Regime talibã acusa o Paquistão de ataques ao Afeganistão
"O incidente está sendo investigado, mas ainda não foram registradas vítimas", afirmou o porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid
Publicado: 10/10/2025 às 15:42

Porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid (AFP)
O Afeganistão acusou o Paquistão de violar a soberania territorial de Cabul, que, de acordo com o governo, foi atingida por duas explosões não reivindicadas que podem ter tido como alvo o líder dos talibãs paquistaneses. A agência de notícias espanhola EFE publicou que o alvo era o líder do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), Noor Wali Mehsud. Mas, o TTP não confirmou até agora sobre a alegada morte de Mehsud.
"O incidente está sendo investigado, mas ainda não foram registradas vítimas", afirmou o porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid.
Segundo as autoridades do país, a capital foi atingida por uma primeira explosão na quinta-feira à noite, seguida pouco depois, por uma segunda detonação. Durante a madrugada, fontes locais também reportaram terem avistado drones bombardeando Barmal, em Paktika, no sudeste do país.
"Mais uma vez, o Paquistão invadiu o espaço aéreo afegão, bombardeando um mercado civil na cidade de Paktika, perto da linha Durand, e violando a soberania territorial de Cabul", afirmou o Ministério da Defesa.
O Ministério também disse se tratar de um ato hediondo, violento e sem precedentes na história dos dois países asiáticos e vizinhos. “Se a situação se deteriorar após estas ações, as consequências recairão sobre o exército paquistanês", ameaçou.
Do lado paquistanês, o porta-voz do exército, general Ahmed Chaudhry, não reivindicou as explosões, entretanto pediu a Cabul para que deixe de abrigar grupos terroristas, ou seja, talibãs paquistaneses. "Para proteger a vida e os bens do povo paquistanês e preservar a integridade territorial do nosso país, estamos a fazer, e continuaremos a fazer tudo o que for necessário", declarou Chaudhry.
Questionado sobre a suposta morte do líder do TTP, o porta-voz apenas disse que o Paquistão tinha tomado nota das notícias divulgadas pelos meios de comunicação e aludiu a uma politização da questão do terrorismo. "O Afeganistão está sendo usado como base de operações para atos terroristas contra o Paquistão. Temos provas disso", enfatizou. Chaudhry atribuiu esta base a Índia.
A troca de acusações ocorre no dia em que o ministro das Relações Exteriores indiano, Subrahmanyam Jaishankar, recebeu em Nova Deli o chefe da diplomacia afegão, Amir Khan Muttaqi, e adiantou que a Índia vai transformar a representação em Cabul numa embaixada de pleno direito. "Tenho o prazer de anunciar hoje que a missão técnica da Índia em Cabul volta a ser a embaixada da Índia", disse Jaishankar.
Jaishankar acrescentou que os dois países enfrentam a mesma ameaça do terrorismo transfronteiriço, em referência ao vizinho Paquistão.
Já o Paquistão enfrentou em 2024 o ano mais mortífero em quase uma década, com mais de 1.600 mortos causados por incidentes de violência, sobretudo na região da Caxemira, região disputada entre os dois países. Mas, os conflitos e as tensões também escalaram este ano no território fronteiriço.
Atualmente, a Rússia é o único país a reconhecer o emirado islâmico imposto pelos talibãs após terem derrubado o governo apoiado pelo Ocidente. Mas, outros países que não reconheceram o governo dos talibãs mantiveram uma embaixada na capital do Afeganistão.

