Pichações do Comando Vermelho se espalham pelo Grande Recife
O Diario registrou pichações de "CV", sigla do Comando Vermelho no Alto José do Pinho, Zona Norte do Recife, e em Olinda e Itamaracá, na Regão Metropolitana da capital pernambucana
Publicado: 30/10/2025 às 13:17
O Diario registrou pichações na comunidade do V8, no bairro do Varadouro, em Olinda. (Foto: Rafael Vieira/DP)
Pichações do “CV” – sigla do Comando Vermelho, uma das maiores facções criminosas do Brasil – estão se espalhando pelo Grande Recife. Novos registros foram feitos na comunidade do V8, no bairro do Varadouro, em Olinda, na Região Metropolitana da capital. Quem passa pela Avenida Pan Nordestina, a PE-15, na localidade, consegue ver a marca do “CV”.
No último mês, o Diario de Pernambuco mostrou que as forças de segurança do Estado estão alerta aos relatos e episódios recentes de violência que atestam a expansão do grupo carioca em Pernambuco, especialmente no Alto José do Pinho, na Zona Norte do Recife.
No último dia 19 de setembro, na demolição do pavilhão B da Penitenciária Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá, no Grande Recife, o Diario também fez registros de pichações do “CV” nas paredes das selas da prisão. Antes de ser desativada, em abril, a Barreto Campelo abrigava 460 detentos.
Alto José do Pinho
O Diario mostrou as primeiras pichações do “CV", observadas no Alto José do Pinho, Zona Norte do Recife, bairro com histórico de disputa por tráfico de drogas. A sigla está espalhada por postes, muros, árvores e até fachadas de imóveis.
Em 18 de setembro, a comunidade viveu um tiroteio que deixou ao menos um ferido. O fato que pode estar ligado à disputa do território entre o Comando Vermelho e outros grupos criminosos. O episódio ocorreu nas proximidades do terminal de ônibus do bairro, onde há uma concentração das pichações de “CV”. Os tiros atingiram casas e obrigaram moradores a se se esconderem para evitar balas perdidas.
Um homem de 27 anos, suspeito de fornecer armas e munição para grupos criminosos do bairro, foi preso no dia seguinte. No interrogatório, ao qual o Diario teve acesso, ele declarou que existe uma guerra pelo tráfico na região, e que as pichações fazem parte da disputa do Comando Vermelho pelo local.
Disputa
Conflitos semelhantes também têm sido registrados em bairros próximos, como no Alto José Bonifácio, Nova Descoberta e Vasco da Gama. O traficante Anderson Correia da Silva, conhecido como Bomba, de 33 anos, foi executado com mais de 20 tiros no último dia 21 de setembro.
Uma mensagem cercada de dúvidas, atribuída apenas ao “Comando Vermelho”, circulou em julho entre os moradores da Zona Norte. Autointitulada “circular oficial”, o texto afirma que o CV “entrou na cidade para ficar” e convoca os criminosos de Nova Descoberta para "rasgar a camisa do errado" – termo usado pelas facções para se mudar para um grupo rival.
"Estamos dando a oportunidade de nos procurar e unirmos forças contra este resto de covardes da G7 que ainda se encontra na região", diz um trecho da mensagem. O G7 é uma facção que atua em Nova Descoberta e no Vasco da Gama.
"A toda população deixamos um abraço e que não se preocupem, pois nossa guerra é contra pilantras e não com trabalhador e pessoas de bem. Lembrando que qualquer pessoa que for identificada dando apoio a outro tipo de facção vai sofrer as consequências", diz o comunicado.
O que diz a SDS
Em nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) afirma que não há registros de domínio de facções nacionais no Estado. Confira a nota na íntegra:
“A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS) informa que não há registros de domínio de facções nacionais no Estado. O que existe são disputas locais entre grupos de traficantes, que, por não serem produtores de drogas, adquirem entorpecentes de fornecedores em regiões do Sudeste e do Centro-Oeste, onde há presença de grandes facções. Eventualmente, aqui em Pernambuco, há prisões de faccionados de organizações conhecidas nacionalmente, mas desde 2023 o Estado mantém a política de isolamento desses presos no sistema prisional, impedindo que eles repassem ordens de dentro para fora.
Sobre o Alto José do Pinho, que integra a Área Integrada de Segurança (AIS) -5, a SDS acompanha as ocorrências e reforçou o policiamento com unidades especializadas da Polícia Militar, como BOPE, Radiopatrulha e Rocam, além de ações de investigação da Polícia Civil, que atua por meio das Operações de Repressão Qualificada (ORQs). Essas operações são precedidas de meses de apuração, com autorização judicial, e têm desarticulado grupos responsáveis por tráfico de drogas e crimes correlatos, não só em Recife, mas em todo o Estado.
De forma permanente, as forças de segurança trabalham de forma integrada no enfrentamento ao crime organizado, com apoio de inteligência e operações conjuntas. Entre os destaques deste ano, estão a Operação Nordeste Integrado, que resultou em mais de 300 prisões em oito estados, e a instalação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) em Petrolina, fortalecendo a repressão às quadrilhas que tentam se expandir para o Nordeste por meio das rotas de armas e drogas.
A SDS reitera que mantém atenção constante às disputas entre grupos criminosos no Estado e atua para impedir a instalação de facções nacionais em Pernambuco. Ressaltamos ainda que os episódios registrados na Zona Norte estão sob investigação e monitoramento. A Secretaria também reforça que preserva o sigilo das informações em prol da efetividade das ações realizadas pelas polícias. Dessa forma, demais dados de inteligência referentes a grupos criminosos são utilizados exclusivamente para subsidiar investigações e ORQs”, divulgou.