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COMEMORAÇÃO

Cinco décadas do icônico Palhaço Chocolate

Neste domingo (12), o show do Palhaço Chocolate marca os 50 anos de carreira do ícone da cultura infantil pernambucana. A comemoração também é de mais um dia das crianças no Parque 13 de Maio, no centro do Recife

Nicolle Gomes

Publicado: 11/10/2025 às 07:00

Palhaço Chocolate/Melissa Fernandes/DP Foto

Palhaço Chocolate (Melissa Fernandes/DP Foto)

O Palhaço Chocolate marcou crianças e gerações pernambucanas. Este ano, o personagem comemora 50 anos espalhando alegria não só em Pernambuco, mas também em todo o país. Tradicionalmente lembrado por realizar o maior show infantil ao vivo do Brasil no Dia das Crianças, no Parque 13 de maio, no centro do Recife, o Chocolate estará novamente no local neste domingo (12), festejando um marco tão importante.

O Diario conversou Ulisses Dornelas, o homem que há 50 anos dá vida ao Palhaço Chocolate – segundo ele, os dois são “irmãos gêmeos”. A pessoa que pensa tudo que o Palhaço executa, é, na verdade, muito parecida com ele.

“O Ulisses é meu irmão gêmeo. O Ulisses tem formações que ajudaram a compor a imagem do Palhaço Chocolate: pedagogo, ator profissional, psicólogo e administrador. Chocolate é o operário que trabalha criando, elaborando, pesquisando, estudando, mas Ulisses entrega para Chocolate, e Chocolate quem realiza. Chocolate é quem leva minhas mensagens, temos uma simbiose. Tanto que eu não apareço sem a farda, só apareço a caráter. Porque eu não quero que se quebre essa fantasia de 50 anos.”, conta,

O início

Nascido em Olinda, Ulisses sempre foi muito ligado à arte e ao território pernambucano, ele conta. Desde muito novo, já tinha paixão pela interpretação. Na adolescência, fez parte do grupo “Família dos Bombons”. Era o início do que viria a ser um enorme símbolo de diversão e cultura acessível para tantas crianças.

“Eu comecei com 5 anos, brincando. Como um ator iniciante, comecei com a ‘Família dos Bombons’. Eu era o bombom de chocolate. Tinha vários bombons: caramelo, chocolate, pirulito, cada um era personagem, uma ‘delícia’. Como fazia muito aniversário, foi evoluindo até chegar um ponto em que todo mundo só queria o Palhaço Chocolate no meio dos bombons para fazer a festa. Quem não gosta de chocolate? É uma delícia. Recebi o convite e comecei a fazer (solo). Ao mesmo tempo, na Família dos Bombons, alguns não puderam seguir a carreira, foram deixando. Quando foi se desfazendo, eu disse: ‘Não vou deixar esse personagem morrer’”, ele relembra.

Uma das crianças que foi tocada pelo trabalho do Palhaço Chocolate foi Carlos Eduardo da Silva. Hoje, aos 25 anos, ele compartilha as memórias afetivas de quanto frequentava o Show do Palhaço nos Dias das Crianças. Desde os quatro anos de idade ele era levado junto aos primos pela mãe.

“É um sentimento de alegria. Porque é era um momento único De ver outras crianças, estar com meus primos, familiares. Em um show que na época era uma coisa super divertida, cantar, brincar, se divertir, pular, comer besteira o tempo todo, ver o Palhaço de perto”, recorda.

As lembranças envolvendo o Palhaço Chocolate são tão importantes para Carlos que ele incluiu em um projeto acadêmico entitulado “Revivendo a Infância”, uma foto com a irmã e o Chocolate, em um dos Shows que presenciou. Como Carlos, tantas outras crianças puderam ter acesso à cultura e lazer de forma gratuita por meio do trabalho do Palhaço.

“Eu acho importante (o acesso gratuito). Diferentemente de hoje, que muita coisa é privada. Acho que na época esse acesso foi fundamental para a gente entender como é que funcionava a cultura. Poder ver de perto o Palhaço, poder sentir a energia que era na época transbordante de sensações boas”.

