Israel encerra ofensiva em Gaza e palestinos começam a retornar às suas casas
O acordo com o Hamas também deve permitir a libertação dos reféns israelenses
Publicado: 10/10/2025 às 15:25

Palestinos a caminho da Cidade de Gaza (EYAD BABA / AFP)
Israel anunciou nesta sexta-feira (10) a entrada em vigor do cessar-fogo em Gaza após o acordo com o Hamas, e milhares de palestinos deslocados começaram a retornar às suas casas em meio a um cenário de destruição.
O acordo com o movimento islamista palestino Hamas também deve permitir a libertação dos reféns israelenses mantidos em Gaza dentro de um prazo de 72 horas.
Com a entrada em vigor do cessar-fogo anunciado pelo Exército israelense às 09h GMT (06h em Brasília), milhares de palestinos deslocados iniciaram uma marcha do sul da Faixa de Gaza para o norte, retornando às suas casas.
Outros retornaram às suas casas em Khan Yunis, no sul de Gaza, e encontraram suas residências completamente destruídas, segundo imagens divulgadas pela AFP.
Israel lançou uma ofensiva terrestre e aérea especialmente intensa nas últimas semanas para tomar Cidade de Gaza, a maior cidade do território palestino, com o objetivo de aniquilar o Hamas.
O Exército israelense anunciou que suas tropas começaram a se posicionar ao longo das "linhas de retirada, em preparação para o acordo de cessar-fogo e retorno dos reféns".
Mas advertiu que algumas áreas continuam sendo "extremamente perigosas".
Em um comunicado conjunto, os dirigentes da Alemanha, Reino Unido e França pediram ao Conselho de Segurança da ONU que dê "apoio total" ao plano de paz em Gaza promovido pelos Estados Unidos.
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72 horas
O Pentágono "confirmou que o Exército de Israel completou a primeira fase de sua retirada para a linha amarela às 12h locais", disse o enviado especial do presidente Donald Trump, Steve Witkoff, no X.
"O período de 72 horas para a liberação de reféns começou", acrescentou.
O cessar-fogo e a liberação dos reféns estão previstos no acordo aprovado na quinta-feira após quatro dias de negociações indiretas no Egito entre o Hamas e Israel.
O acordo baseia-se em um plano de 20 pontos anunciado no final de setembro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O pacto busca pôr fim a dois anos de guerra em Gaza, um conflito que começou com o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 em território israelense, que resultou em 1.219 mortos, na sua maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais.
O acordo estipula o retorno a Israel de todos os reféns feitos em Gaza desde o ataque.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que dos 48 reféns que permanecem detidos em Gaza, 20 estão vivos e 28 morreram.
A família de Alon Ohel, um dos reféns, declarou que estão "tomados pela emoção" e esperam ansiosamente pelo seu retorno.
"Esperamos que a guerra termine de uma vez"
Israel deve libertar 250 detidos por razões de segurança e 1.700 palestinos de Gaza presos pelas forças israelenses desde outubro de 2023.
Na lista que Israel publicou nesta sexta-feira com os 250 prisioneiros que poderiam ser trocados, não aparece nenhuma das figuras emblemáticas da luta armada palestina.
Apesar das celebrações em Israel e em Gaza, ainda restam muitos assuntos por resolver, entre eles o desarmamento do Hamas e a proposta de uma autoridade de transição para Gaza liderada por Trump, que fazem parte do plano proposto pelo presidente dos Estados Unidos.
Em resposta ao ataque de 7 de outubro de 2023, Israel lançou uma ofensiva que já deixou ao menos 67.194 mortos em Gaza, segundo os números do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
Ameer Abu Iyadeh, um deslocado de 32 anos, relatou à AFP em Khan Yunis que este retorno está "cheio de feridas e dor".
Arij Abu Saadaeh, de 53 anos, contou que está "feliz pela trégua e pela paz", mas acrescentou que é "mãe de um filho e uma filha que foram assassinados, e estou de luto por eles".
"Só rezo para que [minha casa] não tenha sido destruída (...) Só esperamos que a guerra acabe de uma vez por todas, para não termos que fugir nunca mais", disse Mohamed Mortaja, de 39 anos, enquanto se dirigia para sua casa na Cidade de Gaza.
Mohamed al Mughayyir, um alto funcionário da Defesa Civil, uma agência de resgate que opera sob a autoridade do governo do Hamas, confirmou à AFP que "as forças israelenses se retiraram de várias áreas da Cidade de Gaza".
Paralelamente, a Associação de Imprensa Estrangeira em Jerusalém instou nesta sexta-feira Israel a conceder acesso independente a Gaza. As autoridades israelenses têm impedido que jornalistas de meios estrangeiros entrem no devastado território desde o início da guerra.

