Líderes europeus avisam a Israel sobre seu crescente isolamento diplomático
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, reforçou a posição do governo alemão de que o reconhecimento de um Estado palestino deve acontecer no final de um processo de negociações
Publicado: 31/07/2025 às 15:27

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (SEBASTIAN SCHEINER / AFP)
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, que se encontra em Tel Aviv e deve ir ainda a Ramallah, na Cisjordânia, alertou hoje a Israel de estar cada vez mais isolado diplomaticamente por causa das suas responsabilidades no desastre humanitário na Faixa de Gaza e às ameaças de anexar a Cisjordânia.
"A recente conferência da ONU em Nova Iorque mostrou que Israel está cada vez mais numa posição minoritária. Perante ameaças abertas de anexação por parte de certos setores do governo israelense, um número crescente de países, incluindo europeus, está pronto para reconhecer um Estado palestino sem um processo prévio de negociação", afirmou Wadephul, em alusão à reunião dessa semana em que muitos países apelaram e consideraram o reconhecimento de um Estado da Palestina.
Mas, o ministro reforçou a posição do governo alemão de que o reconhecimento de um Estado palestino deve acontecer no final de um processo de negociações, no entanto observou que o processo tem de começar já. "Uma solução negociada de dois Estados continua a ser o único caminho que pode oferecer às pessoas de ambos os lados uma vida em paz, segurança e dignidade", afirmou.
A Alemanha tem sido uma apoiadora incondicional de Israel devido à sua responsabilidade histórica no Holocausto, porém tem condenado cada vez mais a guerra em Gaza e a situação na Cisjordânia, pressionado também pela opinião pública local e as críticas internas ao governo do Chanceler Friedrich Merz por continuar a fornecer armas aos israelenses.
Já a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, em uma conversa realizada ontem com o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, argumentou que a crise humanitária em Gaza se tornou insustentável. "A presidente do Conselho de Ministros, Giorgia Meloni insistiu na necessidade de serem cessadas de imediato as hostilidades, dada a situação em Gaza, que, sublinhou, é insustentável e injustificável", comunicou o seu gabinete.
Meloni pediu também a Netanyahu que garanta o acesso humanitário pleno e irrestrito à população civil, reafirmando que a Itália participará na iniciativa ‘Alimentos para Gaza’.
Wadephul e Meloni instaram ainda o governo israelense de permitir um maior acesso de comboios humanitários para abastecer a Faixa de Gaza, assolada pela fome. "Só por transporte terrestre é que os mantimentos humanitários chegarão à população em quantidades suficientes", acrescentou o diplomata alemão.
Além disso, a Suécia pediu hoje à União Europeia que suspenda a componente comercial do acordo de associação com Israel: "A situação em Gaza é absolutamente deplorável, e Israel está falhando no cumprimento das suas obrigações e acordos mais básicos em matéria de ajuda de emergência. A Suécia exige que a UE congele, o mais rapidamente possível, a componente comercial do acordo de associação. A pressão econômica sobre Israel deve aumentar. O governo israelense deve permitir a ajuda humanitária sem restrições em Gaza. Ao mesmo tempo, a pressão sobre o Hamas deve aumentar para que os reféns sejam libertados imediatamente e incondicionalmente”, disse primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson.
Após mais de 21 meses de guerra em Gaza, a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, a violência dos colonos contra os palestinos na região e as tentativas das autoridades de Israel de anexar o território ocupado, vem fortalecendo o apoio dos líderes mundiais à criação de um Estado palestino.
A França, Reino Unido e Canadá, três países do G7, entre outras nações europeias, sinalizaram a intenção de reconhecer o Estado da Palestina na Assembleia Geral da ONU, em setembro.

