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Famílias que ocuparam Colégio Americano Batista cobram ação: "Só saímos com moradia":

Prédio do Colégio Americano Batista, na área central do Recife, foi desapropriado pelo Estado em 2023; movimento exige uso social do espaço para habitação popular

Cadu Silva

Publicado: 07/08/2025 às 12:55

Ocupação do Colégio Americano Batista começou esta semana /Rafael Vieira/DP

Ocupação do Colégio Americano Batista começou esta semana (Rafael Vieira/DP)

As pessoas que ocuparam o prédio do Colégio Americano Batista, no Centro do Recife, na segunda (4), cobram uma ações do governo de Pernambuco para a habitação popular.

Os cerca de 900 integrantes do Movimento Moradia Digna e pelo Movimento de Luta por Teto, Terra e Trabalho (MLTT) denunciam a falta de políticas públicas.

Nesta quinta (7), integrantes do movimento fecharam vias no Centro do Recife e provocaram retenções no trânsito, na área da Avenida Agamenon Magalhães e da Rua Dom Bosco.

Em 2023, parte do imóvel foi desapropriada para a construção de um complexo da rede pública de ensino.

Até hoje, no entanto, o prédio continua fechado, sem obras e sem uso.

“A gente entende que moradia é um direito garantido pela Constituição, mas que, infelizmente, não é cumprido. Ocupamos, porque não temos para onde ir”, explicou Davi Lira, do MLTT.

Segundo os organizadores da ocupação, o número de famílias cadastradas no movimento já passa de 900. Mas atualmente, entre os prédios ocupados no terreno, cerca de 500 famílias estão vivendo no espaço.

Muitas delas vieram do como Ibura de Baixo, Brasília Teimosa, Santo Amaro, além de municípios vizinhos como Paulista, Jaboatão e Olinda.

“Tem gente aqui que espera uma casa há mais de 10 anos. Tem idoso, tem criança, tem trabalhador desempregado que paga aluguel com um salário mínimo. Como é que vive assim?”, questiona Pedro Salviano, coordenador-geral do Movimento Moradia Digna.

As famílias relatam que tentaram diálogo com o governo do estado logo após a ocupação. Uma reunião chegou a ser realizada, mas segundo os líderes, não houve proposta concreta de resolução.
Segundo Davi, houve tentativa de intimidação. “Disseram que, se a gente não saísse por bem, sairíamos à força. Mas moradia não é caso de polícia. Quem luta por direito não pode ser tratado como criminoso”, criticou.

A insatisfação aumentou após o movimento ser surpreendido com uma decisão judicial de reintegração de posse.
“Não fomos nem notificados oficialmente. Se a gente não tivesse descoberto por conta própria, o Batalhão de Choque podia ter chegado a qualquer hora”, disse Davi.

Enquanto isso, a vida segue na ocupação. A alimentação é garantida por doações entre os próprios ocupantes, que montaram uma cozinha comunitária improvisada. Cada dia, um grupo é responsável pelas refeições.
Até agora, não recebemos nenhum apoio do poder público. A gente se vira como pode”, contou Valkyria Maria, de 43 anos, que faz parte do MLTT e vive com outras mulheres na ocupação.

O desejo do movimento é transformar o espaço do colégio em um conjunto habitacional. “Esse terreno é enorme. Dá pra fazer escola e moradia. Só precisa de vontade política”, defende Pedro.

O Diario tentou contato com o Governo de Pernambuco, que informou que está mantendo contato com o grupo que ocupou a área.

Veja nota do Governo

A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Estado (Seduh) informa que tem dialogado com os movimentos sociais por meio da Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab) desde o primeiro momento da ocupação do terreno do antigo Colégio Americano Batista, na segunda (4). Buscamos uma solução habitacional viável para as famílias e a desocupação pacífica do imóvel.

Um dos movimentos, o MLTT, já foi contemplado com um terreno doado pelo Estado em Jaboatão dos Guararapes, com capacidade para 200 unidades habitacionais no âmbito do programa Minha Casa Minha Vida – Entidades. No entanto, a entidade ainda não apresentou projeto para seleção pelo governo federal. Também está sendo tratado um terreno em Paulista, na área da Mirueira, com sua destinação aprovada para moradia social por meio do mesmo programa.

É importante saber que o imóvel do Americano Batista foi adquirido com recursos do Fundo Nacional de Educação e, conforme a legislação vigente, será obrigatoriamente destinado à instalação de uma instituição de ensino. O projeto do Estado prevê uma escola técnica para o local. A área estava tapumada e passava por preparação para sondagem do solo.

Em relação às demandas habitacionais, outras áreas também estão sendo disponibilizadas por chamamento público, como parte da política habitacional ativa do governo de Pernambuco, sempre em diálogo com entidades organizadas. Os movimentos de luta por moradia e suas pautas são tratados com seriedade e responsabilidade em Pernambuco, em respeito à legalidade e ao compromisso com o direito à moradia digna.

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