Netanyahu rejeita um Estado da Palestina e quer 'terminar o trabalho' em Gaza rapidamente
Aceitar um Estado palestino seria um "suicídio nacional", disse o primeiro-ministro de Israel
Publicado: 26/09/2025 às 22:14

Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu (ANGELA WEISS / AFP)
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta sexta-feira (26) que aceitar a criação de um Estado da Palestina seria um "suicídio nacional" para seu país e garantiu que quer "terminar o trabalho" em Gaza "o mais rápido possível".
"Creio que temos um acordo" para pôr fim à guerra em Gaza, declarou por sua vez, em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Aceitar um Estado palestino seria um "suicídio nacional", entre outras razões porque a Autoridade Palestina é "corrupta até a medula", assegurou Netanyahu.
Em um discurso dramático, proferido em hebraico e inglês, Netanyahu se dirigiu diretamente aos reféns mantidos pelo grupo armado islamista Hamas, após anunciar que as forças israelenses instalaram alto-falantes em Gaza para transmitir seu discurso ao vivo.
"Não descansaremos até trazê-los para casa", disse Netanyahu, que acusou a comunidade internacional de permitir "mentiras antissemitas".
Israel ficou um pouco mais isolado esta semana com o reconhecimento de um Estado Palestina por países como França, Canadá, Reino Unido, Austrália e Portugal. Pelo menos 151 dos 193 membros da ONU já tomaram essa medida, que é mais simbólica do que efetiva.
O grande auditório da ONU estava praticamente vazio quando Netanyahu subiu ao púlpito. Outros delegados e o público presente aplaudiram o premiê.
"O boicote ao discurso de Netanyahu é uma manifestação do isolamento de Israel e as consequências da guerra de extermínio", afirmou em um comunicado Taher al Nunu, alto dirigente do comitê político do Hamas.
Com o rosto tenso, Netanyahu exibiu cartazes demonstrando como Israel desmantelou o que chamou de "eixo do mal" liderado pelo Irã no último ano, com ataques às instalações nucleares do regime de Teerã, assassinatos de líderes do Hezbollah e do Hamas e ataques aéreos no Iêmen.
Ele afirmou que seu país "destruiu a maior parte da máquina terrorista do Hamas" e busca "terminar o trabalho" em Gaza "o mais rápido possível".
No dia anterior, o veterano líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, havia dito à mesma assembleia que "o Hamas não terá nenhum papel a desempenhar na governança" de um futuro Estado.
Abbas falou por mensagem de vídeo porque os Estados Unidos lhe negaram um visto para viajar para Nova York.
"Não permitirei"
Netanyahu acusou especificamente os países europeus de aceitarem a "propaganda do Hamas" ao pressionar Israel a estabelecer um cessar-fogo e negociar o resgate de reféns, vivos ou mortos, em Gaza.
"Veja, por exemplo, as falsas acusações de genocídio: Israel é acusado de atacar civis, mas nada é menos verdadeiro", afirmou.
A Defesa Civil de Gaza reportou 50 mortos em novos ataques israelenses.
A ONG Médicos Sem Fronteiras anunciou que suspendeu suas atividades na capital.
O primeiro-ministro israelense, liderando uma coalizão governamental complicada, não mencionou, no entanto, a outra frente diplomática e militar de seu país: a Cisjordânia.
Netanyahu afirmou repetidamente, em outras ocasiões, que seu governo planeja expandir os assentamentos judaicos nesse território.
"Não permitirei", declarou Trump no dia anterior, quando questionado sobre a possibilidade de Israel anexar a Cisjordânia, conforme exigido por ministros israelenses de extrema direita do gabinete de Netanyahu.
"Cada dia que a guerra se prolonga coloca os reféns vivos em maior perigo e ameaça a recuperação dos que foram assassinados", reagiu o Fórum das famílias dos reféns em Gaza, a principal organização israelense que reúne os entes queridos dos cativos.
Ao todo, há 48 reféns em Gaza, dos quais 25 declarados mortos pelo Exército israelense.
"Acho que temos um acordo"
"Acho que temos um acordo", disse Trump a repórteres na Casa Branca nesta sexta-feira. "Acho que é um acordo que nos permitirá recuperar os reféns, será um acordo que encerrará a guerra", afirmou.
Trump voltou a liderar as negociações esta semana, aproveitando a reunião anual da ONU em Nova York, onde se reuniu com países da região para acalmar as tensões após o ataque aéreo sem precedentes de Israel no Catar com o objetivo de eliminar a cúpula do Hamas.
De acordo com uma fonte diplomática familiarizada com a reunião, realizada à margem da Assembleia Geral da ONU, Trump apresentou um plano de 21 pontos aos países árabes.
Entre eles, estão um cessar-fogo permanente em Gaza, a libertação dos reféns israelenses, a retirada israelense do enclave e um futuro governo em Gaza sem o Hamas.
O Exército israelense realizou uma ofensiva que já deixou mais de 65.400 palestinos mortos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair pode desempenhar um papel destacado em uma futura autoridade de transição, estabelecida no âmbito do plano de paz dos Estados Unidos, informaram nesta sexta-feira vários meios de comunicação britânicos.
Por sua vez, o presidente colombiano, Gustavo Petro, participou de uma marcha em Nova York contra a presença de Netanyahu e garantiu que estava disposto a organizar um corpo de voluntários em seu país "que queiram ir lutar pela libertação da Palestina".
"E se couber ao presidente da República da Colômbia ir a esse combate, não me assusta, já estive em outros, então eu vou", assegurou.

