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Vida Urbana
LEVANTAMENTO

Pernambuco tem 92% das vítimas de ações policiais negras, aponta relatório da Rede de Observatórios da Segurança

Levantamento mostra que o estado está entre os que mais reproduzem o padrão racial da letalidade policial no país

Milena Galvão

Publicado: 06/11/2025 às 12:02

Em Pernambuco, 92% das vítimas da polícia em 2024 eram negras, aponta relatório/ Paulo Pinto/Agência Brasil

Em Pernambuco, 92% das vítimas da polícia em 2024 eram negras, aponta relatório ( Paulo Pinto/Agência Brasil)

Pernambuco aparece em posição alarmante no novo relatório Pele Alvo: crônicas de dor e luta, da Rede de Observatórios da Segurança, que será lançado no dia 13 de novembro. Segundo o estudo, 92,6% das pessoas mortas por policiais no estado, em 2024, eram negras; e 63,2% tinham até 29 anos. O levantamento reforça o padrão de violência policial com recorte racial no estado e em todo o país.

O documento analisou dados oficiais de nove estados brasileiros: Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Os números foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). No total, foram registradas 4.068 mortes decorrentes de intervenção policial em 2024, o equivalente a 11 mortes por dia. Destas, 3.066 vítimas (86,2%) eram negras.

Letalidade policial e perfil das vítimas

Em Pernambuco, o relatório mostra que a violência das forças de segurança atinge, principalmente, jovens negros das periferias urbanas. O estado integra o grupo onde o componente racial é mais evidente, ao lado de Bahia, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo.

Entre as vítimas registradas em 2024 nos nove estados, 57,1% tinham entre 18 e 29 anos, o que confirma o perfil de jovens como principais alvos da letalidade policial. Crianças e adolescentes também aparecem nas estatísticas: 297 mortos foram adolescentes entre 12 e 17 anos, além de um caso envolvendo uma criança de até 11 anos, um aumento de 22,1% em relação a 2023.

Cenário nacional

O estudo aponta que, apesar de uma redução de 4,4% nas mortes policiais nos últimos seis anos (2019–2024), o padrão de violência com viés racial permanece. A Bahia segue com a polícia mais letal do país (1.556 mortes em 2024), enquanto São Paulo apresentou o maior crescimento proporcional (alta de 59,2% em um ano).

“No campo da segurança pública, o racismo e a política de confronto se consolidaram como um par de atração magnética. O Estado mata com base em critérios raciais”, declara Jonas Pacheco, coordenador de pesquisa da Rede de Observatórios.

Em estados como o Amazonas, 90% das vítimas eram negras; no Rio de Janeiro, pessoas negras têm 4,5 vezes mais chances de serem mortas pela polícia do que pessoas brancas.

Falhas de transparência 

A Rede também chama atenção para a falta de transparência dos dados: em 2024, 512 mortes (12,6%) não tiveram informação sobre raça ou cor. O relatório defende que o não preenchimento desse dado seja tratado como falha grave.

Entre as recomendações apresentadas, estão:

  • uso obrigatório de câmeras corporais em todas as unidades policiais;
  • revisão da formação e avaliação dos agentes de segurança;
  • criação de planos estaduais de redução da letalidade policial, com metas e indicadores;
  • vinculação de recursos federais à implementação dessas políticas.

A Rede de Observatórios conta com a participação do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), sediado em Pernambuco, responsável por acompanhar e analisar casos de violência policial e racismo institucional no estado. O relatório é parte de uma iniciativa nacional que reúne grupos de pesquisa e organizações da sociedade civil em nove estados.

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