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Ex-The Voice, recifense Letícia Bastos faz pop nordestino em novo no EP

Intitulado "Meu Oxente", novo EP de Letícia Bastos já está disponível nas plataformas digitais e traz seis canções inéditas.

Pedro Ferrer

Publicado: 14/12/2025 às 08:06

Letícia Bastos também vem lançando videoclipes para cada uma das músicas de

Letícia Bastos também vem lançando videoclipes para cada uma das músicas de "Meu Oxente". (Dara Nunes/Divulgação)

Após oito anos sem músicas inéditas, a cantora recifense Letícia Bastos lança o EP Meu Oxente, já disponível nas plataformas digitais, com seis canções autorais carregadas de nordestinidade com uma sonoridade pop. É uma espécie de manifesto contra a xenofobia, expressada muitas vezes em formato de críticas, deboche e comentários jocosos sobre a forma de falar de quem nasceu em um dos nove estados do Nordeste - cada um com características e sotaques próprios, mas frequentemente enxergados de forma uniforme.

À própria Letícia já foi recomendado amenizar a pronúncia em prol de uma suposta neutralidade na fala. Ela tinha apenas 20 anos quando foi selecionada do talent show musical The Voice Brasil, à época apresentado na TV Globo, no time de Michel Teló. Em algumas ocasiões depois da participação, foi questionada algumas vezes sobre a escolha de não encobrir o sotaque durante o canto. Optou por se manter fiel às raízes e, agora, mergulha de vez nas referências locais após alguns anos dedicada a cantar músicas em alta no mainstream, quando mais jovem. “Decidi investir na música em que acredito”, defende Letícia.

A faixa-título dá o tom do álbum. “Me disseram pra falar baixinho pra caber em tom de estrangeiro”, reclamam os versos do baião, seguidos por uma provocação: “Mas meu sotaque é mais afinado que o de muito brasileiro”. O refrão é inspirado em célebre frase de Ariano Suassuna, paraibano radicado no Recife e ferrenho defensor da nossa cultura: “Eu não troco o meu oxente pelo OK de seu ninguém”. A inserção do “seu ninguém” ficou por conta dela. Nordestinos irão entender o incômodo revelado pela expressão popular.

“É pertencimento. É um trabalho autoral que nasce da minha escrita, da minha voz, do meu sotaque e das histórias que carrego comigo desde sempre. Cada faixa revela uma camada da cultura nordestina: a força, a leveza, a saudade e o desejo. É olhar para dentro, com verdade, e cantar de onde venho, com orgulho”, resume a cantora, que começou a cantar aos 14 anos.

 

Com referências cotidianas, uma pitada de humor e temas como amor, saudade e desejo, Letícia envereda pelo seu pop nordestino de forma leve, voz afinada e sonoridade construída a partir de fusões. Da sanfona, zabumba e percussão a elementos eletrônicos e R&B, ela dialoga com a cena contemporânea sem deixar de exaltar os clássicos - pouco antes do álbum, gravou uma releitura de Feira de Mangaio, de Glorinha Gadelha e Sivuca, de salto alto e roupa colorida em meio à feira de Caruaru.

Meu Oxente tem seis músicas, com videoclipes lançados semanalmente. Os dois primeiros foram disponibilizados em formato de single. Permita-se, a primeira, é um estímulo para encarar os medos e ir atrás dos sonhos. Reflete o momento atual da vida de Letícia, que já chegou a pensar em interromper a carreira artística, mas assumiu recentemente as rédeas de todas as etapas da carreira para imprimir um viés mais autoral.

Ela se imagina dentro da personagem de La Belle De Jour, de Alceu Valença, em A Moça de Boa Viagem. A aura musical passeia entre o sensual e o poético e combina elementos do R&B com a marcação do triângulo e o balanço da sanfona. No clipe, gravado na praia imortalizada na música brasileira pelo ídolo, ela mostra símbolos como a placa de Perigo, óculos espelhados, vendedores ambulantes e convida outras “moças de Boa Viagem” como recado de autovalorização da mulher.

Os outros quatro vídeos foram todos gravados em Olinda e idealizados como continuação um do outro. Meu Oxente mescla traços típicos da música feita no Nordeste - do triângulo à sanfona e ao maracatu, sob coro inspirado em lavadeiras. A composição reúne símbolos da cultura pernambucana (La Ursa), tem locações no Grêmio Henrique Dias (da vanguarda do frevo), escala caboclo de lança e se aventura entre espaços reais reimaginados, da tradição ao dia a dia.

Em Fulano Disse, o bate-papo prosaico e bem-humorado das fofocas é captado como elemento urbano para reverberar a nordestinidade. É um tributo ao “disse-me-disse”, o boato, fuxico enquanto elo social e indicador do ânimo afetivo, familiar, econômico da urbanidade. “A faixa retrata a forma como as pessoas contam, aumentam e reinventam histórias. O tom é leve, divertido e irônico: uma crônica musical sobre a ‘boca do povo’, elemento essencial da cultura popular”, pontua Letícia.

Eu Chamo Você é uma faixa romântica sobre memórias de um amor perdido. Alça a ausência ao patamar de inspiração e constitui uma pausa sonora em meio à agitação das outras faixas do EP. “Na noite que vem, na falta que tem, na saudade de alguém, eu chamo você”, diz a letra.

Em Eternos Amantes, o amor é vivido com liberdade contemporânea para experimentações, sem amarras e formas. O prazer sobrepõe o sentimentalismo, o agora se impõe. A música absorve a dinâmica das novas gerações digitais, a fluidez dos envolvimentos, a liquidez das redes sociais, a independência afetiva. A música alude à renovação, à incorporação do novo sem desprezar a essência, a tradição e a singularidade.

O clipe de Eternos Amantes será disponibilizado nas plataformas digitais no dia 19 de dezembro, às 11h - é o último dos vídeos lançados a cada semana no canal oficial da cantora no YouTube, com trechos replicados no Instagram e no TikTok.

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