Três Graças confirma fôlego de novelão na primeira semana
Três Graças" estreou na última semana na faixa das nove e confirmou o desejo do público: novelão com história bem contada e atuações seguras de Sophie Charlotte, Grazi Massafera e Murilo Benício
Thiago Tião - Especial para o Viver
Publicado: 27/10/2025 às 16:50
(Sophie Charlotte) e Joélly (Alana Cabral) chegam ao ponto de táxi (Foto: Globo/ Fabiano Battaglin)
Três Graças estreou com gosto de novela das nove: entretenimento bem feito, popular e elegante. O pernambucano Aguinaldo Silva retorna à faixa após a demissão em janeiro de 2020, depois de 40 anos na Globo, e o faz com a segurança de quem sabe contar história: mistura emoção com ironia e deixa a crítica social aparecer em cena, sem didatismo. O texto, também assinado por Virgílio Silva e Zé Dassilva, traz frescor, ritmo e humor ácido na medida. A parceria faz a novela soar clássica e, ao mesmo tempo, atual.
A história é clara e envolvente. Três gerações de mulheres lidam com maternidade precoce e abandono. Gerluce (Sophie Charlotte), moradora da Chacrinha, tenta proteger a filha, Joélly (Alana Cabral), enquanto carrega um segredo doloroso ligado a Jorginho Ninja (Juliano Cazarré). Ao mesmo tempo, desconfia de irregularidades nos remédios distribuídos na comunidade e vê a mãe, Lígia (Dira Paes), no centro da suspeita. É aí que a trama cruza com a elite: a Fundação Ferette, de Santiago Ferette (Murilo Benício), e a milionária Arminda (Grazi Massafera) entram em cena. No mesmo eixo de poder e fachada, a escultura “As Três Graças”, usada como esconderijo de dinheiro sujo, funciona como símbolo direto: luxo por fora, problema por dentro, um espelho da distância entre discurso e prática.
A novela acerta quando deixa a vida falar por ela. A sequência no posto de saúde foi um cartão de visitas: simples e direta, a pergunta incômoda sobre a ausência de homens na fila de exames de gravidez expõe, sem discursos, uma realidade que o público reconhece. É Aguinaldo no seu melhor: a narrativa confia na inteligência do espectador e faz a crítica caber na vida comum. A direção de Luiz Henrique Rios mantém a imagem bonita a serviço do conflito, sem exagero gratuito; closes e zooms aparecem para servir à trama, não para fazer firula. Quando a novela pisa no freio e deixa a conversa respirar, cresce ainda mais.
O elenco tem rosto de horário nobre. Sophie Charlotte entrega uma Gerluce quente e crível. Grazi Massafera faz de Arminda uma vilã de verniz e farpas, dona de frases que colam na cabeça. Murilo Benício impõe presença como Santiago, ainda que o sotaque pese em alguns momentos. Vale o destaque da estreia: Paulo Mendes, como Raul, e Alana Cabral, como Joélly, mostram maturidade no ar. Ele combina conflito e doçura sem cair no caricato; ela sustenta emoção no olhar, respira a cena e não some ao lado dos veteranos. Grata surpresa também é Belo como Mísael: entrada segura, atuação limpa e, após o atropelamento, torcida automática para que o personagem não tenha morrido.
Saldo da primeira semana: um novelão com história bem contada, cenas que falam por si e personagens que pedem retorno no dia seguinte. “Três Graças” devolve à faixa das nove a mistura certa de prazer e incômodo. Tem conflito, tem frase que gruda e tem um mundo reconhecível. Por enquanto, o compasso é bom, o elenco está afinado e o trio de Silvas mostra jogo de cintura. Se seguir assim, vira vício diário. Aguinaldo voltou inteiro. E a gente estava com saudade.