Gestão de Yuri Romão no Sport chega ao fim nesta sexta (12)
Presidente e vice, Raphael Campos, deixam o clube por meio de renúncia antecipada, dias antes das novas eleições
Publicado: 12/12/2025 às 06:00
Yuri Romão, presidente do Sport ( Paulo Paiva/Sport Recife)
Nesta sexta-feira, 12 de dezembro de 2025, marca o último dia de Yuri Romão no cargo de presidente do Sport, ao lado do vice-presidente Raphael Campos. Ambos haviam anunciado oficialmente, desde 27 de novembro, que deixariam os cargos após uma trajetória turbulenta na gestão do clube.
O mandato de Romão, que começou de forma promissora, termina sob a sombra de uma temporada melancólica e dramática em 2025, que acabou por rebaixar o Leão à Série B e consolidar um ciclo de instabilidade em diversos aspectos do clube - do futebol à política interna e às finanças.
Ao longo de sua gestão, Romão esteve à frente do Sport em um período repleto de expectativas e frustrações, marcado por decisões que serão lembradas pelo clube e sua torcida. O Leão enfrenta agora o inevitável processo de renovação, com eleições agendadas para segunda-feira (15) e a missão de reescrever seu futuro esportivo e administrativo.
FUTEBOL
A trajetória do futebol rubro-negro sob a gestão de Yuri Romão é um espelho da montanha-russa vivida pelo clube. Antes mesmo de assumir a presidência, Romão ingressou na cúpula executiva como vice-presidente ao lado de Leonardo Lopes, eleito presidente. Após o afastamento de Lopes por motivos de saúde, Romão passou a responder interinamente pelo clube e, em 2022, foi efetivado como presidente executivo.
Sob seu comando, o Sport teve:
Dois rebaixamentos à Série B: em 2021 (Gestão anterior encapsulando transição) e de forma ainda mais dramática em 2025, ano em que Yuri Romão se despede;
Um acesso marcante em 2024;
Dois vices na Copa do Nordeste: em 2022, derrotado pelo Fortaleza, e em 2023, superado pelo Ceará.
Além dos resultados em campo, a instabilidade técnica ficou explícita pela enorme rotatividade de treinadores. A equipe foi comandada por dez treinadores diferentes neste ciclo: António Oliveira, Claudinei Oliveira, Daniel Paulista, Enderson Moreira, Gilmar Dal Pozzo, Gustavo Florentín, Guto Ferreira, Lisca, Mariano Soso e Pepa, sem contar o interino César Lucena, que na reta final do Brasileirão de 2025 comandou a equipe em nove jogos.
Essa sucessão de nomes simboliza a dificuldade de encontrar um projeto consistente e sustentável de trabalho dentro de campo, refletindo diretamente nos resultados e no descontentamento da torcida.
ESTRUTURA
Durante o mandato de Yuri Romão, o Sport passou por mudanças estruturais, muitas delas com grande impacto financeiro e expectativas elevadas:
Reforma do gramado, iluminação e arquibancadas da Ilha do Retiro: Parte das obras do estádio mais tradicional do clube foi executada enquanto o time mandou seus jogos na Arena Pernambuco de janeiro a outubro de 2024;
Requalificação do primeiro andar da sede social: Investimento milionário, incluindo contratação de engenheiro calculista para projeto estrutural e nova cobertura da área;
Projeto aprovado de Retrofit da Ilha do Retiro: Orçado em R$ 170 milhões, aprovado por unanimidade em 2024, com ideias ambiciosas como ampliação da capacidade para 35 mil espectadores, assentos retráteis, mais camarotes e teto metálico sobre grande parte das arquibancadas;
Novo Centro de Treinamento: Apresentado oficialmente em 2025, com custo estimado de R$ 22 milhões na obra completa, a primeira fase tem cerca de R$ 16 milhões, para bloco administrativo, estrutura esportiva e campos.
Ampliação do CT em Paratibe: Aquisição de terreno em novembro de 2024 que, somado aos 9 hectares existentes, totaliza 23 hectares, fazendo do complexo um dos maiores do país e com estudos ambientais finalizados.
