Editorial Desequilíbrio preocupante

Publicado em: 26/07/2018 03:00 Atualizado em: 26/07/2018 08:51

Quatro anos atrás, Portugal lançou um plano para estimular a natalidade. Reduziu a jornada de trabalho das mulheres, sem alteração do salário. O sexto país com mais idosos do mundo, em termos proporcionais, sentiu o impacto do envelhecimento dos cidadãos. Sem o correspondente crescimento demográfico, a sustentabilidade da nação estava em risco. O Brasil segue, a passos largos, ao encontro da situação enfrentada pelos patrícios lusitanos. Em 2047, a população brasileira deverá chegar a 233,2 milhões — hoje, somos 208 milhões — e, a partir daí, entrará em declínio.

O país terá 228, 3 milhões em 2060 (menos 3,9 milhões), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pouco mais de um quarto da sociedade nacional (25,5%) terá 65 anos ou mais. Entre as unidades da Federação com os menores números de nascimento estão Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro e Minas Gerais. As mulheres, que adiaram a maternidade e hoje concebem na faixa média de 27,2 anos, deverão ter o primeiro filho ainda mais tarde, aos 28,8 anos

Se hoje há um desequilíbrio, a tendência é de ele se aprofundar ao longo dos próximos anos. O envelhecimento populacional impõe uma dependência econômica da parcela produtiva da sociedade, entre 15 e 64 anos. Hoje, essa relação é 44%, ou seja, 44 pessoas com menos de 15 anos e com mais de 65 são dependentes em cada grupo de 100 em idade produtiva (15 a 64 anos). Em 2039, essa relação será de 51,5% e deverá aumentar para 67,2% em 2060. “Estamos vivendo mais, segundo a esperança de vida, mas viver melhor depende de outros fatores”, ressalta Leila Ervatti, demógrafa do IBGE, ao analisar os dados do estudo.

Garantir “um viver melhor” para os brasileiros é desafio aos pretendentes a governantes no país. Além da necessidade de rever a qualidade dos serviços essenciais, como saúde, educação, segurança, saneamento básico, entre outros, os canditatos a cargos eletivos deverão realizar as reformas tidas como fundamentais para que jovens e idosos tenham reais condições de vida digna no Brasil. Não à toa, caiu a taxa de fertilidade. Parte dessa resistência de mulheres e homens a ter filhos decorre da falta de resposta do Estado às demandas socioeconômicas da população.

O tema não chega aos debates políticos que antecedem as eleições. Candidatos e correligionários apontam as falhas do Estado em relação à gestão atual e às administrações passadas, mas esquecem de apresentar soluções. Tudo que é insatisfatório, a sociedade tem pleno domínio. Hoje, o que os brasileiros desejam é um projeto de nação que, efetivamente, contemple soluções para problemas imediatos e futuros que estudos como o do IBGE revelam.

Será suficiente reformar a Previdência Social ou rever o sistema tributário? Tais indagações estão na ordem do dia, mas não têm respostas dos que pretendem comandar o país a partir de 2019. Não seria o caso de rever o tamanho da máquina pública, reduzir os gastos do Estado com a burocracia? Ou, quem sabe, fazer cumprir ditames constitucionais, como o teto salarial, com revogação de benesses pecuniárias que somente aprofundam as desigualdades no Brasil e que desestimulam a maternidade responsável.

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