OLIMPÍADAS
Com argelina Khelif, debate sobre hiperandrogenismo vem à tona nas Olimpíadas 2024
A argelina Khelif entrou pela primeira vez no ringue em Paris nesta quinta-feira
Publicado em: 02/08/2024 08:14 | Atualizado em: 02/08/2024 11:13
A argelina Khelif lutou contra a italiana Carini (Crédito: MOHD RASFAN / AFP) |
A chocante estreia da boxeadora argelina Imane Khelif nesta quinta-feira (1º) em Paris-2024 reacendeu a polêmica sobre a participação olímpica de atletas hiperandróginas e provocou fortes reações de personalidades como Javier Milei, Giorgia Meloni, Donald Trump e Elon Musk.
Khelif é uma das duas boxeadoras presentes na capital francesa que foram reprovadas no teste de elegibilidade de gênero em 2023 devido aos altos níveis de testosterona.
A argelina entrou pela primeira vez no ringue em Paris nesta quinta-feira e viu sua adversária, a italiana Angela Carini, jogar a toalha após apenas 46 segundos de combate.
Depois de receber uma forte pancada no rosto, Carini foi em direção ao canto do ringue para se retirar. Numa cena dramática, o juiz declarou Khelif a vencedora da luta dos meio-médios das oitavas de final (entre 63,5 e 66,6 kg), enquanto Carini caiu de joelhos aos prantos.
NÃO FOI EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES
A argelina se aproximou depois para apertar a mão da oponente, mas Carini, magoada, evitou o cumprimento.
"Não conseguia continuar. Meu nariz doía muito e falei: 'Parem'. Era melhor não continuar", declarou a italiana. "Sempre lutei contra homens, treino com meu irmão, mas hoje senti muita dor".
"Não sou ninguém para julgar ou tomar uma decisão. Se esta mulher está aqui, por algo será", disse Carini em outra declaração à agência Ansa.
Presente em Paris, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, saiu em defesa da compatriota, afirmando que o combate "não foi em igualdade de condições".
"Não concordo com o COI", declarou Meloni durante um encontro com atletas italianos. "As atletas femininas que possuam características genéticas masculinas não devem ser admitidas em competições femininas".
O presidente argentino, Javier Milei, se juntou aos comentários. "Se ela continuasse, a mataria", disse ele na rede social X.
Khelif, que recebeu forte apoio das autoridades de seu país, comemorou a "rápida vitória" e disse que continua "focada no objetivo de uma medalha olímpica".
UMA LONGA CONTROVÉRSIA
Essa luta é o mais recente episódio do longo debate sobre a participação esportiva de atletas hiperandróginas, mulheres que apresentam níveis naturais elevados de testosterona.
Estes casos, que são excepcionais em competições de alto nível, levaram as autoridades a estabelecer regras específicas, que devem encontrar equilíbrios complexos entre ciência, equidade e direitos.
A atleta sul-africana Caster Semenya, bicampeã olímpica dos 800m, recorreu ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos depois de ter sido privada de competir durante vários anos porque se recusou a tomar medicamentos para reduzir o seu nível de testosterona.
Imagens da luta entre Khelif e Carini causaram polêmica nas redes sociais, entrando na campanha presidencial dos Estados Unidos.
Elon Musk, dono da rede social e apoiador de Donald Trump, respondeu a um usuário que compartilhou cenas da luta garantindo: "Kamala Harris apoia isso", em referência à vice-presidente dos Estados Unidos e possível candidata democrata.
"Vou manter os homens fora dos esportes femininos!", escreveu o candidato republicano e ex-presidente Donald Trump na rede Truth Social.
MENTIRAS
Khelif e outra boxeadora, a taiwanesa Yu Ting Lin, foram os casos que mais repercutiram de atletas hiperandróginas nos Jogos.
Há três anos, ambas participaram das Olimpíadas de Tóquio, mas em 2023 foram desclassificadas do Mundial por não terem passado nos testes de elegibilidade de gênero, decisão da Federação Internacional de Boxe (IBF).
Nesta quinta-feira, Khelif foi recebida na Arena Paris Norte com grandes aplausos de vários torcedores argelinos, agitando as suas bandeiras nacionais.
Horas antes, o Comitê Olímpico Argelino (COA) saiu em defesa de sua boxeadora, alegando que ela foi vítima de "mentiras" e "ataques antiéticos".
"Como nas competições olímpicas anteriores de boxe, o sexo e a idade dos atletas são baseados em seus passaportes", escreveu o COI num comunicado divulgado à noite, criticando os "ataques" contra as duas boxeadoras e a "decisão arbitrária" da IBF em 2023.
O COI, que assumiu a organização do boxe olímpico por falta de transparência da IBF, já havia garantido que todos as boxeadoras "cumprem as regras de elegibilidade da competição".
"O teste de testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, embora ainda sejam mulheres", disse seu porta-voz, Mark Adam.