Projeto português afunda o Sport para a Segunda Divisão
Três jogadores e dois técnicos portugueses ao longo do ano não corresponderam às expectativas
Publicado: 15/11/2025 às 21:32
O volante Sérgio Oliveira, o centroavante Gonçalo Paciência e o zagueiro João Silva, jogadores portugueses do Sport (Paulo Paiva/Sport Recife)
O Sport iniciou a temporada de 2025 apostando alto e sonhando grande. Com a ambição de consolidar-se na Série A e romper o ciclo de inconstâncias dos últimos anos, o clube mergulhou no mercado europeu e montou um projeto de forte influência portuguesa. A ideia parecia ousada e moderna, mas se transformou, ao fim do ano, em um símbolo do fracasso rubro-negro, culminando no rebaixamento antecipado para a Série B com a derrota por 5 a 1 para o Flamengo neste sábado (15).
Primeiro veio Pepa, técnico português de contrato renovado e escolhido para liderar uma reformulação ampla. Logo depois, desembarcaram no Recife o centroavante Gonçalo Paciência, o zagueiro João Silva e o meio-campista Sérgio Oliveira. Em pouco tempo, a Ilha do Retiro ganhou ares de "colônia lusitana".
A presença maciça de portugueses chamou a atenção até em Portugal: no início da temporada o jornal A Bola destacou o Sport como "o clube mais português do Brasil". O que parecia motivo de orgulho e curiosidade, porém, se transformou em uma ironia amarga meses depois. Entre lesões, falta de adaptação, mudanças de técnicos e um ambiente cada vez mais instável, o projeto europeu desmoronou.
Sonho com os treinadores portugueses que viraram pesadelos
A temporada começou sob o comando de Pepa, que foi responsável pela montagem da maior parte do elenco. A proposta era de um futebol propositivo e técnico, mas o Sport rapidamente mostrou um time sem identidade, inofensivo no ataque e confuso taticamente. A pressão aumentou, e Pepa acabou demitido após apenas sete rodadas do Brasileirão.
Na sequência, o clube apostou em outro português: António Oliveira. Sua passagem, no entanto, foi ainda mais curta — apenas 26 dias e quatro partidas. O Leão terminou o primeiro turno acumulando trocas, promessas e pouca entrega. Instabilidade no vestiário e perda completa de confiança.
João Silva
O zagueiro João Silva, de 26 anos, foi o português que mais rapidamente conquistou espaço no início. Contratado junto ao Kortrijk, da Bélgica, com vínculo até 2027, foi titular absoluto sob o comando de Pepa e manteve presença com António Oliveira.
Mas o bom começo durou pouco. João perdeu espaço. Com a volta do capitão Rafael Thyere, o defensor foi para o banco e nunca mais retomou o protagonismo. Virou apenas uma terceira opção na zaga, às vezes até como quarta, com a adaptação do volante Lucas Kal, improvisado como zagueiro.
Sérgio Oliveira
O meia Sérgio Oliveira foi o grande nome do mercado do Sport em 2025. Campeão da Conference League pela Roma, destaque do Porto e com histórico de Champions League e seleção portuguesa, chegou com status de craque, além da missão de ser o cérebro do time. Mas, dentro de campo, o peso do nome não se traduziu em rendimento.
Sérgio passou por uma sequência de lesões que minaram seu desempenho. A pior, uma lesão ligamentar no tornozelo, o tirou de combate pro quase três meses. No primeiro semestre, já havia sofrido problemas musculares que o deixaram fora de partidas. O camisa 27 possui contrato até 2026.
Gonçalo Paciência
Entre os três portugueses, o atacante Gonçalo Paciência talvez seja o caso mais emblemático da frustração leonina. Apresentado como o reforço de impacto no setor ofensivo (principal carência do clube em 2025) e também com passagens seleção portuguesa, o jogador foi recebido com festa na Ilha. Mas, em campo, o rendimento foi quase nulo.
Paciência vive uma seca de gols no Brasileirão. Todos os seus cinco tentos na temporada foram anotados no Campeonato Pernambucano. O atacante também enfrentou uma lesão no quadril que o deixou fora por seis semanas, retornou sem ritmo e acabou perdendo espaço. Chegou a ficar fora dos planos da comissão técnica, retornou, mas não obteve a confiança suficiente.
Um projeto sem identidade
A tentativa do Sport de importar um modelo europeu sem estrutura sólida por trás acabou se mostrando um erro estratégico. Demitidos, Pepa e António Oliveira não resistiram à pressão e à falta de resultados, e os reforços lusitanos jamais conseguiram se adaptar ao contexto competitivo do futebol brasileiro.
Enquanto o clube enfrentava crises internas, trocas de técnicos e atrasos com pagamentos do futebol, os portugueses se tornaram personagens de um enredo que começou com ambição e terminou em rebaixamento. Um projeto que "naufragou".