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COLUNA BETO LAGO

Beto Lago: 'Arbitragem no Brasil não é apenas um problema de comportamento, mas estrutural'

'A arbitragem no Brasil está muito abaixo da exigência técnica e emocional do jogo moderno'

Lucas Valle

Publicado: 10/10/2025 às 08:34

Recife, PE, 02/08/2025 - SPORT X BAHIA - Na tarde deste sábado(02), a equipe do Sport recebeu a equipe do Bahia pelo Campeonato Brasileiro da Serie A 2025 no estádio da Ilha do Retiro. Arbitro, Anderson Daronco./Rafael Vieira

Recife, PE, 02/08/2025 - SPORT X BAHIA - Na tarde deste sábado(02), a equipe do Sport recebeu a equipe do Bahia pelo Campeonato Brasileiro da Serie A 2025 no estádio da Ilha do Retiro. Arbitro, Anderson Daronco. (Rafael Vieira)

Arbitragem
As mudanças no calendário do futebol brasileiro foram, em sua maioria, válidas. O futebol nacional começa a dar passos tímidos rumo à racionalidade – menos jogos em sequência, mais tempo de treino e recuperação, e, consequentemente, partidas de melhor qualidade. Mas há um ponto que segue sendo o calcanhar de Aquiles do nosso futebol: a arbitragem. O nível da arbitragem brasileira está muito abaixo da exigência técnica e emocional do jogo moderno. Falta preparo, leitura e postura. Muitos árbitros ainda se colocam como figuras intocáveis, sem disposição para o diálogo e sem convicção em campo. Estão, muitas vezes, longe dos lances, perdem o tempo da jogada e recorrem ao VAR como se fosse um salva-vidas. O problema é que, mesmo com o recurso tecnológico, o erro continua, ora por arrogância, ora por insegurança. Há casos em que a revisão mostra o equívoco e, ainda assim, o árbitro mantém a decisão, como se reconhecer o erro fosse um pecado.

A questão, no entanto, não é apenas de comportamento. É estrutural. O Brasil, país de maior produção de talentos no futebol mundial, ainda trata a arbitragem como atividade secundária. A maioria dos árbitros tem outras profissões, treina pouco, viaja muito e raramente participa de um programa contínuo de atualização. Enquanto isso, em ligas como a inglesa e a alemã, a arbitragem é profissionalizada há mais de uma década. Lá, os árbitros vivem exclusivamente do futebol, recebem treinamento físico e psicológico de ponta e são acompanhados por departamentos técnicos que analisam cada atuação. O VAR, que deveria ser o símbolo da modernidade, acabou escancarando ainda mais a falta de preparo. Em vez de ajudar, muitas vezes confunde. O protocolo é mal aplicado, o tempo de análise é excessivo e, o mais grave, as decisões continuam subjetivas. Enquanto as principais ligas do mundo caminham para integrar tecnologia e clareza, no Brasil o VAR se tornou sinônimo de dúvida e polêmica.

Mais equilíbrio, menos arrogância
O futebol brasileiro, com toda a sua tradição, precisa de árbitros que entendam o jogo, dominem a regra e saibam aplicá-la com equilíbrio e autoridade, sem medo de errar e sem arrogância para não corrigir. Mais do que uma questão técnica, é uma questão de credibilidade. E, neste momento, é o que mais falta à arbitragem nacional. O máximo que se vê são cursos esporádicos e uma reciclagem desigual entre as federações estaduais. Não tem plano nacional de capacitação, um modelo de meritocracia transparente. Os erros se acumulam, e a punição, quando vem, é silenciosa, uma “geladeira” sem explicação pública. Essa falta de transparência alimenta a desconfiança e mina o respeito à arbitragem.

Por mais padronização
Outro ponto crítico é a ausência de padronização. O torcedor já se acostumou à incoerência: o que é pênalti em um jogo, não é em outro; o que vale cartão vermelho num domingo vira apenas advertência no outro. Não há critério uniforme, e isso destrói a credibilidade do campeonato. Jogadores, técnicos e torcedores perdem a referência do que é certo ou errado.

Venda da operação de jogo
A negociação da operação do jogo entre Sport e Flamengo é um dos episódios mais vergonhosos da história do clube. Uma decisão que escancara a completa desconexão da atual gestão com sua torcida e com a própria identidade rubro-negra. Transformar um jogo do Sport em um evento terceirizado, entregue ao adversário, é abrir mão do mando de campo e, pior, da dignidade esportiva. O Leão, que sempre se orgulhou da força da Ilha, agora se vê reduzido a coadjuvante dentro da própria casa.

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