Beto Lago: 'O Sport precisa entender que dignidade também é saber reconhecer os próprios erros'
Com oito rodadas para o fim do Brasileiro, o Sport soma 17 pontos e apenas duas vitórias em 30 jogos
Publicado: 03/11/2025 às 08:10
Time do Sport (Paulo Paiva/ Sport)
Dignidade
É melancólica, quase constrangedora, a reta final de Brasileirão do Sport. Com oito rodadas para encerrar a competição, o clube soma 17 pontos e apenas duas vitórias em 30 jogos. Nem o mais pessimista dos rubro-negros imaginava tamanha mediocridade. A tragédia esportiva já não se mede apenas pela pontuação, mas pela incapacidade de reação. O Sport virou um time desbotado, sem pulso e sem horizonte. O discurso oficial continua fora da realidade. Contra o Flamengo, no Maracanã, o interino César Lucena errou na escalação, demorou nas mudanças e assistiu, inerte, à falta de intensidade e de qualquer traço competitivo do Leão. Na coletiva, repetiu o coro diretivo: “ainda temos um fio de esperança”. É o tipo de frase que beira o deboche diante da apatia em campo. A torcida sabe que esperança não nasce de discursos: nasce de atitude. Quando César fala em “honra e dignidade”, seria mais honesto lembrar que essas virtudes exigem entrega, planejamento e comando, três elementos que o Sport perdeu ao longo da temporada. Restam oito jogos, cinco deles contra adversários diretos (Juventude, Atlético/MG e Vitória na Ilha, Santos e Bahia fora). É hora de encarar esse fim de campeonato como início de reconstrução, testando jogadores, repensando o elenco e expondo as falhas de um departamento de futebol que se mostrou incapaz de gerir um time de Série A. A reformulação não pode esperar dezembro. O Sport precisa, urgentemente, se olhar no espelho e entender que dignidade também é saber reconhecer os próprios erros.
Erra feio o Sport nesta negociação envolvendo o zagueiro Riquelme. O garoto tem potencial técnico para ser peça importante em 2026, mas o clube, mais uma vez, escolhe o caminho curto, o imediatismo que corrói qualquer projeto de base. Ao abrir mão de um ativo promissor, o Sport não apenas perde um jogador. Perde também a chance de valorizar patrimônio próprio num mercado cada vez mais competitivo.
Corrigir outro erro
O movimento é uma tentativa de corrigir outro erro grotesco: a chegada de Carlos Alberto, uma das piores contratações da história recente do clube. Jogador sem lastro técnico, sem impacto esportivo e com custo alto. No fim, o Botafogo saiu com o lucro, o atleta promissor e a sensação de que, mais uma vez, o Sport se atrapalhou nas próprias decisões. Negócio ruim, timing errado: a combinação perfeita para repetir os mesmos fracassos de sempre.
A RJ do Sport
A aprovação do plano de recuperação judicial do Sport é uma luz no meio do caos. O clube conseguiu reduzir sua dívida de R$ 396 milhões para R$ 109 milhões. Agora, vem a parte mais difícil: cumprir o plano. O prazo de 30 dias para apresentar o uso dos valores e as prestações de contas precisa ser tratado com seriedade. A RJ não é troféu, é oportunidade de recomeço. Mas sem governança, controle orçamentário e transparência, só aumentará o buraco. A reconstrução financeira deve vir acompanhada de uma reconstrução moral e institucional.