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Diario Editorial: Intolerância nos Estados Unidos

Publicado em: 15/08/2017 07:10 Atualizado em: 15/08/2017 07:36

Supremacia branca — o termo soa anacrônico sobretudo numa nação formada por imigrantes de diferentes etnias e diferentes origens. Soa também extemporâneo. No século 21, em que o mundo se movimenta em direção à tolerância, à aceitação do diferente, choca e constrange a manifestação registrada em Charlottesville no último sábado. O saldo: um morto, 19 feridos e o medo que se espalha pelo território americano.

Choca também a primeira declaração de Donald Trump. Em geral sem papas na língua, o presidente usou palavras genéricas, que não apontam o dedo para ninguém nem põem o dedo na ferida da questão: “Condenamos nos termos mais fortes possíveis essa chocante demonstração de ódio, fanatismo e violência de muitos lados”, disse no clube de golfe que frequenta em Nova Jersey. O alto nível de abstração dos vocábulos recebeu contestação do ex-vice-presidente Joe Binden. “Há só um lado”, frisou ele no Twitter.

A imprensa e a população cobraram condenação mais enfática. Só ontem, depois de pressão crescente, ele nomeou clara e enfaticamente os grupos fascistas que espalharam o ódio na pequena cidade do estado da Virgínia. Entre eles, o violento Ku KLux Klan. Atacou o racismo e frisou que todos são iguais perante a Constituição. Por seu lado, o chefe do Departamento de Polícia classificou de terrorismo doméstico o ataque de carro que roubou uma vida e atropelou duas dezenas de pessoas.

Repulsa ao racismo, ao nazismo, à homofobia, à supremacia de grupos constitui conquista da civilização. Não por acaso o mundo viveu guerras sangrentas para vencer demagogias violentas e excludentes. O retrocesso é inaceitável. A eleição de Donald Trump, porém, reacendeu ódios que pareciam enterrados na poeira do tempo e reabriram chagas que a todos interessa cicatrizar. O questionamento da nacionalidade de Barack Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos, serviu de alento para os racistas. A restrição da entrada de nacionais de países muçulmanos reforçou a islamofobia. O projeto de erguer um muro na fronteira com o México para impedir o trânsito dos vizinhos estimulou o nacionalismo presente no slogan de campanha América para os americanos.

Não por acaso Petula Dvorak, colunista do Washington Post, escreveu que Trump “acendeu as tochas” que arderam em Charlottesville. É importante punir exemplarmente a cultura do ódio de supremacistas brancos ou quaisquer outros. Não se pode esquecer que os Estados Unidos funcionam como caixa de ressonância. Os intolerantes são capazes de lançar veneno além do território da maior potência do planeta.


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