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HISTÓRIA

Mapa inédito pode levar aos mais antigos Quilombos dos Palmares, em Pernambuco e Alagoas

A expectativa é de que as investigações arqueológicas capazes de confirmar a informação comecem em janeiro do próximo ano.

Antônio Gois

Publicado: 19/11/2025 às 22:39

Área de pesquisa em Lagoa do Ouro (PE)/Divulgação

Área de pesquisa em Lagoa do Ouro (PE) (Divulgação)

Encontrado nos Estados Unidos, um mapa inédito da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro pode ajudar na localização dos mais antigos Quilombos dos Palmares, no Agreste de Pernambuco e em Alagoas. A expectativa é de que as investigações arqueológicas capazes de confirmar a informação comecem em janeiro do próximo ano.

O documento, encontrado pelo cartógrafo histórico Levy Pereira na biblioteca da Universidade de Harvard, permitiu que pesquisadores brasileiros traçassem o caminho de expedições contra quilombos durante o século 17.

O material é uma versão manuscrita do Brasilia Qua Parte Paret Belgis (A parte do Brasil que pertence aos Neerlandeses), do matemático e naturalista George Marggraf, composta de nove mapas das Capitanias e Câmaras do Brasil Neerlandês.

Área de pesquisa em Lagoa do Ouro (PE) - Divulgação
Área de pesquisa em Lagoa do Ouro (PE) (crédito: Divulgação)

A análise desse mapa, comparada aos relatos do comandante Johan Blaer, líder de uma expedição contra quilombos em 1645, permitiu reconstruir com maior precisão o percurso realizado pelos holandeses. O cruzamento dessas informações com imagens de satélite de alta resolução possibilitou identificar elementos compatíveis com os três quilombos mencionados por Blaer.

Segundo o relato do oficial holandês, o primeiro quilombo estava abandonado devido às condições insalubres do local, o que causou a morte de muitos moradores. O segundo, parcialmente destruído pela primeira expedição holandesa aos Palmares, em 1644, também fora abandonado. O terceiro quilombo era o único ativo.

Os dois primeiros quilombos estariam situados nos atuais municípios de Correntes e Lagoa do Ouro, no Agreste de Pernambuco, e o terceiro corresponderia à região de Chã Preta e União dos Palmares, em Alagoas.

A ocupação holandesa de grande parte do Nordeste aconteceu entre os anos de 1630 a 1654. No período, continuaram a produção de açúcar nos engenhos confiscados aos proprietários portugueses sob o mesmo regime de mão de obra de escravizados.

Área de pesquisa em Lagoa do Ouro (PE) - Divulgação
Área de pesquisa em Lagoa do Ouro (PE) (crédito: Divulgação)

Embora haja indícios de que comunidades quilombolas se estabeleceram nas atuais regiões do Agreste pernambucano e alagoano desde o século 16, os ataques aos engenhos, as fugas de seus proprietários e o ambiente próprio de uma zona de guerra de conquista, favoreceram o aumento da população quilombola, já que as pessoas escravizadas se aproveitavam do clima das batalhas e guerrilhas para fugir do local onde eram mantidos.

“Quando os holandeses se estabilizaram, começaram a perceber que esses quilombos representavam ameaça, porque muitos aquilombados atacavam engenhos, sobretudo os mais distantes do litoral, e levavam outros escravizados para viver com eles”, afirmou o arqueólogo Onésimo Santos, um dos coordenadores do projeto.

Ao Diario, Onésimo explicou a história que envolve a pesquisa, além de contar como os profissionais pretendem realizar o trabalho em campo. Segundo ele, o grande objetivo é “localizar esses quilombos, ver onde eles estavam, onde é que eles foram instalados nessa época anterior à instalação de Zumbi na Serra da Barriga, principalmente para compreender a extensão total de onde toda a área que eles ocupavam”.

A equipe, além dos trabalhos de mapeamento já feitos com o uso de satélite para identificar as áreas que serviram como morada, pretende fazer varreduras na superfície e escavar o terreno em busca de estudar os sedimentos e materiais que podem aparecer. Serão usados equipamentos avançados como drones, detectores de metal e GPS de precisão.

“Nós sabemos pelos relatos como eram essas cercas que fortificavam os quilombos. Nós sabemos como eram as casas, que eram de madeira, nós sabemos que eles produziam uma cerâmica diferente da indígena, e nós sabemos, sobretudo, que diferentemente dos indígenas, eles dominavam a fundição do ferro. Esses africanos que foram trazidos para cá, eles já trouxeram na sua cultura a utilização do ferro, não somente com o trabalho do ferreiro de simplesmente martelar um pedaço de ferro que já foi feito, e sim fundir o ferro a partir do mineral”, explica o arqueólogo.

Onésimo coordena a pesquisa com o também arqueólogo Flávio Moraes, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL- Campus Sertão). A equipe inclui o cartógrafo histórico Levy Pereira, do geógrafo e arqueólogo Daniel Ferreira, dos historiadores Bruno Miranda, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Danilo Marques e Zezito Araújo, e do antropólogo Vágner Bijagó, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas - (NEABI), da UFAL-Campus Sertão. Leandro Pereira é responsável pelo registro audiovisual.

O projeto será financiado pela Fundação Cultural Palmares (FCP), através de Termo de Execução Descentralizado para a UFAL, e já tem a autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para as pesquisas no terreno.

A assinatura solene do termo pelo presidente da FCP, João Jorge Rodrigues, e pelo reitor da UFAL, Josealdo Tonholo, está marcada para esta quinta-feira (20), Dia da Consciência Negra.

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