Diario de Pernambuco
Busca
Diario Editorial: A conciliação necessária

Publicado em: 27/05/2017 07:55 Atualizado em:


No início dos anos 1960, um diplomata inglês enviou para seus superiores relatório sobre o que estava acontecendo aqui. Descreveu e analisou fatos e pontuou a gravidade da situação. Mas ao final deixou uma advertência: “É preciso considerar que o Brasil é um país que tem o hábito de correr até a beira do precipício e de repente voltar”.

A crise pela qual estamos passando há mais de dois anos, e os acontecimentos recentes, que colocam em xeque a permanência de Michel Temer no cargo, são novos indicativos a justificarem essa frase. Nesse curto período de tempo tivemos o impeachment da presidente eleita, Dilma Rousseff, e estamos agora em meio a um processo que pede o afastamento do seu sucessor, que assumiu por ser ser o vice na chapa.

Quinta-feira passada a OAB, entidade máxima da advocacia no país, protocolou na Câmara pedido de impeachment do novo presidente. Defende a perda do mandato dele e o seu afastamento da vida pública pelos próximos oito anos, dado o que considera “crime de responsabilidade” praticado no episódio da JBS. “O país não sofre nenhuma desestabilização pela abertura de um processo de impeachment”, afirmou o presidente do Conselho Federal da OAB, Claudio Lamachia.

Quem se detém a observar a amplitude e os efeitos do que está acontecendo, tem motivos para surpreender-se com o fato de a situação não ter chegado a um nível pior do que aquele em que está. Em que pese a ausência de lideranças, em que pese a desconfiança popular em relação a instituições e autoridades (da política e do Judiciário), em que pese a incerteza sobre o futuro, em que pese a possibilidade de termos dois presidentes afastados em menos de três anos — em que pese tudo isso, o Brasil continua seguindo em frente. As instituições funcionam, os poderes funcionam, as empresas funcionam, e o povo segue em frente, ora protestando, ora resignado, e no geral pagando a fatura mais pesada do preço da crise.

Não vemos risco, também, de ruptura institucional, nem há forças influentes defendendo tal coisa, como ocorria no agitado período em que aquele diplomata inglês enviava relatórios sobre o Brasil. De alguma forma, evoluímos. O que não significa que o país esteja bem. Muito pelo contrário, como sabemos todos nós. Não estamos diante do risco de uma ditadura, mas em relação à economia e à política, já nos aproximamos demais da beira do precipício. Está na hora de dar meia volta e retornar.


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL