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Diario Editorial: Entre a desconfiança e o trauma

Publicado em: 22/07/2017 08:10 Atualizado em:

O brasileiro tem trauma com aumento do preço dos combustíveis, dizia em outubro de 2016 o então presidente do conselho do Sindicato das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Leonardo Gadotti Filho. “Isso sempre foi manchete de jornal. Em outros mercados, os preços sobem e descem acompanhando as cotações internacionais”, afirmava o dirigente ao falar, naquela época, sobre elevação do preço da gasolina. Esse trauma talvez tenha sido criado, ou se agigantado, durante a hiperinflação dos anos 1980. Nesse período, todo brasileiro sabia que após o aumento do preço do combustível, nos dias seguintes ele já estaria impactando no feijão, no arroz, nas compras do dia a dia, nos serviços. O lançamento do Plano Real, em 1° de julho de 1994, conteve o frenesi que se seguia à elevação do valor do produto, mas de lá para cá - em menor escala, e sem o automatismo do efeito-cascata de antes - o brasileiro sempre conviveu com “o aumento da gasolina”, como mostra a declaração do ano passado do representante das distribuidoras. 

Estamos agora diante de novo aumento: na última quinta-feira, o governo anunciou a elevação do PIS/Cofins sobre combustíveis, que levará, entre outros reflexos, ao aumento da gasolina. Óbvio que nenhum governo aumenta impostos movido pela intenção de causar insatisfação; aumenta porque julgou que aquela era a única alternativa de que dispunha. Pode-se criticar a medida, apontar outras opções, mas quando um governo age assim é porque não vislumbrou outra alternativa plausível - como, aliás, lembrou o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, justificando que esta era “a única saída” do momento para conseguir elevar as receitas do governo, em queda por causa da recessão. “Houve queda da arrecadação, pelo resultado das empresas e do setor financeiro, que refletiram prejuízos acumulados nos últimos dois anos que estão sendo amortizados agora”, disse ele. Outro ministro, Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência, reforçou: “Ninguém gosta de aumentar impostos. Nosso objetivo é diminuir a carga fiscal, mas não podíamos comprometer o avanço que já tivemos”. 

Se estivéssemos nos anos 1980, a essa altura os preços de diversos outros produtos já estariam sofrendo reajustes. Não estamos, e nas análises de especialistas ouvidos pela imprensa, há opiniões divergentes: alguns acham que o aumento compromete a recuperação da economia, enquanto outros consideram que o impacto na inflação será moderado. Ao brasileiro - desconfiado pelo que viu no passado - resta aguardar para ver as consequências da medida em seu dia a dia.
 


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