria precisa ainda passar pelo crivo do PSDB — é isso que o leva a ter pressa e a avançar sinais, na esperança de criar condições para que seja aceita uma eventual ultrapassagem sobre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que está à frente da fila tucana para disputar a Presidência da República.  

Em um mundo ideal, campanhas antecipadas não existiriam. No mundo real, a situação é diferente. Alguns fatores as estimulam, e quando eles estão presentes a corrida eleitoral vai para as ruas logo. Entre esses fatores estão vácuos de poder, rejeição popular dos dirigentes,  crise política com efeitos sobre indefinições de candidaturas. No caso do Brasil, o presidente Michel Temer já disse que não será candidato — com isso, não há constrangimentos em integrantes de sua base se declararem interessados no posto que ele ocupa. Do outro lado, temos o caso de Lula lutando por sua sobrevivência legal e política. Além disso, temos ainda o detalhe de que a próxima campanha será mais curta que as anteriores, com menos recursos e com a propaganda de rádio e TV sob limitações (que tornam bem mais difícil, por exemplo, a desconstrução dos adversários).

Sem estabelecer juízos de valor sobre o comportamento de A ou de B, o fato é que toda essa sofreguidão passa um pouco a impressão de forças e personagens políticos lutando por ascensão, enquanto o país fica em segundo plano.
 


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