"Sempre admirei o futebol pernambucano", diz Hélio dos Anjos, técnico do Náutico
Em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambucano, o treinador do Náutico falou sobre momentos da atual temporada e projetou futuro no Timbu
Publicado: 03/11/2025 às 07:00
Recife, PE, 01/10/2025 - NÁUTICO X GUARANI - Na tarde deste sábado(13), a equipe do Náutico recebeu a equipe do Guarani, pelo Campeonato Brasileiro da Serie C 2025 no estádio dos Aflitos. Hélio dos Anjos (Rafael Vieira)
Após a conquista do acesso à Série B do Campeonato Brasileiro com o Náutico, aos 67 anos, o técnico Hélio dos Anjos completou mais uma temporada realizando trabalhos expressivos e conquistando a admiração de pessoas no futebol. Em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco, o comandante do Timbu falou sobre o sucesso e o carinho que tem com o futebol pernambucano, revelou bastidores da caminhada pelo acesso e ainda projetou o 2026 pelo clube alvirrubro.
Nascido em Minas Gerais, Hélio dos Anjos criou um vínculo com o futebol pernambucano desde a sua primeira passagem nos Aflitos, ainda em 1993. Desde lá, obteve grandes resultados nos trabalhos em Pernambuco e conquistou o carinho do torcedor local.
Carinho pelo futebol pernambucano
A gente não imagina esse carinho. Primeiro, porque se trata de futebol no Brasil e as reações e emoções são sempre complicadas. Mas eu sempre procurei trabalhar em cima de muita seriedade e profissionalismo. Eu tenho por norma que se eu trabalho em Pernambuco, o melhor futebol do mundo é o pernambucano. Para mim, o que tiver que defender o futebol pernambucano, vou defender sempre. Tem as questões emocionais do torcedor relacionadas a resultados, mas eu levo muito em conta esse lado intimista do meu trabalho, para as pessoas terem esse respeito por mim. Sempre cheguei em Pernambuco com muita vontade, porque sempre admirei o futebol pernambucano. Sempre tive admiração com um esportista e como alguém que estudava futebol. Passei a conviver diretamente e fui sempre muito feliz, ganhando títulos e essas questões de acesso com o Náutico. Hoje estou totalmente integrado e sou fã, principalmente da relação que o torcedor pernambucano tem com seus clubes. Esse carinho do torcedor pernambucano é maior ainda de quando eu cheguei em 1993 aqui. Vou citar algo que aconteceu esse ano: todos os torcedores do Sport que me encontravam no dia a dia sempre me parabenizavam pelo trabalho, antes do acesso, e diziam que estavam torcendo por mim. Achava isso muito legal, porque é sinal do carinho com o esportista, não só com o torcedor do seu time.
Choque de gestão na chegada ao Náutico
Não é a primeira vez na minha vida que pego um trabalho no meio e não sei se vai ser a última., vou estar sempre preparado. Uma coisa positiva para mim foi o clube me ajudar muito, desde o porteiro até o presidente, que foi fundamental no nosso trabalho. Eu entrei nessa nova fase no Náutico prevendo todas as dificuldades do mundo, baseado nos relatórios que recebi e no que vi dentro de campo. Mas sou muito daqueles: ‘Vocês topam comprar a briga?” Sou muito direto também, aquele que não aguentar, que achar que é muito, eu vou respeitar, porque nem todos ser humano tem as mesmas reações, força interior e ambição. Quem não conseguir, bate o sino. E eu não tive problema nenhum com jogadores de precisar afastar por não estar conseguindo ou não querer fazer. Isso é um choque de gestão.
Filosofia
Outra mudança é no cotidiano. Eu não posso aceitar no futebol a burocracia, aquilo de fazer a sua parte e fim de papo. Vejo um trabalho muito mais integrado, com compromisso, sacrifícios e responsabilidade com a instituição. Possa ser que os resultados não aconteçam, mas o torcedor não é burro. Eles estão vendo que tem comprometimento e identidade, e a consequência é começar a jogar junto. Dessa vez que eu cheguei no Náutico eu fui muito ajudado por tudo que eu já tinha feito e o que é minha carreira, que as pessoas sabem que vai ter seriedade e profissionalismo. Eu não tenho compromisso de titularidade com ninguém, por isso as vezes falo que não tenho boa relação com empresário de jogador, porque que não aceito o empresário achar que o jogador dele está sendo mal-usado, não dou essa liberdade. O jogador sabe que o compromisso dele é com a instituição. Na minha concepção, não tem jogador ruim, mas sim mal treinado. Eu pensando assim, também dou um choque de realidade e o jogador se sente respeitado.