Representatividade

Com o estabelecimento do Palhaço Chocolate como um personagem em carreira solo, Ulisses conta que viu a oportunidade de também ser uma representatividade cultural.

“Como eu trabalho com circo, eu associo a imagem do Palhaço Chocolate ao circo, à dança, ao teatro e à música. Eu reúno as quatro áreas cênicas. E toda a parte literária que a gente pesquisa muito, escreve bastante, até chegar no roteiro final. A partir do momento em que fiz carreira solo, eu disse assim: ‘A partir de hoje eu vou construir um personagem que possa ser o porta-voz da cultura pernambucana, nordestina e brasileira’. Nossa cultura é muito rica, tem tudo, Ciranda, Maracatu, Xaxado, Baião, tem Palhaço Chocolate”.

Longevidade

De 1975 até 2025, são inúmeras as evoluções pelas quais o Palhaço passou para continuar sendo referência na cultura infantil de maneira acessível e democrática. No meio do processo, foram muitos os desafios, relata Ulisses.

“Teve uma evolução. A criança mesma evolui, vai crescendo. Chocolate viveu os maiores desafios, os grandes momentos da transformação do país. Antes, para fazer um roteiro, a gente tinha que passar pela censura. Nós fizemos vários roteiros e nas entrelinhas a gente passava a nossa mensagem. Eu descreveria Chocolate nesse momento como um conjunto de grandes ideias que foram mudando ao longo desses 50 anos. Nós tivemos a força e a vontade de mudar, porque a arte transforma. As grandes mudanças do planeta sempre foram feitas através da arte. O poder e a magia da arte supera qualquer desafio”.

Para chegar a cinco décadas de uma história com tantos momentos memoráveis, o Palhaço aponta que a fé no poder da arte como agente de mudança social é crucial, como o papel das crianças no futuro. E falando em futuro, ele conta que quer seguir interpretando o Chocolate.

“O coração de Chocolate bate ainda com todo vapor, mesmo com alguma dificuldade, às vezes de saúde, mas eu ultrapasso e supero. Eu pretendo e quero continuar, projetando o mundo melhor, mais justo, fraterno, e humano. Falta isso. Hoje vemos pessoas falando em guerra. Crianças, pessoas idosas morrendo. A arte tem poder de transformar. Quero fazer com que esse país seja diferente, quero ver um mundo melhor. Acho que a partir daí, vai se construir esse mundo novo. E quem constrói esse mundo novo? As crianças”.

Após uma vida inteira dedicada ao Palhaço Chocolate, entre tantos anos e apresentações, as contas se perderam no meio do caminho. Segundo ele, em um único ano, ele chegou a realizar mil shows. Hoje, ele sequer sabe dizer quantas vezes se apresentou. “Não sei, é impossível contar. Eu fico devendo para essa resposta”.

A lição do Palhaço

Questionado sobre o legado que quer deixar, o Palhaço Chocolate reforça a apreciação da vida e do poder da educação das crianças para mudar o mundo.

“O grande conselho do Palhaço Chocolate e do Ulisses ao mesmo tempo, é: ‘Tente aproveitar cada segundo da vida’. Olhe para a criança, porque ela é um grande professor. Eu aprendi muito com elas. A criança tem o poder de criar e interpretar ao mesmo tempo.. Ela cria e representa. Você olha de uma brincadeira simples que ela faz, tem uma grandiosidade imensa, infinita. Então, olhemos por nossas crianças, tratá-las bem, educá-las bem. Isso faz a diferença. Meu conselho que você, pai e mãe, pense na sua criança. Derrame amor, amor de forma infinita que o resultado é positivo.

Sentimento

O Palhaço Chocolate conta como é ver o trabalho reconhecido. Emocionado, ele não segurou as lágrimas ao compartilhar esse sentimento.

“São lembranças maravilhosas. Eu me sinto feliz por ser esse porta-voz. Então, quando você vê trabalho ganhar vida, corpo, admiradores, é especial. Onde eu chego, a imprensa é muito simpática com o meu trabalho, todos reconhecem que tem algo diferente. Dizem que é proibido o palhaço chorar, mas tem hora que você chora. Eu acredito na paz, no amor”.

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