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COLUNA BETO LAGO

Beto Lago: 'A pífia participação do quadro social nas eleições dos clubes'

Nenhuma das votações decisivas mais recentes dos clubes pernambucanos contou com a participação de pelo menos 50% dos sócios aptos a votar

Beto Lago

Publicado: 18/12/2025 às 08:30

Matheus Souto Maior, presidente do Sport/Paulo Paiva/Sport

Matheus Souto Maior, presidente do Sport (Paulo Paiva/Sport )

Eleição nos clubes
Os últimos processos eleitorais nos clubes pernambucanos escancararam um problema estrutural que vai muito além de quem venceu ou perdeu: a democracia interna virou um rito esvaziado. Santa Cruz, Náutico e Sport viveram momentos decisivos de sua história recente, mas com um dado em comum: a participação pífia do quadro social. No Santa Cruz, a Assembleia Geral Extraordinária que decidiu o futuro do clube com a possível aprovação da SAF teve 2.750 sócios aptos. Apenas 1.182 apareceram para votar. Menos da metade. Pior: na reunião do Conselho que deveria referendar uma decisão tão estratégica, somente 91 conselheiros estiveram presentes. Um clube que discute seu próprio modelo de sobrevivência não consegue mobilizar nem seus representantes institucionais. No Náutico, o cenário foi mais constrangedor. Com 4.345 sócios aptos, a eleição que referendou o nome de Bruno Becker teve apenas 520 votos. Isso representa cerca de 11% do universo eleitoral. Um número que levanta uma pergunta incômoda, mas necessária: Becker foi aclamado ou simplesmente ignorado pelo associado alvirrubro, uma rejeição? A ausência em massa também é uma forma de manifestação e, muitas vezes, silenciosa. Já no Sport, mesmo com três chapas disputando e uma eleição considerada histórica, o retrato não foi muito diferente. Dos 6.163 associados aptos, apenas 1.683 votaram. Menos de 30%. E isso sem entrar no mérito dos graves problemas na lista de sócios, que excluiu nomes, inclusive dos candidatos, expondo falhas administrativas inaceitáveis para um clube como o Sport.


Fazer parte do processo
Esses números não podem ser tratados como algo normal ou “parte do processo”. Eles fragilizam a legitimidade de qualquer gestão eleita. Não se trata de questionar juridicamente os vencedores, mas de fazer uma reflexão política e institucional: como governar clubes centenários quando a maioria absoluta dos associados não se sente representada, motivada ou sequer convocada a participar?

Quórum mínimo
Está na hora de os clubes repensarem os modelos associativos. Muitos defendem a exigência de um quórum mínimo – ao menos 50% dos aptos – para validar eleições e decisões estratégicas. Hoje, a regra permite que uma minoria decida o futuro de instituições gigantescas, enquanto a maioria assiste de longe, apática ou descrente. Sem participação, não há democracia. Sem democracia, a governança vira um jogo de poucos, fechado, distante da base que sustenta o clube. Isso tem que ser encarado com a seriedade que o tema exige. Ou então, eleições continuarão acontecendo, mas com cada vez menos significado.

Equilibrando honestidade com prudência
“Tudo que você diz deve ser verdade, mas nem toda verdade deve ser dita”, a frase do escritor e filósofo François-Marie Arouet, mas conhecido como Voltaire, deveria virar mantra dentro dos clubes pernambucanos.

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