Apesar dos projetos ambiciosos, muitas obras ainda estão em andamento ou parcialmente concluídas, deixando um legado misto entre esperança e questionamentos sobre execução e cronogramas.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Um dos momentos mais significativos da gestão de Yuri Romão foi a condução do Plano de Recuperação Judicial (PRJ), homologado pela Justiça de Pernambuco em outubro de 2025. O processo foi aprovado em Assembleia Geral de Credores e cumpriu todas as etapas previstas na Lei nº 11.101/2005, com deságio de cerca de 80% sobre o passivo total.
A dívida global do Sport gira em torno de R$ 113 milhões, segundo balanços e levantamentos recentes, um enorme peso herdado ao longo de anos.
A homologação garantiu ao clube a possibilidade de pagar seus débitos dentro do cronograma acordado. Em 1º de dezembro, o clube anunciou que mais de 160 credores trabalhistas receberam a primeira das 12 parcelas previstas no plano, cumprindo o calendário legal.
No entanto, a recuperação, embora crucial, expôs fragilidades e deixou claro que os efeitos da crise se estendem por anos.
ESTATUTO
Em outubro de 2024, em uma convocação com apenas oito dias entre o anúncio do processo e a votação, os sócios do Sport aprovaram uma reforma estatutária na Ilha do Retiro. O novo estatuto entrou em vigor em 1º de janeiro de 2025, alterando profundamente dispositivos de governança e estrutura de poder no clube.
A rapidez e a forma como a mudança foi conduzida geraram debates internos e diferentes interpretações sobre os rumos da gestão e sobre o papel de conselheiros e associados.
FINANÇAS
A área financeira talvez seja o campo mais controverso da gestão de Yuri Romão. Um reflexo claro de uma temporada dramática e de decisões arriscadas.
Em 2024, apesar de um déficit de R$ 16,5 milhões, o Sport obteve receita operacional recorde de R$ 135,9 milhões, impulsionada pela maior venda da história do Leão, a transferência de Pedro Lima para o Wolverhampton por cerca de 10 milhões de euros (cerca de R$ 59 milhões).
Ainda assim, as despesas cresceram ainda mais, e o clube encerrou o ano com desequilíbrio. A gestão de Romão projetou para 2025 um orçamento histórico, com ambições de investimento em elenco e estrutura. O maior da história recente do clube.
Mesmo assim, o clube gastou pesado em contratações, e o retorno em campo foi insuficiente diante dos objetivos esportivos. A crise financeira se aprofundou em 2025 com atrasos salariais, pendências com direitos de imagem e contas em aberto no Centro de Treinamento, com faturas vencidas desde 2023 e acumulando valores significativos.
Em 24 de novembro, a crise ganhou contornos dramáticos quando o fornecimento de energia elétrica da sede na Ilha do Retiro foi cortado por atrasos nos pagamentos, deixando setores do clube sem luz e evidenciando a fragilidade do caixa.
O incidente repercutiu de forma ampla, e até o presidente da Federação Pernambucana de Futebol admitiu aportes emergenciais para evitar um colapso ainda maior.
A projeção de orçamento para 2026, de queda estimada em 70% em relação à temporada 2025, reforça o recuo financeiro imposto pela realidade da Série B e pela retração natural de receitas televisivas e de cotas.
POLÊMICAS
Ao longo do mandato, a falta de transparência com a torcida foi uma crítica recorrente. O relacionamento com os torcedores tornou-se cada vez mais difícil, marcada por explicações pouco claras e decisões questionáveis.
Uma das mais emblemáticas polêmicas foi a decisão de ceder a operação do jogo contra o Flamengo na Arena de Pernambuco por R$ 3 milhões, uma medida vista como atípica e que levantou debate sobre prioridades e transparência na gestão.
Em entrevistas, Romão também protagonizou declarações que geraram controvérsia. Por exemplo, ao comentar o esforço para fechar as contas, afirmou que "as dívidas são do clube". Outra, ainda em 2025, foi sobre a Ilha do Retiro, patrimônio histórico. O mandatário havia comentado de que o estádio rubro-negro "não era mais capaz de receber eventos esportivos de grande porte".