INVESTIGAÇÃO

Pai de jovem em coma dá detalhes de cirurgia na mandíbula e aponta erro médico

A estudante de medicina da UERJ vivia o auge da vida acadêmica e pessoal quando teve uma parada cardiorrespiratória após a operação

Publicado em: 26/04/2024 21:23



Larissa estudava Medicina na UERJ (foto: Arquivo Pessoal/Material cedido ao Correio)
Larissa estudava Medicina na UERJ (foto: Arquivo Pessoal/Material cedido ao Correio)

Em 16 de março de 2023, a estudante mineira Larissa Moraes de Carvalho passou por uma cirurgia ortognática, para corrigir mordida e mandíbula — e, desde então, vive em estado vegetativo. A operação, que deveria ser simples, causou-lhe uma parada cardiorrespiratória, que deixou sequelas cerebrais.

 

Larissa, na época com 31 anos, cursava medicina na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Em entrevista ao Correio, Ricardo Carvalho, pai da estudante, detalhou o dia do procedimento médico. 

 

A operação realizada por Larissa é uma cirurgia ortognática, para a correção de mordida cruzada e mandíbula. Não é uma cirurgia estética e requer anestesia geral. No entanto, a expectativa era de uma recuperação rápida. O procedimento ocorreu em uma quinta-feira, e de acordo com o pai, Larissa esperava voltar para as aulas da faculdade na segunda-feira seguinte.

 

Quando saiu da operação, a jovem estava consciente, de acordo com o prontuário médico. Às 17h25, ela foi encaminhada para a sala de recuperação pós-anestésica, em que se recomenda que o paciente fique ao menos uma hora, a depender da cirurgia. Mas, às 17h45, Larissa saiu desta sala e foi levada para o quarto, onde chegou às 18:02.

 

Ao chegar no quarto, Larissa já estava em parada cardiorrespiratória. "Eu estava com o celular na mão, prestes a escrever uma mensagem para a família, quando vi pela fresta da porta que um técnico de enfermagem fazia massagem cardiorrespiratória nela. Foi um momento horrível", descreve Ricardo.

 

Como ficou um longo período em parada cardiorrespiratória, Larissa teve sequelas cerebrais.

 

Para a família, resta a dúvida do que aconteceu durante os 17 minutos de deslocamento da jovem da sala pós-anestésica para o quarto. "Se descer de elevador, é menos de um minuto. O hospital não quis liberar as imagens para nós analisarmos o que aconteceu neste trajeto", afirma Ricardo. Nem com pedido judicial o hospital cedeu as gravações.

 

O técnico que realizou o transporte de Larissa teria sido demitido dias após a cirurgia, segundo familiares da jovem.

 

 

 

Investigação

 

Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, um inquérito policial está em curso para investigar possíveis falhas médicas. Um documento ao qual o Correio teve acesso detalha que a postura dos profissionais durante e depois da cirurgia, descrita no prontuário, não seguia as normas do Conselho Federal de Medicina.

 

"A anestesista teve atitudes completamente incorretas que não condizem com a correta prática médica, sendo que a mesma não registrou no boletim anestésico, o momento e dose de administração de cada fármaco, mas somente a listagem final com dose total de cada fármaco. Não há registro documentando a maneira e via que essa medicação foi administrada, se houve divisão da dose total, os horários de administração, se a dose foi única ou distribuída ao longo do período anestésico", diz a análise do prontuário, realizada por uma empresa contratada pelo pai de Larissa.

 

"Embora conste no checklist de transporte intra-hospitalar que Larissa foi acompanhada, no deslocamento pelo técnico de enfermagem, não há qualquer registro feito pelo mesmo quanto à intercorrência/complicação ocorrida durante o transporte", continua a análise. "Também consta registrado em ata notarial [...] TODOS os pacientes irão descer para os andares monitorizados (com oximetria frequência de pulso) em monitor com tela visível. [...] O que significa que a citada norma não foi obedecida."

 

"O que a gente queria, de verdade, é que nada disso tivesse acontecido. Agora, esperamos que a polícia descubra o que aconteceu com ela", finaliza Ricardo.

 

Procurada pelo Correio, a Santa Casa de Juiz de Fora alegou que vai se pronunciar apenas nos autos do processo.

 

"Neste momento extremamente delicado, gostaríamos de expressar nossa mais profunda solidariedade à família da paciente. Entendemos a angústia e a preocupação que acompanham essa situação. Por fim, a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora informa que, uma vez instaurada ação na Justiça, em respeito ao devido processo legal, o hospital não fará quaisquer comentários sobre o caso fora dos autos judiciais", informa a nota.

 

 

Larissa vivia o melhor momento da vida

 

O procedimento cirúrgico ocorreu em um momento especial da vida de Larissa. Segundo o pai, ela estava vivendo seu "auge". Além do curso de medicina, ela também jogava no time de vôlei da universidade e estava rodeada de amigos. "Larissa sempre foi uma pessoa muito alegre e que cultivava muitas amizades desde a infância", lembra Ricardo Carvalho. 

 

Aos 10 anos, Larissa já frequentava os clubes de vôlei, e chegou ganhou bolsa de estudos em um colégio de Juiz de Fora por causa do esporte.

 

Na faculdade, cursou primeiro farmácia, inspirada pela irmã mais velha. Formada, foi trabalhar em uma multinacional em Ponta Grossa, no Paraná, e depois em Alagoinhas, na Bahia. No entanto, não se sentia realizada profissionalmente.

 

"Teve um dia em que ela nos contou que queria voltar para Juiz de Fora e fazer vestibular de medicina. Ela se dedicou e conseguiu o que ela queria, passar na UFRJ", celebra o pai, orgulhoso.

 

Em março deste ano, Larissa foi transferida para casa no regime home care, com acompanhamento profissional 24 horas.

 

 

Confira as informações no Correio Braziliense.

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