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COLUNA

Beto Lago: 'Oposição não existe para torcer contra, mas para vigiar e impedir que erros se repitam'

A simples decisão de grupos derrotados permanecerem atuantes como oposição gerou mais irritação do que reflexã

Beto Lago

Publicado: 27/12/2025 às 16:27

Ilha do Retiro, estádio do Sport/Rafael Vieira

Ilha do Retiro, estádio do Sport (Rafael Vieira)

Vigilantes
No futebol brasileiro, especialmente quando o clube perde uma eleição, a democracia costuma durar pouco. Basta a ata ser assinada para que qualquer voz divergente passe a ser tratada como inimiga. No Sport, não foi diferente. A simples decisão de grupos derrotados permanecerem atuantes como oposição gerou mais irritação do que reflexão. E isso diz muito mais sobre a cultura política do clube do que sobre quem decidiu fiscalizar. O discurso de que “oposição atrapalha” é confortável para quem governa sem ser questionado e perigoso para um clube que acaba de sair de uma das piores crises de sua história. Unanimidade não é estabilidade. É cegueira coletiva. Os grupos Sport Unido e Sport Eterno anunciaram que seguirão como oposição, e parte da torcida reagiu como se o clube estivesse sob ataque. É um erro primário. Oposição não existe para torcer contra, mas para vigiar, tensionar e impedir que erros se repitam. Sem contraditório, gestão vira feudo. Há, sim, um limite claro: oposição não pode virar palanque permanente, nem se alimentar do fracasso esportivo. O populismo do “quanto pior, melhor” já fez estragos demais no futebol brasileiro e também por aqui. Aqui mora a linha tênue: fiscalizar sem sabotar; criticar sem incendiar; discordar sem desestabilizar o ambiente esportivo. Quem usa derrota em campo para incendiar arquibancada não derruba diretoria: derruba o clube.

Crise de arquibancada
Uma oposição madura deve apoiar projetos positivos da gestão atual, apresentar críticas acompanhadas de soluções e, sobretudo, evitar a chamada “crise de arquibancada”, que não derruba diretoria, mas derruba treinador e atleta. Usar derrotas para promover instabilidade deliberada é agir contra o clube. No fim, o ponto central precisa ser lembrado todos os dias: o objetivo da oposição não é conquistar o poder, mas fortalecer o Sport. O resto é vaidade.

SAF muda o jogo e a responsabilidade
Com a SAF no horizonte, o papel da oposição deixa de ser apenas político e passa a ser técnico e jurídico. O foco não será mais discurso, mas cláusula. Não bastará olhar balancete: será preciso vigiar aporte prometido, cronograma, governança e a identidade do clube. Quem continuar fazendo oposição como se estivesse em eleição permanente vai falar sozinho. O risco real agora é outro: contrato mal fiscalizado, promessa não cumprida e patrimônio diluído. O fiscal moderno precisa entender menos de microfone e mais de acordo de investimento.

Lacraia: a história cobra a conta
O Santa Cruz acerta ao reparar uma dívida histórica com Lacraia. Teófilo Batista de Carvalho não foi apenas o primeiro negro a jogar futebol em Pernambuco: foi fundador, pensador e símbolo. Desenhou o primeiro escudo, ajudou a moldar a identidade e representou, desde o início, um clube popular e resistente. Reconhecê-lo como sócio-fundador não é gesto simbólico vazio: é reposicionar o Santa Cruz diante de sua própria origem. Lacraia é, com toda certeza, o primeiro grande ídolo de uma história que sempre foi maior que as quatro linhas.

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