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COLUNA BETO LAGO

Beto Lago: 'Públicos nos Brasileiros escancaram identidade, tradução, crise de gestão e abismo dos clubes'

No ranking nacional de média de público, o Santa Cruz lidera o estado na 11ª colocação, seguido do Sport na 21ª e com o Náutico na 26ª posição

Beto Lago

Publicado: 24/12/2025 às 13:14

Torcidas de Náutico, Santa Cruz e Sport/Rafael Vieira/FPF

Torcidas de Náutico, Santa Cruz e Sport (Rafael Vieira/FPF)

Os dois lados
Os números de público das quatro divisões dos Brasileiros contam uma história que vai muito além da simples presença e até mesmo da ausência de torcedores. Escancaram identidade, tradição, crise de gestão e, principalmente, o abismo dos clubes que não estão bem, com aqueles que não conseguiram criar raízes. No cenário nacional, o dado inicial já chama atenção: dos dez maiores públicos entre todas as séries do Brasileiro, nove foram do Flamengo e um do Fluminense. Um sinal claro de que, mesmo em tempos de futebol-empresa e consumo fragmentado, a massa comparece quando existe vínculo histórico e simbólico. Quando o olhar se volta para Pernambuco, o contraste é brutal. Mesmo tendo o 21º público total entre todas as divisões nacionais, o Sport ocupa lugar incômodo, com dois dos dez menores públicos: contra Vitória e Grêmio, ambos na Ilha do Retiro. O palco de todo leonino seguirá sendo um ativo simbólico fortíssimo, mas a relação entre clube e torcedor atravessou um período de desgaste. A ausência não é desamor: é cobrança. O torcedor rubro-negro segue exigente, desconfiado e cansado de gestões erráticas. O estádio vazio, nesse caso, não era apatia. Foi um protesto silencioso. Por outro lado, se o futebol fosse movido apenas por arquibancadas, o Santa Cruz estaria em outra prateleira. Único fora das Séries A e B a figurar no Top 20 de torcidas nas arquibancadas dos Brasileiros, o Santa Cruz concentrou oito dos dez maiores públicos da Série D – cinco na Arena de Pernambuco e três no Arruda. O dado é impactante porque desmonta o discurso de que divisão define grandeza. O Santa Cruz, que vivia um colapso institucional e esportivo, segue mobilizando multidões. A torcida carrega o clube nas costas, literalmente. É esperar que isso se repita com a SAF assumindo o clube.

Regular, engajada e fiel
Na Série C, o Náutico teve cinco dos dez maiores públicos, superando clubes de mercados semelhantes e maiores orçamentos. Ponte Preta teve três jogos na lista, Figueirense e Guarani um cada – com o Derby campineiro, no Brinco de Ouro, o de maior público da competição, com mais de 17 mil torcedores. O torcedor alvirrubro teve regularidade, engajamento e fiel, sabendo abraçar o time dentro de um limite realista.

Fênix em outro extremo
O Retrô foi outro extremo. Na Série C, a Fênix teve sete dos dez piores públicos, todos na Arena de Pernambuco. Um dos jogos contou com nove pagantes, diante do Ypiranga/RS. O Retrô é o retrato fiel de um clube moderno no papel, mas sem a força do povo. Tem estrutura, investimento e até planejamento esportivo. Falta identidade. Sem pertencimento, o estádio vira cenário vazio, e o futebol, um produto sem consumidor.

A arquibancada fala
Se olharmos a realidade pelo público presente, nossos clubes têm seus desafios. O Sport necessita reconquistar a confiança do seu torcedor. O Náutico transformar estabilidade em crescimento. O Santa Cruz alinhar gestão à paixão que ainda o sustenta. E o Retrô precisa se definir se deseja ser clube ou projeto esportivo. A arquibancada fala... e muito.

 

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