° / °
Vida Urbana
PENITENCIÁRIA

Demolição do bloco B revela regalias de detentos na Penitenciária Barreto Campelo

O pavilhão demolido abrigava 38 celas

Larissa Aguiar

Publicado: 19/09/2025 às 19:29

Demolição da Penitenciária Barreto Campelo/Foto: Rafael Vieria/DP

Demolição da Penitenciária Barreto Campelo (Foto: Rafael Vieria/DP)

A demolição do pavilhão B da Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, realizada nesta sexta-feira (19), trouxe à tona detalhes sobre as condições em que os detentos viviam antes da desativação da unidade, em fevereiro deste ano. Durante os trabalhos de derrubada, foram encontrados itens e estruturas que chamaram atenção pela disparidade entre celas.

O pavilhão demolido abrigava 38 celas. Enquanto algumas delas se assemelhavam a cortiços, subdivididas e improvisadas para comportar mais presos, outras apresentavam pisos e paredes revestidos de cerâmica e azulejo, destoando do padrão esperado em uma unidade prisional. O contraste revelava não apenas a precariedade estrutural da penitenciária, mas também indícios de desigualdade no tratamento dado a determinados internos.

Entre os objetos encontrados, estavam preservativos, sabonete e lubrificante íntimos, cola de sapateiro, conhecida por seu uso como droga inalante, bíblias e até suporte para televisão. Nas paredes, anotações de dívidas entre os presos dividiam espaço com pichações que faziam referência a facções criminosas.

Questionado pela equipe do Diario de Pernambuco, o secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco, Paulo Paes, afirmou que parte das condições registradas no bloco B estava relacionada a antigas práticas já extintas. Ele destacou, por exemplo, que uma das celas era a “cela do chaveiro”, uma figura que tinha mais autonomia e responsabilidades dentro da penitenciária, mas que, segundo o secretário, não existe mais no sistema prisional do Estado.

Antes de ser desativada, em fevereiro, a Barreto Campelo abrigava 460 detentos. A decisão de encerrar suas atividades foi tomada em razão das más condições estruturais e da proposta de readequação do sistema penitenciário estadual. O governo informou que um novo projeto para a área de centenas de hectares será elaborado e apresentado nos próximos meses, mas ainda não há definição oficial sobre a destinação do terreno.

Entre os presentes na demolição estava Manoel João da Silva, 55 anos, que cumpriu pena em diferentes unidades do Estado. Ele esteve na Barreto Campelo por dois anos e dois meses, sendo libertado em 1994. Condenado por homicídio, passou ao todo oito anos em regime fechado. Apesar da visita à antiga unidade, disse não carregar sentimentos ao retornar para o lugar, sinônimo de dor.

Para Manoel, a Barreto Campelo foi a pior das três penitenciárias por onde passou, devido a problemas de estrutura e administração. “Esse lugar foi o pior que já passei, tem coisas que prefiro nem lembrar, nunca mais voltei a uma unidade prisional depois de cumprir minha pena”, afirmou.

Ao longo do seu funcionamento, a unidade prisional, acumulou denúncias de superlotação, falhas de segurança e episódios de violência. Com a demolição iniciada, resta a definição sobre a destinação do terreno ocupado pela penitenciária. A proposta, segundo o governo estadual, será divulgada em breve. A expectativa é de que o espaço, ganhe função turística

 

Mais de Vida Urbana

Últimas

WhatsApp DP

Mais Lidas

WhatsApp DP