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O Natal é hoje, amanhã e depois...

Chico Carlos
Jornalista

Publicado em: 26/12/2022 05:35 Atualizado em:

Desejo falar de uma coisa... Pensei em fazer uma mensagem com palavras bonitas e cheias de emoção para distribuir com os amigos/as. Pensei, ainda, em fazer um outdoor com estrelas. Entretanto, observando os fatos, vejo que o Natal, antes de ser uma festa de confraternização familiar, é um momento de reflexão, de questionamentos. Jesus Cristo nasce, cresce e morre todos os dias. E não é com bolas, festas, exibicionismos e mesas fartas que o recebemos. Nem pensar!

Andando diariamente pelas ruas da cidade do Recife, percebo que “Jesus Cristo” nasce e sofre, estirando a mão vazia, suja, e com os olhos de uma infância marcada pela fome e pela falta de esperança. Então, me pergunto: onde estão as estrelas? Qual é o verdadeiro sentido das festas natalinas? E as promessas de nossos governantes? Chega de tanta ilusão e fantasia!. Mas, não quero nem gosto de ser pessimista. Aliás, eu nunca gostei dessa palavra, digo melhor ela quase nunca faz parte do meu cotidiano.

Todavia, a realidade não me foge aos olhos. É dura e, ao mesmo tempo, cruel. É impossível não ouvir “Jesus Cristo” andar próximo de mim e bater à minha porta, pedindo um pedaço de pão que ele, durante a ceia Santa há milênios disse aos seus apóstolos “tomai e reparti entre vós, pois este é meu corpo...” É impossível não sentir que a cruz de cada dia está ainda mais pesada e que o ‘palco da vida’ está repleto de egoístas, gananciosos e de aproveitadores... Eles estão surdos!

E aí que vejo: uma inquietação patente e até insegurança tomando conta das pessoas. O grau de padronização, massificação e consumismo, empurrado pela ditadura de modismo parecem não ter fim na era da globalização e do mundo digital.  É necessário parar, pensar e escutar “Jesus Cristo” no choro da criança abandonada e desamparada pelos poderes públicos, que sobrevive na miséria e pobreza das periferias das grandes cidades deste país. Nas crianças com câncer ou doenças infecto-contagiosas, naquelas que sofrem maus tratos e depois são entregues à própria sorte pelos pais ou responsáveis. Os números da violência e do abandono cresceram nos últimos tempos, apesar de não serem divulgados com transparência.

Vamos gritar? Gritar bem alto para que os ouvidos de nossas almas possam escutar e despertar. Desejo gritar que é ainda é tempo, ainda não é noite e que o dia não terminou. Podemos abrir nossas mãos e construir, fazer o bem. Fazer o bem aparentemente parece ser tão monótono, minúsculo e insignificante. Sem frutos visíveis a serem colhidos de imediato. Não é bem assim. Não aprenderemos a lição, se fugirmos dela, e não conseguiremos dormir em paz, sem termos cumprido com o dever na estrada e na poeira das ruas que sonhamos. Então, vamos juntos neste barco de esperança. Daqueles que acreditam no valor das pequenas coisas. Daquelas que não visíveis aos olhos, porém de um valor imenso...

Para que o Natal se faça dentro de nós de maneira autêntica, sem luxos, opulência e hipocrisias. Para que a estrela brilhe na vida de todos nós.  Para que o Natal seja verdadeiro em cada um de nós, porque somente uma viagem no interior da alma é capaz de transformar o homem a viver o Natal de todo dia.

Se, eu fosse invulnerável, como realizar o contato, a aproximação, o diálogo, a sintonia, a comunicação?  Se, eu não carregasse cicatrizes, como entenderia as cicatrizes dos que me procuram? Ainda resta esperança. Quando um punhado de lutadores não abandonam a esperança, a vontade de melhorar os destinos da humanidade, de fazer o bem e amar o próximo. Isso mesmo: amar ao próximo, desenvolvendo o amor em nós, deve ser o nosso objetivo, se queremos ser, a cada dia, pessoas melhores, mais solidárias, fraternas e felizes. É inegável que o amor ao próximo nos leva a amarmo-nos sem egoísmo, ganâncias e vaidades. Precisamos aprender olhar cada pessoa com olhos de simpatia, vontade de gostar dela, com os olhos do coração.

“Como posso perder minha fé na justiça da vida, quando os sonhos dos que dormem num colchão de penas não são mais belos do que os sonhos dos que dormem no chão?”

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