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Vida Urbana
ATRASO

Prefeitura de Olinda ainda deve cachês a quase 60% das atrações do carnaval de 2025

Dados do TCE-PE disponíveis no site Tome Conta mostram que cerca de 60% das atrações que constam na plataforma não receberam nada ou ainda precisam receber parte dos cachês do carnaval de 2025.

Camila Estephania

Publicado: 14/11/2025 às 12:45

Atriz foi homenageada com um boneco gigante no carnaval de Olinda./JOSE OSORIO/AFP

Atriz foi homenageada com um boneco gigante no carnaval de Olinda. (JOSE OSORIO/AFP)

À medida que o fim do ano se aproxima, crescem as reclamações de artistas que se apresentaram no Carnaval de Olinda em 2025 e ainda não receberam o cachê pelo trabalho. De acordo com os dados disponíveis na plataforma Tome Conta, do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE), mais de 200 atrações foram contratadas para o ciclo carnavalesco da cidade, sendo que cerca de 60% delas ainda não receberam nenhum pagamento ou ainda precisam receber parte dos cachês. Em nota, a gestão municipal nega atrasos e atribui a falta de pagamentos a problemas documentais de artistas.

A banda Eddie, cujo show já virou tradição do Carnaval de Olinda, é uma das que aguarda o pagamento há 8 meses. “A gente sabe que rola uns atrasos na máquina pública, mas faz muito tempo que não atrasa assim e isso não é mais aceitável. Se eu atrasar meu IPTU esse tempo inteiro, eu tô lascado”, comparou o vocalista Fábio Trummer, que atualmente vive em Olinda.

De acordo com o músico, a banda prestou contas e emitiu a nota fiscal pelo serviço pouco após o show, em março. Dessa forma, o processo para pagamento do cachê estaria completo e o depósito deveria ter sido feito até 30 dias após a emissão da nota, como prevê o padrão da Lei de Licitações (nº 14.133/2021), que regulamenta os contratos desse tipo de trabalho.

Enquanto isso, a Eddie diz ter precisado arcar com uma despesa de R$ 17 mil, relativa à realização do show no carnaval de Olinda. “Contratamos técnico de som, roadie, músicos, van, hospedagem, alimentação… A gente, pelo menos, não atrasa o pagamento dos nossos funcionários”, destacou Trummer. “Foi um serviço muito bem prestado, com todo o gosto e amor do mundo, mas é muito chato não ter recebido até hoje”, completou.

Atrasos

A reportagem consultou as despesas da gestão olindense na área de cultura na plataforma Tome Conta e encontrou outras 73 atrações artísticas que, assim como a Eddie, ainda não receberam nada pelos seus trabalhos durante o carnaval da cidade de 2025.

Somam-se a elas mais 46 atrações que receberam apenas parte do que a Prefeitura lhes deve. Juntas, as 119 atrações representam 58,6% dos 203 nomes que trabalharam no carnaval de Olinda disponíveis na plataforma.

Há também artistas que não foram pagos até o momento e cujos contratos sequer entraram nos portais de transparência ainda. Sob anonimato, uma fonte que se encaixa nesse último caso contou ao Diario que, logo após seu show, prestou contas e emitiu a nota fiscal, mas, à pedido da Prefeitura, cancelou o documento sob a promessa de que pouco depois seria reiniciado o processo para receber o cachê.

“É a deixa que eles têm para não fazer o pagamento e dizer que está dentro do prazo, porque, se a nota não foi emitida ainda, o processo não foi finalizado. Eles só pedem a nota quando quiserem e o processo nunca se encerra”, disse o profissional, que revelou conhecer outros artistas que passam pela mesma situação com a gestão. “O atraso está bem além do que a gente vê em outras prefeituras”, comentou.

O que diz a prefeitura

De acordo com os dados disponíveis no Tome Conta, o total de empenhos relativos às atrações do carnaval de Olinda de 2025 somam mais de R$ 8 milhões até o momento. Desse montante, cerca de R$ 5,4 milhões já foram pagos aos artistas. Isso implica dizer que 66% dos empenhos disponíveis na plataforma foram pagos, no entanto, estariam concentrados nas mãos de apenas 41,4% dos artistas.

Procurada, a Prefeitura de Olinda disse em um primeiro momento que fez mais de 400 contratações para o carnaval da cidade, a partir de um investimento de R$ 15,5 milhões, dos quais 70% já haviam sido quitados. A reportagem questionou a gestão municipal onde os demais contratos estavam disponíveis para consulta, mas não obteve resposta.

Por conta da falta de informações sobre as contratações do carnaval, a vereadora Eugênia Lima (PT) fez um pedido de auditoria ao TCE para investigar as contas da festa. O órgão abriu um Procedimento Interno (PI) para levantar mais informações sobre a denúncia e, a depender da apuração, poderá ser aberta uma auditoria especial sobre o caso.

Em resposta à reportagem, a Prefeitura de Olinda alegou que os pagamentos estão sendo realizados mensalmente, dentro dos parâmetros legais e administrativos. De acordo com a gestão, parte dos atrasos se deve a questões burocráticas, como a regularização documental dos artistas.

A administração municipal ainda se comprometeu a quitar todos os cachês de maneira transparente. “Essa situação não irá interferir na realização do Carnaval de 2026, uma vez que as festividades de cada ano contam com orçamento próprio”, garantiu.

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