Filme 'À Procura de Martina' une Brasil e Argentina pela memória
Drama inspirado nas mulheres argentinas que lutam para encontrar seus netos, 'À Procura de Martina estreia nesta quinta-feira nos cinemas
Publicado: 04/06/2025 às 11:56

'À Procura de Martina' é estrelado por Mercedes Morán (Foto: Léo Bittencourt/Divulgação)
Mais de quatro décadas após o fim da ditadura argentina, segue viva a busca por cerca de 500 crianças que foram arrancadas de suas famílias pelos agentes do regime. É dessa ferida aberta que nasce a história das Avós da Praça de Maio, criada em 1977, e que agora inspira o filme À Procura de Martina. O longa, dirigido por Márcia Faria, entra em cartaz a partir desta quinta-feira (5) nos cinemas.
A trama acompanha a jornada de Martina (Mercedes Morán), uma mulher argentina que corre contra o tempo para encontrar o neto, desaparecido durante a ditadura, enquanto ainda apresenta alguma autonomia diante do diagnóstico recente de Alzheimer. Ao descobrir que o neto pode estar no Brasil, a protagonista embarca em uma jornada onde passado e presente se misturam, transformando sua busca em uma luta contra o esquecimento.
A viagem para a nação vizinha carrega também um peso simbólico. Ao contrário da Argentina, o Brasil carrega as marcas de um período trágico de violações e silenciamentos que não foram cicatrizadas. “Essa mulher cruzando fronteiras para chegar a um país que carrega esse estigma tão verdadeiro, embora já soe clichê, de ser um país sem memória, acabou se tornando, para mim, uma metáfora muito potente. É uma forma de refletir, tanto no plano individual quanto coletivo, sobre os processos de memória e de justiça”, explica Márcia Faria em conversa com o Viver.
No elenco brasileiro, estão as atrizes Luciana Paes e Carla Ribas, esta última consagrada por sua interpretação como Martha no premiado Ainda Estou Aqui. Lançado pouco tempo depois, À Procura de Martina reforça a potência de narrativas centradas no olhar e na vivência de mulheres em contextos de opressão. “São mulheres tragadas por uma realidade autoritária, política, brutal, que dilacera o núcleo familiar. E, diante disso, o movimento delas é justamente o oposto da violência: é o de tentar preservar a família, reconstruir esse afeto que foi destruído por uma força externa e sombria”, pontua Carla..
Para Luciana, a existência desses filmes não se limita ao campo simbólico. “Tem uma reverberação prática, documental. É sobre saber o nome do torturador e ter gente na porta do prédio dele segurando uma faixa que diz ‘nós não esquecemos’. O fato de essas obras existirem mostra o quanto essa ferida ainda está aberta”, defende a atriz.

