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FAIXA DE GAZA

Mais dez pessoas morrem de fome em Gaza nas últimas 24 horas, incluindo duas crianças

Até o momento, o número total de mortos por fome ou desnutrição no território palestino chegou a 313

Isabel Alvarez

Publicado: 27/08/2025 às 16:20

Uma menina palestina segura uma panela vazia em um ponto de distribuição de refeições quentes em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza/Eyad BABA/AFP

Uma menina palestina segura uma panela vazia em um ponto de distribuição de refeições quentes em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza (Eyad BABA/AFP)

Nesta quarta-feira (27), pelo menos mais 10 pessoas morreram na Faixa de Gaza devido à fome e à desnutrição, incluindo duas crianças pequenas, segundo informações das autoridades locais de saúde.

Até o momento, o número total de mortos por fome ou desnutrição no território palestino chegou a 313, dos quais 119 são crianças. A maioria ocorreu nos últimos dois meses, após um bloqueio quase total de entrada de alimentos, medicamentos e itens essenciais no enclave por parte de Israel, que controla todos os pontos de acesso ao enclave.

Nas últimas semanas, após forte pressão internacional, Israel flexibilizou um pouco a entrada de comida e permitiu ajuda humanitária por via aérea, apesar da quantidade de mantimentos serem ainda bastante insuficientes para atender as necessidades da população, segundo a ONU.

Já a diretora-executiva da ONG Save the Childre, Inger Ashing, denunciou hoje junto do Conselho de Segurança das Nações Unidas que as clínicas em Gaza estão quase silenciosas porque as crianças não têm mais forças para falar ou sequer chorar de agonia. "Crianças jazem ali, emaciadas, literalmente a definhar. São corpos minúsculos vencidos pela fome e pela doença. Enquanto milhares e milhares de caminhões carregados com produtos vitais aguardam bloqueados a poucos quilômetros de distância", descreveu.

Ashing apresentou um quadro sombrio da infância na região, que vive um cenário de fome declarada pela ONU, à primeira situação deste gênero a atingir o Oriente Médio. Como exemplo, leu um texto escrito por uma criança de Gaza: "Eu gostaria de estar no céu, onde está minha mãe, onde há amor, há comida e há água".

“As crianças em Gaza estão sendo sistematicamente mortas de fome, por causa de uma política deliberada, em que a fome é usada como método de guerra nos seus termos mais negros. As crianças não precisam das chamadas soluções criativas, nem precisam de lançamentos aéreos que quase não entregam ajuda, nem precisam de sistemas de distribuição militarizados e desumanos. O que elas precisam é que os Estados atuem. Durante quase dois anos, a comunidade internacional falhou na proteção das crianças palestinas. A inação é uma escolha. A indecisão é cumplicidade. As crianças já atingiram o seu limite. Onde está o dos senhores?", questionou, dirigindo-se aos representantes internacionais presentes no Conselho de Segurança.

Em uma crítica também à Fundação Humanitária de Gaza, estrutura apoiada pelos EUA e Israel, onde os pontos de distribuição se tornaram armadilhas a céu aberto e centenas de pessoas JÁ morreram durante distribuições caóticas de alimentos, Ashing declarou que o governo de Israel poderia acabar com esta fome esta noite, se assim o desejasse, e depois extinguir a sua obstrução deliberada e deixar que os trabalhadores humanitários façam o seu trabalho. “Em vez disso, há relatos de escalada da atividade militar israelense na Cidade de Gaza, mais ataques a hospitais, mais assassinatos”, acusou.


A líder da Save the Children ainda relatou sobre a vida diária também das crianças palestinas na Cisjordânia, que enfrentam demolições de casas, deslocamentos, assédio e intimidação por parte das forças israelenses ou dos colonos, ou mesmo detenções, reforçando que são as únicas no mundo sistematicamente processadas em tribunais militares que não atendem aos padrões internacionais de justiça juvenil. “É um sistema abusivo e desumano, onde as crianças relatam constantemente abusos físicos, emocionais e sexuais, humilhações e fome", enfatizou.

Por outro lado, o Ministério das Relações Exteriores de Israel exigiu que ONU retirasse de imediato o relatório que declarou oficialmente fome na Faixa de Gaza. "Israel exige que o IPC retire imediatamente o seu relatório fabricado", disse Eden Bar Tal, diretor-geral da chancelaria israelense, referindo ao Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês).

Eden Bar Tal acusou o organismo da ONU de ser uma instituição de investigação politizada, e ameaçou que, se o relatório não for retirado, Israel partilhará provas da sua má conduta com todos os doadores da entidade.

O IPC declarou oficialmente na última sexta-feira a situação de fome na Cidade de Gaza, no norte do enclave, e avisou que as províncias de Deir al-Balah, no centro, e Khan Yunis, ao sul, também deverão ser atingidas até ao final de setembro.

A declaração foi anunciada após especialistas e peritos terem alertado que 500 mil pessoas se encontravam numa situação catastrófica no território palestino.

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