Desastre social Tragédia de Mariana ainda afeta economia da cidade e gera desemprego de 23,5% Desde o rompimento da barragem, o município de Mariana viu o desemprego, que nunca havia ultrapassado os 6%, atingir 23,5% da população

Publicado em: 05/11/2017 11:39 Atualizado em: 05/11/2017 11:43

Desde o rompimento da barragem, o município de Mariana viu o desemprego, que nunca havia ultrapassado os 6%, atingir 23,5% da população. A arrecadação, por sua vez, caiu de R$ 27 milhões por mês para R$ 17, 5 milhões. O motivo: a inatividade da mineradora Samarco. As contas da prefeitura simplesmente não fecham.

"Desde o rompimento, vivemos uma tragédia continuada", diz o prefeito Duarte Eustáquio Gonçalves Junior (PPS), de 37 anos. O promotor de Justiça do Ministério Público de Minas, Guilherme de Sá Meneghin, de 34 anos, faz coro: "Há uma perpetuação diária da violação dos direitos das vítimas, sobretudo na forma como a empresa as trata".

Para o prefeito, a empresa falhou e os responsáveis devem responder por isso. "Não havia sirenes, ninguém foi avisado. Se fosse noite, teria exterminado a população." Mas ele destaca que a Samarco não abrigava só os responsáveis pela tragédia, mas também funcionários técnicos, da limpeza, motoristas - e eles também estão sem trabalho.

"Vivemos entre a cruz e a espada: os responsáveis precisam ser punidos, mas, sem o retorno da mineração, há uma segunda tragédia", diz Gonçalves.

O desafio da compensação necessária em Mariana

Roberto Waack, de 57 anos, tem uma missão nada fácil. Presidente da Renova, fundação criada com a missão de implementar e gerir os programas de reparação dos impactadas do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, ele lida com indenizações, reassentamentos, recuperação da água e reflorestamento. O auxílio emergencial é pago a 8 mil pessoas. Só 180 mil foram ressarcidas pela falta de água - de um total de 450 mil afetados. Outros estão em fase final de negociação.

A parte das indenizações é considerada a mais complexa, mas a Renova diz que já iniciou os processos de pagamento. "É difícil estimar todas as atividades econômicas de cada um, pesca, pousada, agronegócio, fora danos morais."

Waack admite lentidão. "Demorou sim. Mas não é um processo trivial", afirma. "Por exemplo: 80% dos pescadores (que viviam da pesca no Rio Doce e afluentes) são informais, não têm como comprovar as perdas. Tivemos de buscar outras formas de comprovar isso." A indignação de grupos afetados é "justificável", segundo ele. "Elas (as vítimas) querem receber o dinheiro e têm razão."

Sobre a recuperação ambiental, garante não haver vazamento de rejeitos e destaca que a água voltou a ser potável. Muitos moradores, porém, continuam bebendo água mineral.

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