Jogadores resgatados e hierarquia do elenco
O crescimento desses jogadores resgatados foi muito desenvolvido em cima do comprometimento e do senso de profissionalismo deles, que para mim é uma obrigação. Não é virtude. Essa elevação de qualidade física e técnica dos jogadores foi porque eles também passaram a ter um comprometimento com a carreira deles. Isso é caso de 80% dos jogadores do Náutico, que muitos eram questionados e a partir do momento que desenvolveu bem no nosso dia a dia, foi bom para tudo mundo. Todo mundo cresceu porque eles foram profissionais”, disse o técnico.
Bastidores do quadrangular de acesso
O jogo da Ponte Preta dentro de casa (3ª rodada) foi o que reagimos mal. Tomamos gol por não competir na jogada e ali comecei a perceber no aspecto individual que tinha jogadores que não estavam suportando o momento. Isso é natural, cada profissional pode reagir diferente diante das dificuldades. Não gostei e nosso rendimento físico foi anormal, foi muito ruim. Ali eu fiz uma semana muito agressiva, de muita cobrança. Reagimos muito bem contra a Ponte fora de casa (4ª rodada) e tivemos um pequeno desastre, que foi tomar aquele gol que tomamos. A semana ficou difícil de novo, porque fizemos o máximo e fomos castigados no último minuto. O Guarani (5ª rodada) era decisão total. Não fizemos um grande jogo técnico, mas fomos muito fortes mentalmente. A reação daquele momento ela foi negativa dentro do vestiário após o jogo. O vestiário baixou muito e ali entra a voz do comando. Joguei todo mundo para cima e coloquei na cabeça deles que a decisão era em casa. A semana seguinte eu não pressionei em nada, só que o grupo passou a semana muito tenso, eles não relaxaram de jeito nenhum. Só que a ansiedade e a tensão também é sinal de concentração, e foi nisso que eu apostei. E eles tiveram aquela reação de uma decisão, porque no primeiro tempo já poderíamos ter definido as coisas contra o Brusque.
Balanço da temporada de Hélio dos Anjos
2025 para mim foi sensacional nesse aspecto, eu só trabalhei no Náutico. Só joguei um campeonato com reais condições de chegar, e chegamos. Para mim também, sendo sincero, desde 2017 eu estou entregando todo ano. Desde 2017 o objetivo que é colocado para mim, nós estamos entregando. Para mim esse momento foi maravilhoso por ser no Náutico, pelo carinho e representatividade na minha vida, mas profissionalmente foi mais um ano de conquista, como foi as últimas oito temporadas. Agora, a nossa capacidade de alcançar vai muito em função da nossa boa relação dentro do ambiente de trabalho. Essa relação humana que a gente consegue criar dentro dos clubes, é o que faz eu ter um ano muito positivo como eu tive no Náutico.
Planejamento para 2026
Hoje eu não tenho nenhuma garantia ainda de que vou ser o treinador do Náutico em 2026, eu tenho um contrato em vigor. A minha responsabilidade é de fazer o planejamento, porque eu tenho contrato até 30 de novembro. Só se discute nas Redes Sociais quem deve sair, ninguém escutou da minha boca que o Bolt (Igor) vai ficar, que o Patrick Allan vai sair, por exemplo. Não dei nenhuma entrevista sobre isso. Passei um relatório para o clube, e o clube sim tem direito de agir em cima desse relatório ou não. Mas o clube está agindo em cima de informações minhas, naturalmente. Para mim, mais importante do que essas discussões é o planejamento geral. E o planejamento passa por fortalecer a estrutura do futebol do Náutico. Se não melhorarmos vamos ter problema no decorrer do ano. São 38 rodadas de Série B, com condições geografias longas e menos tempo de um jogo para o outro. Também tem que sensibilizar o jogador a vir para o Náutico. O jogador hoje, e seu agentes, querem clubes com estrutura. Entre um time com estrutura e um com camisa, ele vai para o que não tem camisa, porque prorroga o tempo de atividade profissional dele. Para mim, o planejamento passa por isso e o Bruno (Becker) e a direção tem essa sensibilidade”.
Projeção para a Série B
Começa todo mundo do zero e todo mundo tem o direito de sonhar em chegar entre os quatro (G4). O caminho é longo, é duro e as etapas são difíceis, mas o Náutico entra sonhando. Tem que entrar sonhando, pela camisa, pela capacidade de mando de campo. Agora, temos que nos preparar muito para alcançar esse objetivo. Não adianta chegar hoje e falar que o Náutico vai entrar para se manter na competição, que hoje já é um grande ganho para qualquer equipe fazer algumas temporadas na Série B, porque fortalece elas. Agora, o direito de sonhar pelo nosso acesso é tão grande quanto de possíveis times que serão rebaixados (Série A) e tem um potencial enorme na competição”.